População quilombola toma 2ª dose de vacina anticovid, em Belém

De acordo com o vacinômetro 810 quilombolas já tomaram a primeira dose da vacina anticovid, em Belém

Emanuele Correa

Nesta terça-feira (14) a Prefeitura de Belém segue com o calendário vacinal, desta vez, para as 231 pessoas quilombolas agendadas para tomar a segunda dose do imunizante Pfizer. A vacinação acontece até às 17h, no Memorial dos Povos, localizado na avenida José Malcher. De acordo com os dados do vacinômetro da Secretaria de Saúde Pública do Pará (Sespa), somente em Belém, 810 quilombolas já tomaram a primeira dose, uma cobertura de 108% - a porcentagem extrapola os 100%. De acordo com a Sespa, podem ser doses extras aplicadas ou outras causas - e 2ª dose 401 pessoas quilombolas, o que corresponde a 53,47% da cobertura vacinal. Em todo o Pará, 60.135 quilombolas já tomaram a 1ª dose da vacina, o que corresponde a 37% da cobertura vacinal. Destes, 29.128 tomaram a segunda dose, ou seja, 17,92% da cobertura vacinal.

A população quilombola tem uma identidade cultural própria e se formaram enquanto grupo étnico, no contexto da escravização de negros e indígenas pelos colonizadores. As pessoas que conseguiam fugir, iam para os acampamentos criados, chamados de quilombos ou mocambos e lá desenvolviam uma economia própria, autônoma e anticolonial, mais próximos às vivências experimentadas na África. Cristivan Alves, é assessor da Malungu que traduzindo significa "Companheiro" e é da comunidade quilombola do Igarapé Arirá, de Oeiras do Pará. Cristivan conta que é importante reconhecer-se quilombola e lutar para a inclusão desta população na prioridade da vacinação, algo que, segundo ele, foi articulado entre a Malungo e o Governo do Estado do Pará

"Junto a Conaq, a Malungo conseguiu isso. Todos os quilombolas da zona urbana poderão ser vacinados. Estamos conseguindo. Muitas vezes acontece de os quilombolas não conseguirem voltar para se vacinar, porque estudam durante a semana, e final de semana voltam para as suas comunidades. Foi muito importante garantir esses direitos dos quilombolas. Para a gente é muita emoção, ter esse direito reconhecido a nível de Pará, mesmo que em alguns municípios ainda sofram com o racismo estrutural, mas a malungo intervém para que reconheçam este grupo prioritário", conta o assessor.

De acordo com os dados cruzados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da Coordenação das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombos do Pará (MALUNGU) Até junho de 2021, o Pará possuía 516 localidades quilombolas, assim, ele ocupa o quarto lugar dentre os estados brasileiros. As comunidades contam com cerca de 250 mil pessoas distribuídas em 50 mil famílias. Estas, em sua maioria, são formadas por crianças e jovens. Cristivan conta que essas comunidades foram diretamente impactadas durante a pandemia: "para todas as comunidades quilombolas, além das perdas devido a covid, pois perdemos 96 quilombolas, tivemos uma perda cultural. A Malungu procurou trabalhar no combate à pandemia nas comunidades quilombolas. A perda dos nossos ancestrais e anciões, foi uma perda na cultura. Por isso Interviu com o Estado para localizar essas comunidades, repassou os dados para fazer esse levantamento populacional para a vacinação quilombola no Pará", potuou.

Cristivan ressalta que é importante reconhecer a identidade quilombola e lutar por politicas de inclusão deste grupo, principalmente, no contexto da saúde e de uma pandemia como a de covid-19: "mesmo quem para - porque não se mora, se para - numa zona urbana, mas se autodeclaram quilombolas. Negro quilombola contribui na sociedade, é fundamental se reconhecer e estar tomando a vacina". E amplia a ressalva: "não só quilombolas, mas a sociedade em si, deve tomar a vacina. Para o combate desta pandemia que nos deixou em estado de choque em todo o pais, o Pará não foi diferente", finaliza.

JoIciane Cantão, 20 anos é natural de Mocajuba. Ela conta que se divide entre Belém e Ananindeua, enquanto trabalha como jovem aprendiz e cursa direito em meio a uma pandemia: "nossa essa pandemia foi e está sendo muito desgastante para a gente, principalmente aos quilombolas. No mundo normal a gente já não tem oportunidade de fazer as coisas, imagina na pandemia. O desemprego, não saber como vai sobreviver, é algo muito difícil. Hoje sabendo que temos todo esse apoio, sabemos que tem pessoas lutando pelo nosso povo. No ônibus eu vinha pensando: 'meu deus, eu estou na segunda dose. Olha tudo o que eu passei e esse povo já passou. É muito gratificante estar tomando a segunda dose O tanto de gente que perdemos... Amigos... Tá sendo difícil, mas avançamos um caminho bem longo", observa a universitária.

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