Professor vestido com beca pede ajuda no sinal para fazer doutorado
Ele vende doces para arrecadar fundos que possibilitem a sua pós-graduação e a realização do projeto de construir uma escola em Belém
Os condutores de veículos e pedestres na esquina da rua dos Mundurucus com a avenida José Bonifácio, no bairro do Guamá, foram surpreendidos na tarde deste domingo (5) com uma cena inusitada: um rapaz alto usando uma beca de formatura aproveitava as paradas dadas pelo sinal de trânsito naquele trecho, para pedir a quem passava por ali uma ajuda para a continuidade de seus estudos e para viabilizar o projeto de fundação de uma escola. Em um instante breve na sua atividade no sinal, Mauro Yogama, 37 anos, contou que é um professor licenciado federal e está, como disse, em busca de realizar o sonho dele de conseguir continuar os estudos de mestrado e doutorado na área do teatro e da psicologia.
Sobre o fato de estar nos sinais de Belém buscando recursos para os estudos, Paulo declarou: "A minha frustração de andar com a beca é que quando eu era um mero estudante na minha graduação, eu idealizava que o mundo iria se abrir para mim quando eu tivesse me formado. E aí, mesmo eu estudando na Federal, eu vi que a realidade de uma formação acadêmica hoje em Belém e no Brasil é muito distante do que a gente sonha. A gente rala muito mesmo, em uma faculdade federal e quando a gente se forma ainda tem muito de burocracia e, às vezes, o salário nem compensa todo o esforço que a gente fez. Mas, ao mesmo tempo em que isso daqui é uma crítica social de que hoje em dia a beca pode ser um enfeite, comparado às evoluções das IAs (Inteligência Artificial) e a outros serviços que nem precisam de uma formação acadêmica para ganhar dinheiro, isso também é a idealização do meu sonho de continuar o meus estudos", afirmou Mauro.
O uso da beca tem contribuído para chamar a atenção dos transeuntes para a mensagem de Mauro Yogama. "Acabou sendo uma marca registrada minha, né? As pessoas veem com bons olhos, ajudam também quem quer vencer na vida, e serve até mesmo para não assustar as pessoas, porque infelizmente a pessoa estar com uma cesta (de venda de guloseimas, como a dele) hoje em dia acaba ganhando um preconceito social de malandragem, de ladrão, mas a roupa ajuda nesse sentido da campanha", diz. Em todos os dias da semana, Mauro está em um semáforo diferente na cidade de Belém, em horários diferentes. Mais informações sobre o projeto de Mauro Yogama podem ser obtidas no Instagram @escolalotuss.
Na luta
Ele argumentou que é "das antigas", porque prefere passar por esses princípios de mestrado e doutorado "e de um dia conseguir construir a minha escola aos moldes que eu idealizo". Mauro Yogama pontuou que o ensino de hoje está meio que não acompanhando a evolução do mundo. Para concretizar suas metas, Mauro comercializa paçoca, jujuba e bombons de menta. Ele desenvolve essa venda desde 2022. Tem uma página no Instagram na qual registra a sua jornada, os sonhos e atividades como professor de palestras e visitas nas escolas. Essa página serve, inclusive, como pontuou, "para as pessoas não pensarem que o meu trabalho é um estelionato", e, sim, contribuírem com o projeto dele.
Mauro disse que tem obtido recursos nesse sentido, mas o custo de vida em Belém tem aumentado muito e, então, "fica muito difícil conciliar sobrevivência e sonho, mas eu vou nessa esperança de que algum dia eu consiga ter recursos tanto nas palestras quanto na divulgação da página para conseguir patrocinadores grandes que possam custear o meu projeto", afirmou.
Mauro Yogama é formado em Licenciatura em Artes, pela Universidade Federal do Pará(UFPA). Ele optou em abdicar a vida de professor por um tempo, a fim de ter maior disponibilidade para o projeto e estudar para concurso público. Ele contou que o projeto abrange fazer pós-graduação e construir uma escola "para que se ensine o que poderia ser um complemento para a educação atual, coisas que a educação atual não preza, como a educação psicológica, a área da arte que já está muito defasada aqui, em Belém, as evoluções da IA, entre outras assuntos que a gente pode construir numa escola visionária", afirmou.
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