Estudantes pedem novo adiamento, mas datas do Enem são mantidas pelo Inep

Entidades destacam perigo do avanço da pandemia no Brasil

Agência Estado

Entidades estudantis pedem um novo adiamento do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), marcado para os dias 17 e 24 de janeiro de 2021. Realizada em meio à pandemia, a prova tem 5,7 milhões de inscritos em todo o País. Segundo os estudantes, não há condições seguras para a realização do exame. O Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (Inep), responsável pela prova, afirma que a data está mantida.

Em nota conjunta, a União Nacional dos Estudantes (UNE) e a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) afirmam que a realização da prova coloca em risco a segurança "em um ambiente de crescente contaminação". As entidades citam o fato de que milhões de pessoas ficarão em salas de aulas fechadas distribuídas por todo o País.

"Não há confiança por parte de muitos estudantes, seja pelo cuidado com a saúde, muitos em grupo de risco, ou mesmo pelas restrições impostas nos Estados e municípios", afirma a nota. Nas redes sociais, os estudantes também organizam manifestações pedindo o adiamento do Enem. Um "tuitaço" foi realizado nesta quarta-feira, pedindo um Enem seguro.

A prova está marcada para os dias 17 e 24 de janeiro, em um momento em que o Brasil chega perto das 200 mil mortes pela covid-19, com curva ascendente de infecções. Algumas regiões, como o Estado do Amazonas e a cidade de Belo Horizonte, já determinaram o fechamento do comércio por causa do aumento das internações pela covid-19.

Inicialmente, o exame ocorreria em novembro, mas, por pressão dos estudantes e de outras entidades, uma consulta pública foi convocada no ano passado para definir uma nova data. Essa enquete indicou que a maioria dos alunos inscritos preferia fazer a prova em maio de 2021.

Apesar de o resultado da enquete indicar preferência pelo mês de maio, o Inep marcou o exame para janeiro. O argumento foi que, se o exame fosse realizado só em maio, os ingressos no ensino superior ocorreriam apenas no segundo semestre. "Perderíamos o semestre inteiro", argumentou à época o ministro interino da Educação, Antônio Vogel.

O ano de 2020 foi marcado pela desigualdade na educação. Enquanto parte das escolas particulares conseguiu se organizar para oferecer aulas a distância, na rede pública houve dificuldade de garantir o acesso dos alunos às atividades remotas - já que muitos não têm equipamentos - e até mesmo de entregar atividades impressas para aqueles que vivem em zonas rurais ou áreas remotas. Em outubro, 4,9 milhões de estudantes do ensino fundamental e médio não tiveram acesso a atividades escolares.

As desigualdades na educação também são um argumento dos estudantes em defesa do adiamento do Enem. "O que se esperava, desde o início, era que o MEC estivesse na linha de frente, propondo e coordenando um grupo de trabalho, com ações estratégicas e investimentos que buscassem reduzir as desigualdades aprofundadas pela pandemia", escreveram os estudantes. "Tanto essas medidas não aconteceram, quanto os números de contaminações e mortes por covid-19 voltaram a crescer exponencialmente."

A Secretaria da Educação da Bahia também encaminhou ofício ao MEC, no fim do ano passado, pedindo o adiamento das provas do Enem para o mês de maio de 2021. O secretário da Educação do Estado, Jerônimo Rodrigues, aponta o aumento expressivo das taxas de contaminação pelo coronavírus.

Para Rodrigues, não é razoável expor milhões de alunos ao risco de aglomeração e contaminação. Ele também destaca a situação de desvantagem dos estudantes com menor acesso a equipamentos. Na rede estadual baiana, 67 mil estudantes se inscreveram para fazer o Enem. Como outros Estados do País, a Bahia tem alta ocupação de leitos de UTI.

O Inep afirma que a ocupação deve ser de, aproximadamente, 50% da capacidade original das salas onde os participantes realizarão o exame. Para esta edição, devem ser usadas 205 mil salas, em 14 mil pontos de aplicação. Em 2019, o Enem foi aplicado em 145 mil salas de aplicação, em cerca de 10 mil locais de prova.

