Pesquisador Mirim: em ano de COP 30, projeto aproxima jovens da ciência e leva consciência ambiental

Em Belém, o Museu Paraense Emílio Goeldi fortalece a educação ambiental com o "Clube do Pesquisador Mirim"

Gabriel Pires

Em um ano em que os olhos do mundo se voltam para a COP 30, que será realizada em Belém, em novembro deste ano, iniciativas locais desempenham um papel fundamental na construção de uma consciência ecológica desde a infância. No Pará, o Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) aposta na educação científica como ferramenta de conscientização ambiental para crianças e jovens com o “Clube do Pesquisador Mirim”. No projeto, os participantes têm a oportunidade de explorar a biodiversidade da região, despertando o interesse pela ciência e fortalecendo a relação entre pesquisa e conservação do meio ambiente.

Para o estudante Natanael Conceição, de 13 anos, esse contato com o mundo da pesquisa tem sido bastante produtivo. “Vai fazer dois anos que estou no projeto. Gosto muito de entender sobre os bichos. Justamente para ver os bichos e aprender um pouco mais sobre eles. Sempre gostei [da área da pesquisa]. Desde pequeno, a minha matéria favorita é Ciência. O projeto ajuda também a entender a área que eu quero trabalhar, que é Medicina Veterinária”, diz Natanael, que está na oitava série do ensino fundamental.

"A gente realiza atividades sobre o curso que a gente está fazendo. Por exemplo, esse ano temos, ainda, o ‘Dia da Ave”. Então, a gente está aprendendo sobre as árvores, alimentação, lendas e entre outras atividades. Também fazemos pesquisa sobre o Museu. Vamos andando e pesquisando. Aprendemos sobre o que as espécies ajudam no meio ambiente, se os animais estão em extinção, se a gente consegue encontrar outros exemplares na natureza e a relação dessas espécies com o homem", relata.

Já para Daniel Franco, de 13 anos, estudante da oitava série do ensino fundamental, a experiência tem sido transformadora. Integrante do clube há três anos, ele conta que o projeto ampliou seus conhecimentos sobre a Amazônia e fortaleceu seu interesse pela biologia. “Aprendi bastante sobre a Amazônia no geral, porque a gente vai aprender sobre animais, sobre plantas e sobre comunidades que vivem por aqui. Eu sempre gostei bastante desse assunto de ciência, então vir para cá foi bem interessante”, diz Daniel.

Além das aulas e atividades práticas, os estudantes também participam de eventos científicos e exposições, compartilhando o conhecimento adquirido com o público. Ao longo do ano, o clube também promove eventos especiais, como trilhas educativas e feiras científicas, ampliando o alcance da iniciativa e envolvendo a comunidade. “O que eu mais gosto são as apresentações que a gente faz quando leva os kits para uma exposição, porque podemos passar o que aprendemos aqui. Acho isso muito divertido”, conta o estudante.

Pesquisa

O coordenador do projeto, o professor Luiz Videira, explica que, desde 1997, o programa leva aos participantes o contato com pesquisas realizadas no Museu e até mesmo oportuniza o primeiro contato voltado às técnicas e procedimentos científicos. Ao todo, já foram mais de 4 mil estudantes envolvidos no projeto ao longo de 20 anos, como lembra Videira. Durante as atividades, realizadas semanalmente, os estudantes envolvidos participam de experimentos e observação relacionados ao tema proposto - por meio de livros, vídeos, jogos e outros materiais interativos que estimulam o interesse pela pesquisa.

Segundo o professor Luiz Videira, coordenador do clube, a proposta é despertar o interesse pela ciência de forma prática e envolvente. Os alunos passam por um processo seletivo e, ao ingressarem no clube, participam de atividades que vão desde visitas guiadas e dinâmicas até a produção de materiais científicos e educativos. “O projeto surge com o objetivo de estimular nos estudantes do ensino fundamental e médio o interesse pela ciência, principalmente nas áreas do Museu, que são: Zoologia, Botânica, Ciências Humanas e Ciências da Terra”, explica Videira.

Imersão

O aprendizado acontece de forma imersiva, com contato direto com pesquisadores e acesso às coleções do museu, como explica o professor. “Primeiro, eles conhecem a instituição e entendem onde vão atuar. Depois, aprofundam o estudo sobre o tema escolhido. Por exemplo, se eles vão trabalhar com aves, então a gente já vai entrar nas características das aves, a morfologia, a relação das aves com o homem, as ameaças, para a gente poder ter um conteúdo, uma informação. Após a gente ter toda essa informação sobre aves, a gente vai ter também contato com pesquisadores”.

O impacto do projeto vai além do aprendizado no dia a dia das atividades realizadas no Goeldi. Muitos ex-alunos seguiram carreiras científicas e hoje atuam como pesquisadores e professores em diversos países. “Temos mais de 40 ex-alunos que hoje são doutores espalhados pelo mundo, em países como China, Japão e Estados Unidos. Além disso, cerca de 15 ex-integrantes do clube estão atualmente na pós-graduação, desenvolvendo pesquisas na área”, destaca Videira.

Formação

A formação proporcionada pelo clube não apenas desperta vocações científicas, mas também fortalece o senso crítico e a responsabilidade ambiental dos participantes. Para o coordenador, esse é um dos principais legados do projeto. Durante o projeto, realizado de janeiro a maio, geralmente, os estudantes são orientados por pesquisadores e técnicos (biólogos, agrônomos, pedagogos, geógrafos, entre outros profissionais). Às vésperas da COP, o professor considera que o projeto é de extrema importância.

“Neste ano, estamos com 150 alunos em quatro turmas com alunos da quarta série do ensino fundamental até o primeiro ano do ensino médio, de escolas públicas e particulares. O clube não se resume só a estimular o interesse pela ciência, mas contribui para a formação de um cidadão com responsabilidade e visão crítica. Saindo daqui eles podem ser políticos, empresários e professores. Ou seja, disseminadores dessas informações, dessas ideias da nossa região e de se tornarem pessoas do bem”, observa Videira.

Ao final do programa, os estudantes desenvolvem um projeto experimental - que sintetiza tudo o que foi aprendido ao longo das aulas do clube. “Eles sentam, discutem entre eles e vão apresentar uma proposta, a gente vai adaptando, vai fazendo ajustes e decidimos qual é o produto que vai representar aquele grupo”. Em turmas de anos anteriores, os participantes já apresentaram folderes, kits educativos, documentários e até cartilhas sobre temas envolvendo a proposta ambiental.

Projeto

Para participar do projeto, as inscrições são abertas anualmente por meio de edital. As informações podem ser obtidas por meio do site do Museu Paraense Emílio Goeldi (www.gov.br/museugoeldi). Para este ano, a seletiva ainda não foi aberta. As vagas são destinadas para alunos da 4ª a 9ª série do ensino fundamental e até estudantes do ensino médio, incluindo tanto escolas públicas quanto privadas da Região Metropolitana de Belém.

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