Embrapa solicitará para Anvisa pedido para pesquisar maconha medicinal e industrial no Brasil
Caso seja aprovado, essa será a maior pesquisa científica já realizada no Brasil sobre a Cannabis sativa
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) submeterá um pedido à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para liberação de plantio de maconha (Cannabis sativa) com a finalidade de desenvolver a maior pesquisa científica sobre a planta no Brasil. A Embrapa – uma das mais renomadas instituições científicas brasileiras – tem o intuito de desenvolver as bases científicas e tecnológicas para servir para o futuro estabelecimento de cadeias produtivas nacionais da Cannabis para fins medicinais e industriais, bem como subsidiar políticas públicas e aspectos de regulamentação.
“A ideia da Embrapa é trabalhar com a Cannabis sativa na área agronômica, que é onde a Embrapa tem know how, e atua vinculada ao Ministério da Agricultura, para desenvolver pesquisas de desenvolvimento de cultivares, manejo agronômico, para então subsidiar cadeias produtivas nacionais da Cannabis medicinal e industrial”, destacou a pesquisadora Beatriz Emygdio, responsável pela solicitação.
Atualmente, o Brasil possui uma regulamentação restrita para utilização de produtos medicinais a base da maconha. Aproximadamente 430 mil brasileiros utilizam produtos medicinais com base no canabidiol (CBD) e canabinoides tetrahidrocanabidiol (THC), e há estimativas de que quase 7 milhões de pessoas possam ser tratadas com cannabis medicinal, ou que pelo menos tenham condições médicas amenizadas.
Os pacientes são obrigados a importar os medicamentos ou a importar matérias-primas, o que encarece muito o valor do tratamento. O governo também sofre com a importação destes produtos já que é muitas vezes obrigado por decisões judiciais a custear tratamentos pelos Sistema Único de Saúde (SUS). O desenvolvimento de uma cadeia produtiva nacional da Cannabis sativa daria condições de diminuir os custos dos tratamentos e também de tornar o Brasil em um exportador de matérias-primas provenientes da Cannabis.
“O Brasil tem condições climáticas e grandes vantagens de ter uma produção nacional que poderia ser quase imediata. Bastaria introduzir cultivares de outros países, que não seriam ainda adaptadas, mas poderiam se cultivadas em regiões que tenham condições climáticas parecidas. Isso resultaria na redução da dependência externa, na medida que produção nacional crescesse haveria redução dos custos aos pacientes que hoje tem dificuldade devido ao preço elevado, e ao dólar nesta conversão que é bastante desfavorável”, destacou Beatriz.
Outra possibilidade que a Embrapa também estudará será a aplicação industrial, que utiliza um tipo diferente de Cannabis. “A ideia é trabalhar no desenvolvimento de tecnologias para cadeia produtiva de Cannabis medicinal, e outra linha de desenvolvimento de Cannabis industrial, outros tipos de material genético complementares e diferentes, são quase culturas diferentes”, explica a pesquisadora. “Tem desde o uso em bioplásticos, em indústria automobilística, toda uma parte têxtil de celulose, e vários outros produtos de alimentos”, lista.
“A semente de Cannabis é extremamente rica em ácidos graxos, que é muito explorado na indústria alimentícia, de cosméticos, de óleos essenciais. O Brasil deixa de atuar em um mercado que vem crescendo mundialmente, justamente porque não tem a autorização para fazer uma produção nacional”, explica a pesquisadora.
Com a maconha medicinal e industrial adaptada para essas finalidades, outro benefício seria a produção da planta que poderia ser altamente produtiva por hectare no Brasil, permitindo em terrenos pequenos de 4 ou 5 hectares uma alta produção, com manejo rotativo. Propriedades deste tamanho, geralmente associadas à agricultura familiar, o Brasil poderia gerar com isso a inclusão sócio-econômica de pequenos produtores. Cada propriedade dessa produziria matérias-primas para atender de 30 a 40 mil pacientes. A planta ainda tem potencial para ajudar na recuperação de solos degradados.
A pesquisa envolve a análise dos diferentes quimiotipos de todos os processos de extração. E pretende estudar desde o manejo agronômico e fitossanitário da planta, sistemas de produção orgânicos, agroecológica, pós-colheita, zoneamento de risco climático e produção de novos produtos. A Embrapa está finalizando o pedido com os últimos detalhes adequar a possibilidade de ser aprovado pela Anvisa. O órgão regulamentador não tem um prazo para analisar o pedido.
Palavras-chave
COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA