Milícia cometeu ao menos 50 homicídios desde o ano passado
Polícia diz que há desaparecimentos não comunicados pelas famílias
A milícia que foi alvo da operação deflagrada, nesta quinta-feira (4), pela Polícia Civil e pelo Ministério Público do Rio de Janeiro cometeu ao menos 50 assassinatos em Itaboraí desde janeiro de 2018. São cumpridos mandados de prisão preventiva e de busca e apreensão contra 77 acusados de integrar o grupo.
Segundo o promotor Rômulo Santos Silva, do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), o número de vítimas é ainda maior, porque há desaparecimentos que sequer foram comunicados às autoridades pelas famílias, que eram coagidas ao silêncio.
"Conseguimos desarticular bastante a organização criminosa", disse o promotor, que pediu que a população registre os desaparecimentos.
Durante a operação, foram cumpridos 42 dos 74 mandados de prisão expedidos. Desses, 25 foram contra criminosos que já estavam presos e continuavam a participar da organização, inclusive cooptando novos membros entre os detentos do sistema penitenciário. Entre os 93 mandados de busca e apreensão, alguns foram cumpridos em celas, onde foram encontrados materiais como celulares e anotações contábeis.
Entre os denunciados, há quatro policiais militares da ativa e dois ex-policiais militares. Um dos presos, que se identificava como policial apesar de não ser da corporação, tinha acesso a dados internos da polícia e chegava a circular com viaturas oficiais, o que está sendo investigado pela Corregedoria da Polícia Civil.
Segundo o promotor, a milícia foi implantada em Itaboraí como uma "franquia" do grupo liderado por Orlando Curicica, que atua na zona oeste do Rio. Os criminosos foram atraídos pelo possível crescimento que a cidade terá com a retomada dos investimentos no Complexo Petroquímico do Estado do Rio de Janeiro (Comperj).
A expansão foi planejada e coordenada por Orlando Curicica, apesar de ele já estar preso. Quando ele foi transferido para um presídio federal, a liderança passou para outro membro da quadrilha.
Ministério Público e Polícia Civil contam que os milicianos avançaram de forma agressiva sobre o município do leste fluminense, que sofria forte atuação de facções de traficantes. Contando com armamentos e com a estrutura do grupo miliciano de Curicica, a quadrilha cometeu homicídios, mutilações e torturas e, conforme tomava territórios, começava a cobrar taxas semanais de moradores e comerciantes.
Há informações de que até mesmo colégios foram extorquidos, e taxas de corretagem eram cobradas em transações imobiliárias. Os milicianos também expulsaram moradores de suas casas e as venderam. Com todas essas atividades, a renda do grupo chegava a R$ 500 mil por mês.
Uma característica que chamou a atenção dos investigadores foi o fato de que mulheres eram as principais responsáveis pela cobrança das taxas na casa dos moradores. A mãe do miliciano conhecido como Renatinho Problema está entre as pessoas que foram presas hoje.
O delegado Gabriel Poiava, da Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí, disse que os milicianos procuravam os moradores e diziam que estavam combatendo a criminalidade na cidade. "Eles faziam muitas cobranças se identificando como da segurança. Diziam que acabaram com a criminalidade. Poiava pediu que os moradores colaborem com as investigações e procurem as autoridades para fazer denúncias.
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