Pesquisa estuda relação de crianças influencers com mídias digitais

Relacionamento desse público com a tecnologia é cada vez maior e profissionais alertam para possíveis problemas com a autoestima e bem-estar na internet

O Liberal

Os avanços tecnológicos integram cada vez mais a sociedade e provocam diversas transformações, principalmente na denominada  "Geração Z", a primeira que nasceu em um ambiente completamente digital. Essa interação das crianças e jovens com o mundo digital instigou a professora Danuta Leão a realizar um projeto de pesquisa acerca dessas relações.  O objetivo da temática é analisar os vínculos mercadológicos e comunicacionais que a cada dia crescem mais com esse público.

"Na minha tese de doutorado, analiso a midiatização das crianças influenciadoras em Belém. Achei importante abordar a construção do 'eu' a partir das produções e interações das crianças nesse mundo digital", conta a pesquisadora. Desde a graduação no curso de publicidade e propaganda, Danuta Leão desenvolve pesquisas sobre a infância, publicidade e consumo.

Além dessas análises, a questão psicológica passou a preocupar outros profissionais, como Thais Lobato, psicóloga infantil e educadora parental. Para ela, é inevitável que uma criança fique alheia a aparelhos tecnológicos, mas a supervisão dos responsáveis é imprescindível. 

"Atualmente, estamos com um alto índice de crianças influencers e se tornando 'youtubers'. Não podemos dizer que isso é totalmente prejudicial para a criança. Depende como essa criança está sendo conduzida e supervisionada neste meio tecnológico. Existem muitos jovens que, com a orientação dos pais, levam à frente seus talentos de uma forma saudável. Se isso for explorado da maneira correta, torna-se algo divertido. É interessante até para algumas crianças tímidas essa desenvoltura frente a uma câmera", pontua Thais.

A psicopedagoga acrescenta que o convívio nas redes sociais com crianças deve ter uma atenção especial. A necessidade de se padronizar, do consumo excessivo e até mesmo de copiar características de personalidade pode influenciar o psicológico imaturo que a criança ainda tem.

"Frustrações, excesso de raiva e muitas vezes crises de ansiedade podem ocorrer quando o jovem sai das redes e entende que o dia-a-dia não é igual ao da internet. Então vale ressaltar que a criança ainda em desenvolvimento não tem a capacidade para administrar as consequências da exposição da sua imagem, as críticas e comentários maldosos que podem surgir, pois não somente de curtidas vivem as redes sociais. Sem a formação emocional desenvolvida, essas crianças acabam sendo mais suscetíveis a complicações psicológicas graves diante de situações de rejeição e frustrações", conclui Thaís Lobato.

image Sophia se aproxima dos 30 mil seguidores nas redes e esse intenso contato com a fama, ainda cedo, demanda atenção especial, aponta a psicóloga Thais Lobato (Sidney Oliveira / O Liberal)

Trabalho na internet uniu a família

A participação dos pais nesse contexto digital é uma das principais questões levantadas na tese da professora Danuta. A exposição que cada criança sofre em plataformas que originalmente não foram criadas para elas, e sim adaptadas para esse público, é um cenário de preocupação para a pesquisadora. Quem conhece de perto essa rotina é a família da jovem Sophia Gobitsch, de 9 anos.

A blogueira mirim conta com quase 30 mil seguidores nas redes sociais (@sophialgobitschoficial) e recebe um suporte constante para manter a harmonia entre as telas e a rotina diária. "Esse novo momento não é muito fácil para nós. Se a gente deixar, ela fica o tempo todo no celular. Por conta disso, criamos um cronograma que une suas atividades e priorize os estudos", explica a contadora Eriedena Lima, mãe de Sophia.

Durante o período mais rígido do isolamento social causado pela pandemia, Eriedena relembra que a falta de espaço físico da escola intensificou o uso de equipamentos eletrônicos e a fez procurar uma ajuda profissional para lidar com os problemas. "Tivemos muitas situações desconfortáveis com o aplicativo Tik Tok. Foi tão ruim que chegou ao ponto da Sophia pedir para excluir a conta. Com o excesso do uso de redes sociais, ela passou a ter crises de medo, ansiedade e pesadelos horríveis. Então procuramos um profissional para tratar do problema. Fomos orientados a racionar as atividades dela e reduzir o uso de todos os meios digitais", conta.

Essas orientações não se restringem somente às crianças. Para a psicóloga Thaís Lobato, quando um problema toma proporções que vão além do controle, é o momento de união da família para resgatar bons hábitos. "Quando é necessária uma intervenção e controle dos pais para decidirem o que é apropriado ou não para seus filhos, é a hora de todos trabalharem juntos. Impondo os limites necessários e também procurando ajuda profissional. Geralmente, essas crianças buscam aprovação e, por ainda não terem a formação emocional desenvolvida, acabam sendo mais suscetíveis a complicações psicológicas graves diante de situações de rejeição e frustrações" pontua a psicóloga.

A manutenção da saúde mental da pequena Sophia não se restringiu a um consultório médico. Todo o ciclo familiar sofreu modificações para lidar melhor com a diversão da menina e não somente proibir o uso dos equipamentos. "Buscamos aumentar a atenção e começamos a realizar mais passeios em família, noites de jogos e contratamos profissionais para atividades físicas. Além disso, foi de grande importância o retorno das aulas presenciais. Oriento aos pais de crianças que estão presentes em redes sociais que monitorem diariamente a frequência de mensagens e os conteúdos", aconselha a mãe da Sophia.

(Karoline Caldeira, estagiária sob a supervisão de Victor Furtado, coordenador do Núcleo de Atualidades)

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