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Tecnologia e acessibilidade: pesquisadores de Belém produzem piso tátil com resíduo de pneus

Produto pode reduzir impactos para o meio ambiente revolucionar a indústria da construção civil

Camila Guimarães

Promover a acessibilidade de pessoas com deficiência visual e, ao mesmo tempo, gerar um impacto positivo para o meio ambiente é a proposta do piso tátil, feito a partir de resíduos de pneus, elaborado por pesquisadores da Amazônia, especificamente do curso de Engenharia de Materiais do Instituto Federal do Pará (IFPA), em Belém.

O estudo desenvolveu um piso tátil a partir de resíduos de recauchutagem de pneus - técnica que consiste na retirada da camada externa dos pneus, incorporando uma nova borracha de piso. O processo gera, como resíduo, um material em borracha que normalmente costuma ser descartado pelas empresas que promovem o serviço. Com a reutilização, o produto criado pelos pesquisadores do IFPA gera uma solução que reduz o impacto do resíduo sobre o meio ambiente e possui, ainda, grande potencial de absorção pela indústria da construção civil com o foco na acessibilidade.

image Pesquisadores do IFPA desenvolvem piso tátil com aproveitamento de resíduo de pneus. (Wagner Santana / O Liberal)

A ideia começou a ser desenvolvida ainda em 2013, num projeto de pesquisa coordenado pelo diretor de pesquisa e pós-graduação do IFPA-Belém, professor Laércio Gomes, em parceria com estudantes do curso de Engenharia de Materiais. Com o tempo, os estudos, que começaram com fibras de coco e de caroços de açaí, foram ampliando o leque de materiais:

"O resíduo de pneus só começou a ser pesquisado em 2023, quando a gente implantou o mestrado profissional em Engenharia de Materiais. A gente começou a verificar a dosagem adequada para o uso de resíduos de pneus, fruto de recapagem. Normalmente esse resíduo ia para o meio ambiente de forma inadequada e nós começamos, então, a pensar uma nova finalidade para ele, dentro da área da construção civil".

image Piso tátil desenvolvido no IFPA tem potencial para ser utilizado na indústria da construção civil. (Wagner Santana / O Liberal)

O professor Laércio explica que o projeto conta com doação de resíduos de pneus de empresas da Região Metropolitana de Belém. Ele estima que, por mês, empresas que trabalham com a recapagem de pneus gerem até 500 toneladas do material. Com os testes em laboratório, os pesquisadores estimam ter encontrado a fórmula ideal para que o piso consiga ser introduzido na indústria da construção civil:

"Na produção do piso tátil em larga escala, você tem um fator muito importante que é o transporte, que influencia no custo do produto. O piso tradicional pesa de 2,5kg até 3kg por placa. Já o piso com resíduo de pneus chega a 1,3kg. Além disso, nós atendemos todos os parâmetros normativos de resistências mecânicas, ao impacto, ao choque, ao desgaste", explica o professor.

O piso tátil é produzido dentro do próprio campus do IFPA, em Belém, a partir de equipamentos como betoneira, na qual o resíduo de borracha é misturado com seixo, areia e água. Em moldes plásticos, o material descansa por 24h para endurecer e, aguarda ainda 28 dias para poder ser aplicado em pisos.

Além do aspecto do reaproveitamento, o uso do resíduo de borracha também impacta na diminuição do uso de um recurso natural: a areia. O estudo realiza testes com diferentes porcentagens de substituição da areia por resíduo de borracha, avaliando os aspectos de durabilidade, permeabilidade e resistência:

"Eu percebi uma grande diferença entre a argamassa de referência [a mistura para o piso tátil tradicional] e a com resíduo de pneu, não só na leveza, mas no uso prático. Eu produzo argamassa com 5%, 10% e 15% de resíduo de pneu [o que significa 5%, 10%, e 15% menos de areia na fórmula, proporcionalmente] e tenho peças fabricadas por mim mesma que serão aplicadas aqui no instituto para análise", conta a estudante de Engenharia de Materiais Rafaela Rodrigues, que está na reta final do curso.

image A estudante de Engenharia de Materiais, Rafaela Rodrigues, faz parte da equipe que desenvolve o piso tátil. (Wagner Santana / O Liberal)

 

A expectativa dos pesquisadores é que o produto por eles criado chegue a ser absorvido pela indústria da construção civil, na prática, e passe a ser utilizado fora dos limites do instituto, impactando a realidade de Belém por meio da acessibilidade.

"Esse produto tem que chegar à sociedade para ser uma inovação tecnológica. Hoje, ele está em uma fase bem final dos estudos, com isso ele consegue chegar à indústria e ser aplicado. O nosso objetivo é que durante a COP 30 a gente consiga fazer uma grande exposição desse produto e conseguir uma parceria para que ele possa ser aplicado na cidade de Belém e continuar analisando o quanto ele pode ser benéfico para a nossa sociedade", expressa o professor Laércio.

Em Belém, a Secretaria Municipal de Urbanismo (Seurb) informou que a acessibilidade nas calçadas por meio do piso tátil é uma preocupação: 50 das 66 praças já entregues pela atual gestão dispõem de piso tátil, elemento também presente em projetos de urbanização e reurbanização de vias, como na nova Av. Senador Lemos e Av. Romulo Maiorana, que trouxeram 5 e 2,5 novos quilômetros de piso tátil para a cidade, respectivamente. O Programa de Manutenção das Calçadas Públicas também tem aumentado este número. Somente em 2024, a Seurb instalou 224 metros de piso tátil na Av. João Paulo II; 153 metros na Av. Almirante Barroso; 55m na Av. José Bonifácio (cemitério Santa Izabel); e 45m no entorno do Museu Emílio Goeldi, em Nazaré.

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Belém
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