Artigo: Lemos: O Intendente Mecenas
Antônio Lemos, famoso por dotar Belém de modernidades urbanas há mais de um século, foi também um autêntico mecenas das artes plásticas. Personagem indispensável na crônica da história da urbanização de Belém, o intendente Antônio Lemos (1843 /1913), que governou a cidade entre 1897 e 1912, segue festejado como um mito que a cidade não pode esquecer.
Tudo que Belém experimentou de desenvolvimento e modernização urbana, na mudança de século XIX ao XX, fruto de um planejamento visionário, foi obra do intendente. E uma face do intendente (um maranhense chegado a Belém como marinheiro e que virou jornalista, proprietário de jornal e político) volta a ganhar luz agora, quando Belém se prepara para celebrar 408 anos de fundação.
Não é exagero afirmar que a capital paraense não viu posteriormente nada parecido. Sem um ciclo econômico como o da borracha, entre a segunda metade do século XIX e as primeiras décadas do século XX, nunca mais Belém teve um governo com tantos recursos como naquela época, o suficiente para investimentos radicais no cenário urbano e nos serviços públicos.
A crônica e os documentos daquela época revelam que o Intendente “era uma pessoa de refinado senso estético; basta observar nos relatórios as referências ao trabalho desenvolvido na sua administração denotando a preocupação com os aspectos visuais da cidade”, acrescenta a pesquisadora Rosa Arraes em estudo sobre o Palácio Antônio Lemos.
Esse senso estético marcou os espaços públicos com a criação de parques e praças, aberturas de ruas e avenidas, calçadas e limpeza urbana, assim como as artes plásticas. Na época de Lemos, Belém tinha uma intensa atividade cultural e ostentava a incrível quantidade de 65 galerias de arte. Lemos e Augusto Montenegro (governador do Estado na época) usaram o mecenato como estratégias da economia política das suas imagens - seria o que hoje chamamos de marketing político ou de governo.
Lemos era bem relacionado com os artistas locais e internacionais. Encomendou e adquiriu várias obras de arte tanto para seu acervo particular quanto para ornamentar o Palácio da Intendência, “sempre com a ideia de organizar uma grande galeria das artes, com quadros dos mais diversos pintores brasileiros e estrangeiros, que por aqui passaram no período áureo da borracha”, registra Rosa Arraes em seu já referido estudo sobre o Palácio Antônio Lemos.
Entre obras e realizações do governo documentadas em refinados relatórios, estão presentes as iniciativas no campo das artes.
Autêntico “mecenas das artes”, Lemos tinha destacado apreço pela pintura. Em 1908, a Intendência promoveu 17 exposições de 15
pintores nacionais e estrangeiros, entre eles Theodoro Braga, autor da tela A fundação da cidade de Nossa Senhora de Belém do Pará, de (1908), e os italianos Domenico de Angelis e Giovanni Capranesi (os mesmos autores das pinturas dos tetos da Catedral de Belém e do Teatro da Paz), e que também documentaram, na tela “Últimos Dias de Carlos Gomes”, a morte do maestro paulista, Carlos Gomes, em Belém, em 16 e setembro de 1896.
Foi na efervescência cultural do final do século XIX que o Intendente deu inicio à Pinacoteca Municipal. “No Relatório de governo de 1908, Lemos declara a importância que a arte tem na cidade de Belém, destacando, sobretudo as coleções de pinturas, citando quatro grandes nomes que haviam passado por Belém: De Angelis, Whindhop, Barradas e Estrada Em 1908, tanto o palácio do
governo, hoje Museu de Arte e História do Pará, quanto a sede da Intendência tinham suas galerias de arte. Na época, a do município já contava com 52 telas e um elenco de oito renomados pintores. A obra que deu inicia ao acervo do MABE foi a tela Últimos dias de Carlos Gomes, encomendada em 1889.
Geraldo Mártires Coelho é historiador.
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