Pós-Carnaval: médicas detalham os impactos do álcool no fígado e dão dicas para recuperação do corpo
Hepatologista e nutricionista explicam os danos causados pelo consumo excessivo de bebidas alcoólicas e orientam sobre como restaurar a saúde após a folia
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Depois de dias intensos de festa como o Carnaval, o corpo dá sinais de que precisa de recuperação. Entre os órgãos mais afetados pelo consumo de álcool está o fígado, responsável por metabolizar a substância e eliminar toxinas do organismo. O excesso de bebidas alcoólicas pode levar a processos inflamatórios e até causar lesões hepáticas, comprometendo o funcionamento do órgão a longo prazo. Além disso, a desidratação causada pelo álcool pode deixar o corpo mais suscetível a cansaço, dores de cabeça e dificuldades na digestão.
A hepatologista Deborah Crespo alerta que o fígado desempenha uma função essencial no metabolismo do álcool, mas sofre com as consequências do consumo excessivo. “O fígado é um órgão nobre em nosso organismo que tem, entre tantas funções, a de metabolizar o álcool ingerido, gerando como produto uma substância que lhe causa inflamação chamada acetaldeído. O consumo abusivo, seja esporádico ou regular, leva a lesões que podem desencadear tanto a cirrose hepática como também comprometer o metabolismo de vários medicamentos”.
Muitas pessoas acreditam que beber apenas em festas ou finais de semana é menos prejudicial do que o consumo diário de álcool, mas essa ideia já foi refutada pela ciência.
“Durante muito tempo achava-se que o abuso esporádico, aquele que ocorre em finais de semana, poderia ser menos lesivo. Entretanto, a ciência hoje evidencia que este dano pode ser tão grave quanto no consumo regular e diário. Importante destacar para aqueles que acreditam que abusar do álcool em momentos esporádicos de festejos não estarão isentos de riscos, sejam eles pelo efeito tóxico hepático como também pelos perigos associados à perda de controle sobre reflexos e comportamentos sociais”, afirma a médica.
Danos podem ser silenciosos e exigem atenção
Um dos maiores desafios na detecção de problemas no fígado é que a maioria das lesões hepáticas ocorrem de forma silenciosa, sem sintomas claros. Segundo Deborah, muitos associam a ressaca aos impactos do álcool no corpo, mas nem sempre ela é um indicativo confiável. “Aquela famosa ressaca pode ocorrer como alerta, mas não significa que aqueles que se consideram resistentes não estejam, na verdade, mais expostos a quantidades mais tóxicas. Apenas exames laboratoriais específicos podem assegurar o grau de lesão hepática causada pelo abuso de bebidas alcoólicas”.
Ela também destaca que alguns fatores genéticos podem tornar certas pessoas mais vulneráveis a problemas hepáticos. “Lembrando sempre que fatores genéticos também podem favorecer um maior risco de lesão hepática. Isso significa que algumas pessoas podem sofrer danos mais rapidamente do que outras, mesmo consumindo quantidades menores de álcool”.
Quando questionada sobre estratégias para minimizar os danos ao fígado durante o consumo de bebidas alcoólicas, a hepatologista explica que a alimentação pode reduzir a velocidade de absorção do álcool, mas não impede os danos quando há consumo excessivo. “É sabido que o consumo sem a ingestão de alimentos favorece a absorção mais rápida, entretanto, este benefício é fugaz quando ocorre o abuso pela grande quantidade ingerida em pequeno espaço de tempo”. Além disso, as mulheres são mais vulneráveis aos danos hepáticos do que os homens.
“Vale ressaltar a diferença entre homens e mulheres, sendo estas muito mais vulneráveis a lesões com quantidade menor de álcool que os homens. Isso ocorre porque há uma maior concentração de álcool dentro das células femininas, portanto, menor quantidade de álcool já pode levar à lesão hepática”, esclarece.
Hidratação e alimentação equilibrada ajudam na recuperação
A nutricionista Paloma Queiroz reforça que, após um período de exageros, o corpo manifesta sinais claros de que precisa de recuperação. “Dor de cabeça e no corpo, fadiga, vômito e náuseas são sintomas comuns”, afirma. Para amenizar os efeitos do álcool e auxiliar na reidratação, a especialista recomenda o consumo de líquidos como água, água de coco e sucos naturais, além de frutas e vegetais ricos em água, como melancia, melão, abacaxi, morango, alface e pepino. Chás com propriedades digestivas, como os de gengibre e hortelã, também são indicados.
Além da hidratação, certos alimentos podem contribuir para eliminar as toxinas acumuladas no organismo.
“Frutas como abacaxi, mamão, limão e laranja ajudam nesse processo”, explica Paloma.
Muitos foliões recorrem a dietas detox para limpar o corpo, e, segundo a nutricionista, essa estratégia pode ser útil, mas não substitui uma rotina alimentar equilibrada. “As dietas detox funcionam, porém, é importante manter uma alimentação equilibrada com frutas, vegetais, fibras e ingestão adequada de água”.
Para aqueles que exageram no consumo de álcool e querem retomar hábitos saudáveis, o mais importante é evitar mudanças radicais. “É essencial voltar à rotina com uma alimentação saudável e evitar radicalismos. Procurar um acompanhamento nutricional pode ajudar nesse processo”, orienta Paloma.
O impacto do álcool vai além do fígado
A hepatologista Deborah Crespo também alerta para os impactos gerais do consumo excessivo de álcool, que vão além do fígado e podem comprometer a saúde como um todo. “Hoje vivemos uma verdadeira pandemia relacionada a vários abusos alimentares. Sobrepeso e obesidade respondem a fatores metabólicos importantes que levam à inflamação crônica e elevam os riscos de doenças em todas as faixas etárias”.
Ela ressalta que o cuidado com o fígado deve ser contínuo e que hábitos saudáveis ajudam a evitar complicações futuras. “O álcool é apenas um dos fatores que contribuem para o desenvolvimento de doenças hepáticas. É essencial manter uma alimentação equilibrada, hidratação adequada e hábitos saudáveis para proteger o organismo a longo prazo”, finaliza.
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