Médica que aplicou nebulização de cloroquina em paciente com covid que morreu é demitida
A mulher morta após inalar hidroxicloroquina havia acabado de dar à luz. A médica é defensora do "tratamento precoce", com medicamentos sem comprovação de eficácia contra covid-19
A médica ginecologista Michelle Chechter, que aplicou nebulização de hidroxicloroquina como tratamento para covid-19 e deixou ao menos uma paciente morta após o procedimento foi demitida e está sendo investigada pela Secretaria de Estado da Saúde do Amazonas. Michelle trabalhava na maternidade Instituto da Mulher Dona Lindu, em Manaus.
A mulher morta após inalar hidroxicloroquina havia acabado de dar à luz. A Secretaria informou, por meio de nota, que o tratamento não faz parte dos protocolos terapêuticos da unidade de saúde, "nem de outra unidade da rede estadual de saúde, ainda que com o consentimento de pacientes ou de seus familiares". O bebê passa bem.
"O procedimento tratou-se de um ato médico, de livre iniciativa da profissional, que não faz mais parte do quadro da maternidade, onde atuou por cinco dias", disse a nota. A pasta estadual também explicou que "tão logo tomou conhecimento do ato, a Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas determinou abertura de sindicância e o afastamento da profissional".
A morte da paciente foi tornada pública nos últimos dias, mas aconteceu em fevereiro deste ano. A médica passou a fazer parte da equipe em 3 de fevereiro "após contratação em regime temporário pela secretaria junto com outros 2,3 mil profissionais de saúde, via banco de recursos humanos disponibilizados ao Estado pelo Ministério da Saúde", conforme informou a secretaria.
Duas pacientes foram submetidas ao tratamento de nebulização com o medicamento, que não tem comprovação de efetividade contra a covid-19. Ambas assinaram termo de consentimento, conforme foi relatado em prontuário. “Uma das pacientes veio a óbito e a outra teve alta. Todas as informações sobre o atendimento estão registradas em prontuário", relata a Secretaria.
Ainda de acordo com a nota, a pasta e o instituto não compactuam com a prática de "qualquer terapêutica experimental de teor relatado e não reconhecida e entendem que tais práticas não podem ser atribuídas à unidade de saúde, que tem como premissa o cumprimento da lei e dos procedimentos regulares, conforme os órgãos de saúde pública e os conselhos profissionais".
"Tratamento precoce"
Em suas redes sociais, Michelle Chechter mantém um selo com os dizeres "covid-19. Eu apoio o tratamento precoce". Por "tratamento precoce", entende-se o uso de medicamentos sem comprovação de eficácia contra covid-19, como cloroquina e ivermectina.
A médica é ainda apoiadora do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), que também defende o uso desses medicamentos sem eficácia contra a doença.
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