Entenda a diferença entre racismo religioso e intolerância religiosa

Após perder milhares de seguidores, Anitta diz estar sofrendo de intolerância religiosa

Lucas Quirino
fonte

Os crimes racismo religioso e intolerância religiosa ganharam grande repercussão desde segunda-feira (13), após a cantora Anitta ter perdido mais de 200 mil seguidores em seu perfil no Instagram, por ter lançado um novo trabalho em homenagem ao candomblé, religião da qual é adepta. Mas qual é a diferença entre esses dois crimes? A advogada criminalista e mestra em Direito pela Universidade Federal do Pará (UFPA) Samara Tirza explica.

Intolerância religiosa x Racismo religioso

A intolerância religiosa consiste em uma aversão à prática religiosa, seja ela qual for, mas sem haver subjugação da cor e das raízes da pessoa. Já no caso do racismo religioso, o fator racial é determinante. Não só o exercício da religião é atingido, mas também os povos tradicionais de matriz africana e as comunidades do terreiro, não se limitando apenas à religião.

“Quando eu falo sobre intolerância religiosa, eu estou falando de uma religião que eu não gosto. É só uma prática religiosa que eu não gosto. Mas o racismo religioso, ele está para muito além. Porque os povos tradicionais de matriz africana, as comunidades tradicionais de terreiro, não se reduzem a uma religião. Na intolerância religiosa, eu não gosto da prática de uma religião. No racismo religioso está para muito além, porque são formas muito mais profundas de viver e de estar no mundo. Então, por isso que a gente nomeia como racismo religioso, porque é mais profundo”, esclarece Samara. 

VEJA MAIS

image Pesquisa quer mostrar a realidade do racismo religioso nos terreiros do Brasil; veja como participar
Formulário eletrônico sobre racismo religioso pode ser respondido até julho deste ano

image Gagliasso sofre preconceito ao postar foto com filho em terreiro de candomblé
Vários comentários preconceituosos e de intolerância religiosa foram feitos

image Dia da Umbanda: de Zeca Pagodinho a Anitta, veja famosos que seguem religiões de matriz africana
Dia Nacional da Umbanda é comemorado no dia 15 de novembro, data em que Zélio de Moraes criou a Religião; artistas e celebridades são adeptos à crença

Desmistificar as religiões de matriz africana

Samara pontua que no decorrer da história é ensinado que as religiões possuem uma dualidade divina, e que as religiões de matriz africana representam o oposto de Deus. Logo, ela afirma que as formas de combate estão no fortalecimento da própria educação e desde a base.

“Temos agora uma lei que obriga o ensino da história da África nas escolas. É preciso desmistificar crenças, que foram culturalmente ensinadas para nós, de que são religiões do mal, que só servem para fazer o mal pras pessoas e que pertencem a essa dualidade de Deus e o diabo. A partir da educação a gente consegue desmistificar isso, até porque nem dentro dessas comunidades existe essa figura de dualidade", declara. 

Ela indica que é preciso ter cada vez mais espaço para representatividade desse grupo “a gente ter a representatividade dessas pessoas vestindo as suas indumentárias, usando seus guias, além de respeitar também os espaços em que elas frequentam é de extrema importância. E não só isso, mas é importante também a própria formação constante das pessoas que são responsáveis pela aplicação dessa lei, para não correr o risco de virar uma letra morta”, conclui a advogada.

Polícia Civil

A Polícia Civil do Pará informou que, de acordo com a Legislação, o racismo religioso é um conjunto de práticas violentas que demonstram discriminação, ódio e repulsa em relação a uma religião e seus seguidores. Casos de racismo religioso contra religiões de matrizes africanas são puníveis de acordo com o artigo 20 da Lei 7.716, com pena de reclusão de um a três anos e multa.

"O artigo 208 do Código Penal também é aplicável em casos de racismo religioso contra essas religiões, com pena de detenção de um mês a um ano ou multa. A injúria racial, tipificada no artigo segundo A da mesma Lei, se refere a ofensas contra praticantes de religiões de matrizes africanas, com pena de reclusão de dois a cinco anos e multa", destaca a nota do PC do Pará.

Ainda conforme a PC, para discriminação de outras religiões, o artigo 140, parágrafo terceiro da Lei 7.716 pode ser aplicado. As denúncias podem ser realizadas na Delegacia de Combate aos Crimes Discriminatórios e Homofóbicos (DCCDH) e em qualquer delegacia que não seja especializada, pois o efetivo policial é preparado para atender todo tipo de denúncia.

Lucas Quirino (Estagiário sob supervisão de João Thiago Dias, coordenador do núcleo de Atualidade)

Entre no nosso grupo de notícias no WhatsApp e Telegram 📱
Brasil
.
Ícone cancelar

Desculpe pela interrupção. Detectamos que você possui um bloqueador de anúncios ativo!

Oferecemos notícia e informação de graça, mas produzir conteúdo de qualidade não é.

Os anúncios são uma forma de garantir a receita do portal e o pagamento dos profissionais envolvidos.

Por favor, desative ou remova o bloqueador de anúncios do seu navegador para continuar sua navegação sem interrupções. Obrigado!

ÚLTIMAS EM BRASIL

MAIS LIDAS EM BRASIL