O uso de máscaras pelos candidatos será obrigatório e estudantes com sintomas ou com a covid detectada não devem comparecer ao local de prova e podem solicitar a reaplicação do exame. "O participante que estiver acometido pela covid-19 ou que esteja com suspeita de contágio deverá fazer a inserção de documento que comprove a condição na Página do Participante", explica o Inep.

Segundo o Inep, esse documento pode ser um resultado positivo para coronavírus, na data de aplicação das provas; atestado ou relatório médico, conforme previsto nos editais do Enem. O documento será avaliado e, comprovada sua veracidade, o participante poderá participar da reaplicação do exame, nos dias 23 e 24 de fevereiro de 2021.

Indagado sobre os pedidos de adiamento do Enem, o Inep divulgou vídeo em que o presidente, Alexandre Lopes, reforça a segurança do exame. "Investimos mais de 69 milhões em medidas de segurança relativas a covid", diz Lopes.

Segundo ele, haverá espaçamento entre os alunos, menos participantes em cada sala e a identificação dos estudantes será feita do lado de fora. Também será disponibilizado álcool em gel para todos os participantes e aplicadores. As salas de aula deverão priorizar a ventilação natural e aeração dos ambientes.

Datas do Enem devem ser mantidas

Inep diz que está preparado para prova em ambiente de pandemia

O presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Alexandre Lopes, disse hoje (7) que o cronograma do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deve ser mantido e que as provas não serão adiadas por causa da pandemia do novo coronavírus.

“Nós nos preparamos para fazer uma prova em ambiente de pandemia”, afirmou Lopes, em entrevista à Agência Brasil. “Temos a segurança [de] que a prova deve ser feita e que as condições de aplicação são adequadas, são as que precisam ser tomadas." Lopes explicou que foram adotadas as medidas necessárias para a aplicação das provas. 

Ele destacou o papel do Enem para o acesso de estudantes ao ensino superior e a estrutura de organização do Inep, que considera capaz de oferecer um ambiente seguro de aplicação do teste. “Há universidades que estão usando exclusivamente a nota do Enem como meio de acesso ao ensino superior, e isso é importante porque, em vez de o aluno sair de casa para fazer várias provas, ele sai para fazer o Enem. Dada a nossa capacidade de organização e o tamanho do Enem –  são 5,8 milhões de pessoas inscritas este ano –, temos condições de oferecer um ambiente seguro de prova que, eventualmente, uma faculdade menor não conseguiria”, enfatizou. 

O número de casos e de mortes por covid-19 vem aumentando no Brasil. De acordo com o Ministério da Sáude, ontem (6) foram notificadas 1.242 novas mortes. Foi o maior número diário desde 25 de agosto, quando foram registrados 1.271 óbitos. Ainda há 2.552 mortes em investigação. Até o momento, o Brasil contabiliza 198,9 mil mortes e 7,87 milhões de casos. 

Nesse cenário, nas redes sociais, ganhou força o movimento #AdiaEnem, compartilhado por professores, estudantes, parlamentares e outros apoiadores. “#AdiaEnem é defender a vida das pessoas. O Brasil está se aproximando das 200 mil mortes pelo novo coronavírus. Não se pode brincar com a vida dos estudantes e de seus familiares”, diz, em publicação no Twitter, a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes).

O exame, que estava inicialmente agendado para outubro e novembro do ano passado, foi adiado após uma série de protestos virtuais.

O Inep anunciou, então, diversas medidas para evitar a contaminação pelo novo coronavírus, aumentando a quantidade de locais de prova e reduzindo o número de estudantes por sala, para garantir o distanciamento entre os participantes. Durante todo o tempo de realização da prova, os candidatos estarão obrigados a usar máscaras de proteção da forma correta, tapando o nariz e a boca, sob pena de serem eliminados do exame. Além disso, o álcool em gel estará disponível em todos os locais de aplicação.

Além disso, quem for diagnosticado com covid-19, ou apresentar sintomas desta ou de outras doenças infectocontagiosas até a data do exame, não deverá comparecer ao local de prova e sim entrar em contato com o Inep pela Página do Participante, ou pelo telefone 0800-616161, e terá direito a fazer a prova na data de reaplicação do Enem, nos dias 23 e 24 de fevereiro.

O Enem 2020 será aplicado na versão impressa nos dias 17 e 24 de janeiro e, na versão digital, nos dias 31 de janeiro e 7 de fevereiro.

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