Rodoviários da Monte Cristo paralisam atividades nesta sexta-feira (17)
Paralisação afeta pelo menos 10 mil passageiros usuários das nove linhas operadas pela empresa
Rodoviários da empresa Monte Cristo, uma das mais tradicionais de Belém, paralisaram as atividades na madrugada desta sexta-feira (17). Eles alegam que estão com salário, tíquete de alimentação e férias em atraso. Na quinta (9), foi feita uma assembleia e um acordo com a empresa, para o pagamento da remuneração de novembro. A semana chegou ao fim e o acordo não foi cumprido, de acordo com os trabalhadores.
A Monte Cristo, como informa o Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários de Belém (Sintrebel), tem cerca de 700 funcionários e opera nove linhas que transportam mais de 10 mil passageiros por dia. Entre as linhas operadas estão as que atendem ao conjunto Marex, CDP-Providência, Pedreira-Nazaré, Pedreira-Lomas e linhas que atendem ao bairro da Sacramenta. Muitos usuários foram pegos de surpresa.
"Isso não é a primeira vez. A empresa sempre vem atrasando os salários e não dá nenhuma satisfação aos trabalhadores. Esta não é a primeira paralisação, já perdemos as contas de quantas foram feitas. Na semana passada, houve uma assembleia e ficou acordado que seria feito o pagamento por linhas até o dia 24, para todos os funcionários. Pagaram só uma linha e depois não pagaram mais", disse o rodoviário e diretor do Sintrebel, Ricardo Gomes.
Ele contou que, na manhã desta sexta-feira (17), os trabalhadores se reuniram novamente com a direção da empresa mas, novamente, não houve acordo. "Então hoje nós cruzamos os braços, e só vamos voltar a trabalhar mediante pagamento de salário e tíquete. Estamos perto do natal, todo mundo quer ceiar com a família, quer ter um natal bom, um alimento, além de poder pagar suas contas, que estão acumulando", reclama o rodoviário. "Nós pedimos desculpa à população, mas que vocês entendam o nosso lado, porque é ruim trabalhar e não receber".
Usuários apoiam decisão dos trabalhadores
Pelas ruas, apesar de muitos terem sido pegos de surpresa, a percepção é de que a maioria das pessoas entende e apoia a decisão dos trabalhadores. "Eu acho que eles estão reivindicando o certo. O trabalhador tem que sustentar a família, é daí que eles tiram o ganha-pão deles, imagine ficar o natal sem receber o salário. Eu dou apoio para eles, claro que quem sofre somos nós, usuários, mas se eu tivesse no lugar deles, faria a mesma coisa, porque hoje em dia o negócio tá complicado", disse o trabalhador de serviços-gerais, Mauro José.
Para a dona de casa Maria Jesus de Almeida, a população deveria cobrar que as empresas rodoviárias de Belém pagassem seus funcionários em dia e fornecessem boas condições para os usuários. "Não dá pra se revoltar contra os trabalhadores, qualquer pessoa que fosse trabalhar sem receber faria o mesmo. Nós temos que cobrar é das empresas, que estão sucateadas, o preço é um absurdo pela qualidade oferecida, e além de tudo isso, ainda não pagam direito os salários", pontuou.
Outras empresas vão atender as linhas operadas pela Monte Cristo
Em nota, a Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana de Belém (Semob) comunica que "...as pautas apresentadas pelos rodoviários da empresa Monte Cristo, referem-se a questões trabalhistas que dizem respeito à relação empregador-empregado. Sensível ao pleito, a Semob acompanha o caso para assegurar que a empresa garanta o pronto restabelecimento da prestação do serviço, inclusive com a aplicação das devidas penalidades, e espera que as questões trabalhistas sejam resolvidas".
"Durante o período de paralisação, para não deixar os usuários desassistidos, a Semob determinou que as demais empresas, com linhas que têm itinerários sobrepostos aos da Monte Cristo, reforcem suas frotas enquanto durar a paralisação", informa a Semob.
"Reflexo do desequilíbrio financeiro", diz Setransbel
O Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belém (Setransbel), por nota, comunicou que "...a paralisação de hoje é reflexo do desequilíbrio financeiro que todas as empresas têm passado, e o descaso com o setor que tem como única fonte de receita a tarifa. Sem o reajuste nos últimos 30 meses, e os sucessivos aumentos de custos do diesel, mais de 60% no período, além do aumento dos salários dos rodoviários, a situação fica insustentável".
"O Setransbel ressalta ainda que sem um equilíbrio econômico financeiro em atualização tarifária, subsídio ou desoneração, não haverá condições de prestar o serviço adequado. O sistema de transporte hoje não tem condições sequer de capacidade de pagamento aos custos atuais. Com a inflação em disparada, os gastos com o diesel, por exemplo, aumentaram 51%, custos esses que somados aos salários correspondem a 80% dos custos operacionais. E que, ainda assim, foram concedidos dois aumentos salariais (5,07% em maio 2019 e 2,5% em outubro 2021), sem qualquer repasse na tarifa", dizia a nota.
Por fim, a nota diz: "O Setransbel se solidariza ao momento atual da economia, entretanto, o colapso financeiro das empresas do setor no Brasil é iminente, em especial nas cidades onde o sistema é custeado exclusivamente pela receita auferida pelo pagamento da passagem, como ocorre no município de Belém e Região Metropolitana".
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