Babá que saltou de prédio para fugir de agressões da patroa diz que ficava sem comer
Raiana Ribeiro revelou que desmaiou após ser atacada porque, além da violência, ficava sem comer no trabalho
Raiana Ribeiro, de 25 anos, que ganhou o noticiário nacional depois que um vídeo que circulou na internet revelou detalhes da tentativa de fuga desesperada do prédio em que trabalhava como babá, em Salvador (BA), e onde foi vítima de agressões da ex-patroa, a empresária Melina Esteves França. Ela pulou do terceiro andar em um ato de absoluto desespero, como único meio de buscar ajuda contra a situação de quase escravidão em que vinha sendo mantida há uma semana.
Raiana esava na casa de Melina havia apenas uma semana, cuidando das filhas trigêmeas dela, com idades de 1 ano e 9 meses. Nesta sexta-feira (3), em entrevista ao portal G1 Bahia, Raiana falou sobre as imagens captadas pelas câmeras do apartamento da ex-patroa, em que ela aparece desmaiada após mais uma agressão. Depois de receber uma sequência de tapas, socos, chutes e puxões de cabelos, ela levanta e se aproxima de uma porta de vidro para respirar.
Mas acaba se desequilibrando e cai novamente, desacordada. Na queda, ela chega a se chocar contra uma das filhas de Melina, que também vai ao chão. O desmaio aconteceu por volta das 6h30 do mesmo dia em que Raiana pulou da janela para fugir do imóvel. Em depoimento à polícia, ela relatou que, além da violência física que sofria, ficava sem comer no trabalho.
“Não tem corpo que aguente ficar sem alimentação, sem beber e ainda recebendo pancada. Eu lembro que minha cabeça começou a rodar e eu ficava sem conseguir respirar direito”, contou a babá. Embora as imagens sejam essenciais no processo que move contra a ex-patroa Melina França, por intermédio do Ministério Público do Trabalho da Bahia, Raiana confessa que não consegue revê-las.
“É um momento difícil porque mesmo lá, dentro vivendo tudo isso em desespero, a gente só queria sair dali. E vendo as imagens, é mais difícil. É muito triste passar pelo que eu passei. Nem eu consigo ver toda hora. Muito importante, mas eu prefiro não estar vendo as imagens”, comentou.
Salto foi tentativa desesperada de pedir ajuda
As agressões, segundo Raiana, começaram depois que ela comunicou a ex-patroa que não trabalharia mais para ela. A babá também contou que a decisão de fugir veio depois que foi trancada por Melina em um dos banheiros do apartamento.
Raiana contou que conversou com Melina por volta das 8h sobre a decisão de sair do emprego. A ex-patroa quis saber se a babá deixaria o local naquele dia, o que a jovem negou. Melina então disse que ela só iria sair depois de uma quinzena, mas Raiana insistiu que deixaria a casa no dia seguinte. A patroa avisa que ela não pode deixá-la sair no dia seguinte porque ela trabalharia, mas a babá fala que não tem como atender o pedido. É quando Melina vira para a funcionária e diz: “Pronto, então amanhã eu vou te mostrar se você vai”, dando início às agressões físicas:
"A senhora me bateu!”, disse Raiana. “E aí? Vai fazer o que comigo?”, desafiou a ex-patroa. Uma terceira pessoa, identificada pelo prenome de Camila, entrou na sala e pediu para que Melina parasse com as agressões. “Mel, olhe para mim! Olhe para mim! Não faça nada com ela!”, disse a mulher. “Eu quero que ela cale a boca. Senão, sai eu e ela daqui em um caixão”, respondeu a empresária.
A terceira mulher que está no apartamento presencia tudo sem tentar impedir a ação de Melina. De acordo com a babá, Camila teria chegado à casa da ex-patroa em 24 de agosto, um dia antes dela ter pulado a janela do apartamento. Mas afirma que não se tratava de outra empregada, embora não saiba dizer qual a relação entre as duas.
MP trata o caso como situação análoga à escravidão
Os vídeos serão utilizados como provas de que Melina mantinha a babá em situação análoga à escravidão e também a agredia fisicamente. “Diante daquelas imagens, que são preliminares, temos indícios de crime de tortura, cárcere privado e o Ministério Público do Trabalho está apurando informações para um inquérito civil referente ao trabalho análogo ao escravo", comentou o advogado de Raiana, Bruno Oliveira.
De acordo com a Polícia Civil da Bahia, além de Raiana, pelo menos outras 11 mulheres registraram ocorrência contra Melina Esteves França. Sete delas são apuradas na 12ª Delegacia Territorial, em Itapuã, e outras cinco na 9ª Delegacia, no bairro da Boca do Rio. Segundo Bruno Oliveira, todas as denúncias relatam as mesmas situações. As mulheres alegam que ela praticava agressões físicas e ameaças, tomava aparelhos celulares, não obedecia horários acertados para o serviço e, em alguns casos, não pagou pelos dias trabalhados.
O caso está sendo investigado pela 9ª Delegacia Territorial, da Boca do Rio.
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