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'O Gazeteiro': o garoto cego que se tornou símbolo do jornalismo nas ruas de Belém

Manoel Maia, eternizado em bronze, vendia jornais ao lado da irmã e levou informação às ruas da cidade no início do século XX. Hoje, o monumento relembra o papel essencial dos jornaleiros e a importância do jornal impresso

Igor Wilson

Na avenida Romulo Maiorana, um garoto em bronze permanece imóvel, mas atento, oferecendo a todos que passam notícias frescas. É "O Gazeteiro", monumento que poucos belenenses de hoje sabem que representa alguém que existiu em carne e osso: Manoel Maia, um jovem cego que ganhava a vida vendendo jornais pelas ruas de Belém no início do século XX. Quem conta essa história é o escritor e especialista em monumentos Sebastião Godinho, que vê no bronze desses monumentos a memória viva de um tempo em que o jornal impresso era o pulso da cidade.

Manoel Maia foi eternizado em bronze no dia 9 de abril de 1938, quando o então interventor municipal, como era chamado o prefeito na época, Abelardo Conduru, inaugurou uma estátua na Avenida Portugal, no Comércio de Belém, no mesmo dia em que a avenida recebeu oficialmente esse nome. Na escultura, Manoel segura uma edição do jornal O Paraense, o primeiro impresso a circular no Estado, fundado por Felipe Patroni. Mais do que uma homenagem a um jornaleiro específico, o monumento celebra a importância do jornalismo e do papel do “gazeteiro” – um ofício essencial à sociedade belenense da época.

Quem foi Manoel Gazeteiro

Manoel era conhecido por toda Belém. De manhã cedo, era guiado pela irmãzinha, que o conduzia pelas ruas movimentadas do Centro, auxiliando-o na tarefa de vender exemplares que traziam manchetes sobre política, economia, crônicas e as novidades do cotidiano. No início do século, Belém fervilhava com jornais como Folha do Norte, Imparcial e Folha Vespertina, e o trabalho do gazeteiro era vital para que essas publicações chegassem ao povo, democratizando a informação.

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“Na época, havia muitos jornais circulando em Belém. O jornal impresso tinha uma importância muito grande para o desenvolvimento da cidade. O Abelardo Conduru mandou cunhar tudo isso através da figura de Manoel Maia, gazeteiro muito conhecido pela população na época”, recorda Godinho. “Era essa energia contida na imagem do jovem gazeteiro que Conduru queria preservar: a resistência e dedicação de Manoel, um jovem cego que, com coragem e determinação, enfrentava a cidade e suas adversidades todos os dias, ao lado de sua irmã.”

Mudanças de local

Segundo Godinho, a estátua foi encomendada à Fundição Cavina, no Rio de Janeiro, uma coleção de renome, liderada pelo escultor italiano Humberto Cavina, que produziu esculturas para várias cidades do Brasil. Inicialmente, o monumento ficou no Comércio, mas as mudanças urbanísticas acabaram o transferindo para a rua Gaspar Viana, onde permaneceu por muitos anos em frente ao jornal A Folha do Norte - e posteriormente a primeira sede do jornal O Liberal. Em 2007, Duciomar Costa, então prefeito da capital, transferiu "O Gazeteiro" para sua morada atual, em frente à nova sede de O Liberal, na avenida Romulo Maiorana.

“Esses monumentos vêm sendo depredados e furtados ao longo dos anos, como a estátua do Escoteiro, por exemplo. A mudança para frente do jornal O Liberal foi sábia. Se tivesse continuado na área do Comércio, ela também teria sido roubada, provavelmente, para ter o bronze derretido. A vigilância do jornal inibe a ação de malfeitores”, avalia o especialista.

O monumento "O Gazeteiro" continua ali, símbolo de uma época em que a venda de jornais nas esquinas era uma parte essencial do cotidiano urbano. No entanto, poucos que passam pelo monumento conhecem a história de Manoel Maia, o jovem cego guiado pela irmã, que enfrentou as calçadas irregulares, o calor e a chuva, e, com sua voz, contribuiu para informar uma cidade inteira.

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