Bahia tem até fila de jatinhos por conta de eventos de fim de ano

Caraíva e Trancoso, outro distrito de Porto Seguro, são os locais mais concorridos e onde são registradas aglomerações em praças públicas, bares e festas privadas ilegais

Agência Estado

Basta escurecer e o movimento de pessoas em direção à beira do rio e à pracinha da igreja começa em Caraíva, distrito de Porto Seguro, no sul da Bahia, onde não vivem mais de mil pessoas. De lá, só saem quando o dia surge no horizonte, deixando para trás lixo da noitada de aglomeração. Diariamente, o vilarejo tem sido tomado de gente e o fluxo se repete. A população está sete vezes maior com a presença de turistas e as festas ilegais têm ocorrido como se fossem, na verdade, permitidas, mostra reportagem da edição desta quarta-feira, 30, do jornal O Estado de S. Paulo.

Os turistas começaram a chegar depois do Natal e só devem deixar a região depois do réveillon, entre 2 e 3 de janeiro.

Sem a possibilidade de viajar para o exterior, por causa das barreiras sanitárias e emissões de alertas relacionados ao crescente número de casos de covid, o sul da Bahia parece ter sido o destino escolhido pelos viajantes mais abastados - a maioria deles vindo do Sudeste, principalmente de São Paulo.

No topo da preferência, estão Caraíva e Trancoso, outro distrito de Porto Seguro, onde são registradas aglomerações em praças públicas, bares e festas privadas ilegais.

O movimento está tão intenso que entre a tarde e a noite do dia 26 houve engarrafamento de jatinhos e aviões de pequeno porte nos aeroportos locais.

No Aeroporto Terravista, em Trancoso, que só recebe voos particulares ou fretados, 48 aeronaves pousaram só sábado. Em alguns momentos, aviões tiveram de esperar liberação para continuar viagem.

Em Caraíva, os principais pontos de aglomeração são a beira do rio e a pracinha da igreja, margeadas por bares e supermercados que não respeitam o horário de fechamento, às 23 horas, e ficam abertos madrugada adentro.

As casas de luxo também sediam festas, mas, sem contingente para fiscalizar todos os locais, os policiais precisam escolher os mais graves.

Na noite do domingo, Lucas Borges, de 29 anos, presidente da Associação de Nativos, precisou ir à casa de um parente e, na volta, recalculou trajeto. Parecia carnaval no distrito. "Os moradores já não passam mais pela rua, cortam pelos becos, porque é muito lotado, não é seguro", conta.

Caraíva, distrito onde a energia elétrica chegou só em 2007, era considerado um paraíso com praias praticamente isoladas. Na última década, descoberta por famosos e milionários, passou a ser destino certo nesta época do ano - mesmo com a pandemia.

"Tem até pousadas discutindo entre si, porque festa dentro de pousada está acontecendo, o que traz situação deplorável aqui para o vilarejo", diz Agrício Ribeiro, de 50 anos, dono de uma pousada trabalha com metade da capacidade por decisão própria. Pousadas e hotéis têm aval para funcionar com 100% da capacidade - opção feita pela maioria.

Sem casas de eventos abertas, turistas também organizam festinhas clandestinas. "Na realidade, essas pessoas que estão aqui têm muito dinheiro e nenhuma educação", critica Agrício, que vê descompasso entre o incentivo ao turismo pelo poder público e as restrições de funcionamento impostas aos empresários. Resultado: descontrole na rua. "A maioria das pessoas que a gente vê nas ruas são jovens. Vão vir para cá e ficar na pousada, em casa? Não. Vão aglomerar sem qualquer limite."

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