Belém 408 anos: a Flor das Águas como cidade linda e complexa
Belém foi batizada pelo geógrafo Eidorfe Moreira como Flor das Águas. Realmente, poucas cidades do mundo têm sua vida tão fortemente marcada pelas águas! Tradicionalmente fala-se em 14 bacias hidrográficas cortando a primeira légua, do município. Contudo, o Plano Municipal de Saneamento Básico enumerou 47. E há mais, tendo em vista que a metrópole da Amazônia, além do continente, é constituída por 39 ilhas. Destacam-se dois grandes rios: o Guamá e o Maguari, além da Baía do Guajará, e, ao norte, a baía do Marajó. E essa sua condição de cidade marajoara manifesta uma relação de amor, mas também, de aflições.
Amor que se expressa na emoção de falar de suas chuvas, suas praias de rio e aflição quando ocorrem as grandes precipitações e a cidade que tem a metade da área continental constituída por baixadas, é submetida ao que o padre Giovanni Gallo chamou “Ditadura da Água” ao referir-se ao Marajó e à Amazônia.
A Flor das Águas, com um grande manancial de florestas presentes nos continente e ilhas, é uma grande e complexa obra urbanística em construção desde sua fundação em 12 de janeiro de 1616. A cidade contém um acervo de monumentos arquitetônicos que a colocam entre as mais importantes cidades históricas do Brasil.
A metrópole incrustada na floresta, uma realidade que não pode ser simplificada, é movida por esta relação de amor e aflição nas águas. Por isso, grandes desafios para a produção de um futuro que preserve suas belezas naturais e arquitetônicas e inove a paisagem com equipamentos que a modernizem e lhe ofereçam sustentabilidade social e ambiental.
Belém será em 2025 a sede da COP-30, portanto, a capital mundial do debate sobre as mudanças climáticas. O mundo se encontrará em Belém, o mundo encontrará a Flor das Águas, com importantes investimentos para um desenvolvimento urbano que se expresse na tríade: justiça social, respeito à natureza e democracia.
Entre as obras estruturantes de grande importância podemos ressaltar a macrodrenagem e a conclusão da duplicação dos 6,200 metros (seis mil e duzentos metros) da Avenida da Estrada Nova, a macrodrenagem e urbanização da Bacia do Igarapé Mata-Fome, os cuidados com a bacia do Tucunduba e obras complementares na sub-bacia do Igarapé Caraparu, no bairro do Guamá, entre outras.
Vale destacar também a reforma total da Feira do Ver-o-Peso, da Feira do Açaí, do Mercado de Ferro, do Mercado Bolonha e a implantação de um Parque Linear de 5 km, unindo Val-de-Cãs ao Barreiro, no Igarapé de São Joaquim. Tem também o Mercado de São Brás sendo transformado em um dos mais importantes centros de turismo, gastronomia e economia da cidade. E o projeto Saúde Digital e a nova licitação para revolucionar o sistema de limpeza urbana são perspectivas importantes.
Neste janeiro de 2024, entre os muitos presentes, a cidade receberá o Palácio Antônio Lemos, obra do século XIX, que será devolvido, totalmente restaurado, à população de Belém.
Como diz o poeta Chico Sena: Belém acordou a feira que é bem na beira do Guajará [...] Belém és minha bandeira, és a flor que cheira no Grão Pará.
Edmilson Rodrigues, arquiteto e urbanista, é prefeito de Belém.
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