Bebê de sete meses morre após engolir lagarta; mãe diz que médica 'sentiu nojo' do caso
Mãe afirma que procurou o hospital quatro vezes, mas a criança foi mandada para casa
Um bebê de sete meses morreu após engolir uma lagarta e passar mal em Guarapari, na Grande Vitória (ES). Natalia Gotardo, de 23 anos, afirma que no dia 11 de agosto encontrou o inseto no vômito do filho Enrico Gotardo Ferreira. As informações são do G1 Nacional.
"Quando fui limpar o vômito, eu vi um bichinho preto, que achei até que fosse um pedaço de carne. Na hora que peguei mais de perto, vi que era uma lagarta. Aí meu esposo colocou numa sacola e fomos para o Hospital Materno Infantil Francisco de Assis, o Hifa", disse a mãe.
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A mulher contou que procurou atendimento médico no Hifa para o filho quatro vezes. No entanto, a unidade de saúde afirma que a mãe esteve no local apenas três vezes e que o bebê passou por exames e procedimentos necessários para o caso.
Natalia alegou que uma médica, que estava de plantão, não quis pegar o caso por sentir nojo da situação. "Eu sentei em frente a um corredor, que tinha dois consultórios em frente. Aí a enfermeira da triagem passou o caso para uma médica, dizendo 'doutora, tem um caso em que o menino vomitou uma lagarta e está passando mal' e ela respondeu 'ai que nojo, não quero esse caso, não".
A criança foi examinada por um segundo médico, que entrou em contato com o Centro de Informação e Assistência Toxicológica do Espírito Santo (CIATox). Enrico foi medicado com soro, remédio para controlar vômito e ficou em observação.
Na manhã seguinte, no dia 12 de agosto, o médico decidiu dar alta para o bebê, mas ele precisava fazer um raio-x antes. A mãe conta que teve que esperar pela chegada do profissional que opera a máquina por mais de 3 horas. Natalia diz que outra médica de plantão liberou Enrico e disse que a criança não tinha nada.
O bebê teria continuado vomitando e com febre alta, o que fez ela retornar ao hospital na noite do mesmo dia. Natalia afirma que o médico que atendeu Enrico já sabia do caso. "Meu filho foi atendido por um terceiro médico, que disse que todo mundo já conhecia o caso, que já tinham visto foto da lagarta", disse.
Novamente a criança foi submetida a soro e passou por exame de sangue, urina e outro raio-x. No dia seguinte (13), Enrico foi liberado com medicação para controlar a diarreia e paracetamol para dor e febre. Natalia afirma que foi receitado apenas soro, remédio para vômito e antibiótico, pois os exames de sangue haviam identificado uma alteração nas plaquetas, o que indicaria uma infecção. No entanto, os médicos não souberam responder de onde viria a infecção.
A mãe decidiu voltar ao hospital no domingo (14), pois a criança não apresentava melhora. Natalia conta que outra médica viu os exames do menino e disse que Enrico não tinha nada. "Ela disse que a alteração no exame de sangue era por conta do soro, que alterou as plaquetas. Mas que, como foi outra médica que passou, se eu quisesse continuar, eu poderia."
Na segunda-feira (15), o garoto apresentou uma pequena melhora que seguiu até a quinta-feira (18), quando o bebê voltou a passar mal. Os pais decidiram marcar uma consulta com um médico alergista, com a suspeita de ser intolerância ou alergia à lactose.
"O médico perguntou sobre o caso e eu contei tudo, inclusive sobre a lagarta. O médico se assustou e disse que era para ele estar internado desde o primeiro dia que fomos no hospital. Disse que era um caso inédito, que ninguém nunca viu uma criança que come uma lagarta, então não é uma virose que se manda para casa", lembrou a mãe.
A mãe destacou que, quando o pediatra foi examinar Enrico, ele disse para levar a criança para o Hospital Infantil e Maternidade Alzir Bernardino Alves (Himaba), pois o corpo do bebê estava em estado catabólico.
"Fomos para o hospital e entramos direto para a emergência. Todos viram que ele estava bem ruim. Eu vi os primeiros socorros, eu estava dentro da sala, ajudei a tirar os sapato, as meias... Meu filho não estava mais conseguindo respirar e iam ter que entubar. Aí me tiraram da sala", disse a mãe.
Natalia contou que a médica que atendeu o bebê no hospital perguntou o que tinha acontecido. A mãe disse que explicou o que tinha acontecido e a médica disse que Enrico deveria ter ficado internado desde o primeiro dia pela complexidade do quadro da criança. A mãe contou que, na noite daquele dia, os médicos informaram que Enrico não resistiu e morreu.
Hospital diz que procedimento necessário foi realizado
Hospital Materno Infantil Francisco de Assis (Hifa) afirmou, por meio de nota, que foram realizados todos os exames necessários. "A última consulta aconteceu no dia 14 de agosto, foi feito um novo contato com o Toxcen e novamente adotadas condutas conforme as orientações. A criança permaneceu em bom estado geral, sem alterações nos exames e liberada com orientações. Após esta data, não houve retorno dos familiares ao Pronto Socorro do HIFA", finaliza a nota.
Secretaria de Saúde diz que bebê recebeu assistência
Questionada sobre o caso, a Secretaria de Saúde do Espírito Santo (Sesa) informou, por meio de nota, que o paciente Enrico Gotardo Ferreira deu entrada na emergência do Himaba, na última sexta-feira (19), com quadro gravíssimo.
"O bebê foi assistido pela equipe médica e todos os recursos utilizados para preservar sua vida, mas lamentavelmente o paciente foi a óbito menos de 40 minutos depois que deu entrada na unidade hospitalar", disse a nota.
Em relação ao CIATox, a direção informou em nota que após a análise do caso foi constatado que a lagarta ingerida não se tratava de espécie do gênero peçonhento. A condução clínica do atendimento seguiu sendo realizada pelo serviço que estava prestando a assistência ao paciente.
Caso é investigado pela Polícia Civil
A Polícia Civil informou por meio de nota que foi acionada, no último sábado (20), para o recolhimento do corpo de Enrico no Serviço de Verificação de Óbito (SVO), em Vitória, devido a causa da morte ser suspeita.
O corpo do menino foi encaminhado para o Departamento Médico Legal (DML) da Capital para ser necropsiado e foi liberado para os familiares no Departamento Especializado de Homicídio e Proteção à Pessoa (DEHPP).
Inicialmente, de acordo com a corporação, o caso vai ser investigado pela Divisão Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Guarapari, que aguarda os resultados dos exames.
(*Emilly Melo, estagiária, sob supervisão de Hamilton Braga, coordenador do Núcleo de Política)
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