Trabalhadores criticam o aumento do preço do diesel na Grande Belém
Motoristas de ônibus e caminhoneiros se preocupam com o custo do trabalho
O diesel ficou quase 7% mais caro desde o último sábado, 1, quando o preço do litro, em média, passou de R$ 3,48 para cerca de R$ 3,72. A mudança foi recebida com preocupação por parte de trabalhadores do transporte, que precisam lidar com o custo de viagens e fretes, por exemplo. Na Grande Belém, neste domingo, 2, os postos estavam cobrando por volta de R$ 6,39 pelo litro do combustível. O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese Pará) acredita que o novo aumento deve manter o Pará entre as Unidades da Federação com o maior preço de comercialização do produto nos postos.
O caminhoneiro pernambucano, Daniel José de Lima, de 44 anos de idade, há sete trabalha nas estradas. A notícia do aumento do combustível é, para ele, um motivo de preocupação pela manutenção do seu trabalho. Ele conta como o custo para caminhoneiros autônomos é alto:
"Já é muito difícil para o caminhoneiro autônomo, que tem seu próprio caminhão, subsistir no mercado - não só pelas altas inflações, pelo preço do diesel, mas pelo próprio equipamento, as peças do caminhão, do pneu. As pessoas pensam que a gente faz o frete, tira o do combustível e o resto é lucro, mas não é. A gente tem [todo um custo com] mecânica, elétrica, peça, pneu - e tudo, para um caminhão, é muito caro. Com o preço do combustível, torna-se mais inviável manter um caminhão", comenta.
Acostumado a fazer viagens interestaduais, o caminhoneiro menciona como os impostos sobrecarregam o custo do trabalho e prejudica o lucro dos profissionais:
"Quando a gente abastece 1.000 reais num combustível desse, aproximadamente 350 reais é só imposto, tanto federal como estadual, então a gente deixa de pôr o dinheiro no bolso para poder manter o equipamento para trabalhar, dando a manutenção devida, pagando esses altos impostos", explica.
Daniel Lima também diz que nem sempre o custo é totalmente repassado para o preço dos fretes que faz, pois seria insustentável para os clientes. Ele também observa, a partir do seu tempo de experiência com transportadoras, que existe uma tendência de o mercado ficar mais escasso de caminhoneiros, pois a profissão tem "compensado cada vez menos":
"As transportadoras já estão sentindo dificuldade de encontrar profissionais, porque os velhos estão se aposentando e os novos não querem aderir. A tendência é faltar mais profissionais na área", ele observa.
O pernambucano conta que, em média, gasta de R$ 1.300 a R$ 1.500 para encher o tanque do seu caminhão - o que já pesa no orçamento. Ele também lamenta a falta de incentivos e leis de apoio à categoria: "desde quando você abre a porta da sua casa, tudo ali chegou até você por causa do caminhão. O caminhão gira o mundo, porém, não é valorizado", lamenta.
"Deveríamos ter um incentivo maior do governo. Seria preciso tentar baixar o combustível, tentar estabelecer a lei do preço do frete para que fosse cumprido pelas grandes empresas. Tudo um absurdo para se manter", finaliza o caminhoneiro.
Diferentemente de Daniel Lima, o proprietário e motorista de ônibus de viagem Juarez Santos, de 51 anos de idade, acredita que não tem como evitar repassar o custo do transporte ao consumidor. Ele estima que o novo aumento do diesel vai impactar diretamente o preço dos pacotes de viagens e passagens.
"O diesel impacta na economia de modo geral, tanto no aumento das passagens, no caso dos ônibus, como na questão do abastecimento de alimentos, no caso dos caminhões. O aumento do diesel é uma catástrofe. Aumenta, no mínimo, uns 20% a 30% no valor das viagens. Pode aumentar em mais de 100 reais no preço dos pacotes", ele calcula.
De acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese Pará), o último ajuste no preço médio do litro do diesel comercializado nas refinarias ocorreu em 27 de dezembro de 2023, e, naquela oportunidade, o preço médio do produto vinha de uma sequência de quedas. Na percepção de Juarez Santos, o novo aumento do diesel vai aumentar seu custo com combustível, em média, uns 35%:
"Para encher um tanque desse, vazio, anteriormente, a gente gastava de uns R$ 3.700, e agora subiu quase para R$ 5 mil". Não tendo como arcar totalmente com esse encarecimento, Juarez lamenta: "Não tem como não repassar [ao consumidor]. Infelizmente, tem que repassar pro cliente".
O caminhoneiro, de Minas Gerais, Leandro Moura, de 44 anos, também lamenta o aumento do diesel. Ele diz que costumava pagar R$ 6,24 no litro do óleo, o que consegue rodar aproximadamente 2 Km. Para cruzar a distância entre Minas e Belém, ele teria gastado em torno de 6 mil reais, conforme cálculos aproximados.
O caminhoneiro conta que, entre a categoria, já se ouve rumores de paralisação, como as que aconteceram em 2018 e entre 2021 e 2022, no Brasil. "Só vai piorando as coisas, já tem até uma ameaça de parar a categoria de novo. Tem um zum-zum acontecendo. Se os governantes não tomarem providência, pode ser que aconteça de novo".
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