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Terapias aquáticas dão saúde e qualidade de vida a quem precisa

Família de criança com paralisia cerebral celebra a conquista de cada movimento do filho. Pessoas com Deficiência ganham qualidade de vida por meio de esporte aquático

Camila Guimarães

A paralisia cerebral é uma das doenças mais comuns na infância segundo artigo da Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde (MS), caracterizada por alterações neurológicas permanentes que afetam o desenvolvimento motor e cognitivo. Um dos riscos para a doença é a infecção por meningite que, no Pará, tem cobertura vacinal de 67%, quando o ideal seria de 95%, segundo a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa). A doença acomete Daniel Melo, de 6 anos, paciente do Centro Integrado de Inclusão e Reabilitação do Pará (Ciir) que, por meio de terapias aquáticas, luta pelo desenvolvimento das funções motoras. Também por meio de atividades na água, como a canoagem, outras 20 pessoas com deficiência têm tido a vida transformada.

Neto Melo, comerciante de 44 anos, é o pai de Daniel, que foi diagnosticado com meningite poucos dias após o nascimento. Mesmo sendo o gêmeo do irmão Emanuel, apenas ele se infectou com a doença ainda enquanto estava no hospital. Após uma série de complicações, Daniel acabou desenvolvendo paralisia cerebral. Entretanto, onde muitos enxergariam tragédia, Neto diz que enxerga milagres e aprendizados:

“E eu perguntava para Deus ‘meu Deus, o que que eu vou ensinar pra uma criança portadora de paralisia cerebral?’ Mas tudo que Deus faz é maravilhoso na nossa vida! Durante esses seis anos que o Daniel convive com a gente, nós não ensinamos nada pra ele. Ele que nos ensina”, comenta, maravilhado, enquanto assiste o filho na hidroterapia.

Há três anos Daniel faz terapia na água no Ciir. Antes disso, já fazia o tratamento em outro local. Para a família, os resultados desse tipo de tratamento têm sido visíveis. É um meio de superação e suporte à qualidade de vida do filho:

“Achamos o apoio muito grande aqui no CIIR, porque, graças a Deus, ele ganhou cadeira, a gente tem uma ajuda muito boa. Ele não conseguia fazer alguns movimentos, hoje ele já consegue. Ele estica os braços quando quer abraçar a gente, ele já consegue fechar a mão e segurar um lápis para pintar. Tem sido maravilhoso!”.

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No caso de Daniel, Gladson diz que o ambiente da piscina é propício para atividades que buscam reverter o enrijecimento muscular causado pela paralisia cerebral, promovendo os estímulos corretos:

“Pelo fato de a água ser aquecida, o tratamento ajuda no relaxamento muscular e, assim, a gente consegue trabalhar a amplitude dos movimentos do Daniel, relaxando a musculatura, fazendo um fortalecimento e prepará-lo para outras terapias, onde ele deve chegar com menos rigidez e conseguir realizar melhor os movimentos”.

Prática de esportes inova terapia aquática

Há cerca de cinco anos, algumas modalidades esportivas, como a canoagem e o stand-up paddle, passaram a integrar o rol de atividades terapêuticas de pacientes do Centro de Reabilitação. Por meio do projeto social “Meninos do Rio”, pessoas com os mais diversos diagnósticos, como autismo, paralisia cerebral, paraplegia, entre outros, têm a oportunidade de melhorar a qualidade de vida por meio dos exercícios que ocorrem tanto na piscina como na Baía do Guajará, é o que conta o educador físico João Mário Rodrigues.

“A gente conversou com a nossa equipe multidisciplinar e tivemos essa ideia, já que a gente está de frente para o rio. Além disso, a gente percebeu que, por meio desses esportes, a gente conseguiria trabalhar todas as áreas que trabalhamos na fisioterapia normal. A gente consegue melhorar o tônus muscular, o equilíbrio, a qualidade cardiorespiratória e, ainda mais: promover a interação deles um com o outro e com a natureza. É uma terapia muito mais convidativa”.

João Mário acrescenta que, com a prática do esporte, os pacientes também se sentem mais estimulados a cuidar da alimentação e a manter uma rotina de cuidados mesmo fora do Centro, o que se confirma pela fala de Reginaldo Nascimento, de 63 anos, um dos praticantes da canoagem. Ele conta que teve o pé direito amputado por complicações de diabetes, mas, hoje, diz ter qualidade de vida:

“Eu precisava dessa reabilitação para ser protetizado. Hoje eu sou protetizado e consegui me reabilitar. Faz três anos que participo. Muitas vezes o deficiente físico vive uma rotina de casa, de ficar na cadeira. Mas aqui não. A gente se sente bem. Além da melhora física, a gente tem amigos aqui. É um bem-estar muito grande”.

Helvécio Guerreiro, de 56 anos, diagnosticado com paraplegia plural depois de ter sido atingido por um tiro na coluna há cerca de 15 anos, também transborda vitalidade. Ele atribui o bom ânimo ao stand-up paddle adaptado à cadeira de rodas.

“Eu prefiro o stand-up porque ajuda muito no equilíbrio. Não tenho medo de praticar nem aqui, na piscina, nem no rio. Na verdade é uma satisfação, tira a gente do sedentarismo e eleva nossa qualidade de vida. Isso aqui, pra mim, é vida!”.

Este ano, a primeira remada do ano da turma de canoagem e stand-up paddle estava marcada para acontecer na última quinta-feira, 19, mas, devido ao tempo chuvoso e à forte maresia na Baía do Guajará, os alunos realizaram apenas treinamento nas piscinas, se preparando para uma próxima data.

Belém