No ano da COP 30, obras de saneamento trazem mais dignidade para os belenenses
Investimentos em pavimentação de vias e drenagem de canais ajudam a esquecer o pesadelo que moradores viveram no passado
As seis crianças que moram na casa da servidora pública Mariana Soares, 35, na travessa Timbó, bairro do Marco, vivem uma realidade bem diferente da que ela teve quando era pequena. “Enquanto as crianças da minha época brincavam na rua, eu ficava tirando água de dentro de casa, porque qualquer coisa alagava. A minha infância toda era a acordar de madrugada com os meus brinquedos passando ao lado da minha cama, da gente ter que ser acordada e colocada em cima de um freezer, que era o lugar mais alto da casa”, relembra Soares.
Atualmente, a parte mais alta é a entrada da residência. Cerca de um metro acima do nível da calçada. Tudo para evitar que o transbordamento do canal continuasse a causar prejuízos materiais. E era de lá que a também confeiteira presenciou situações dramáticas de retirada de alguns vizinhos no fim da rua. “Lá para baixo, o canal da Leo Martins era famoso pelos alagamentos, tendo até momentos em que a equipe de resgate do Corpo de Bombeiro tinha que vir aqui resgatar moradores que ficavam completamente ilhados fora de casa, porque elas estavam totalmente tomadas pela água”, conta.
A alguns quilômetros de distância do Marco, mais precisamente no Distrito de Icoaraci, a engenheira civil Iasmin da Costa Santos, 26, também tem lembranças difíceis de quando a chuva em Belém provocava alagamentos intermináveis na via onde mora desde os primeiros dias de vida. Uma das recordações mais tristes foi do dia em que precisou colocar os pés na água suja para conseguir chegar em casa.
“Eu retornei de uma consulta com meu filho pequeno e o carro do aplicativo não quis entrar na rua por estar alagada, então tivemos que descer na esquina de casa, ainda chovendo, e pisar na água porque nem calçada tinha para a gente andar”, conta Santos.
As histórias de Mariana e Iasmin não têm em comum apenas a dor de cabeça que o céu nublado causava. Hoje, elas conseguem viver em paz com a natureza durante o inverno amazônico e voltar para casa sem a preocupação com o aguaceiro. As obras que melhoraram a vida delas e de tantos outros moradores fazem parte de um sistema de infraestrutura que também favorece os visitantes que são aguardados para a realização da COP 30, a 30ª edição da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (Conferência das Partes).
Ano novo, rua nova
Atualmente, 15 canais da capital paraense estão em obras. Desse total, 13 fazem parte do pacote de investimentos da COP, a exemplo do canal da Timbó. As obras de asfaltamento e drenagem, bem como a nova Orla de Icoaraci, também fazem parte desse legado. Iasmin conta que a rotina da família deve mudar no ritmo das obras. “Temos mais qualidade de vida agora. Temos praças reformadas aqui dentro do conjunto com brinquedos, bancos, muito bem feitas. Dá até vontade de sair mais de casa”, afirma a engenheira.
O autônomo Raimundo da Costa Nunes, de 63 anos, também perdeu bens materiais por conta dos alagamentos no canal da Timbó. Pensou em vender tudo e morar em outro lugar, mas mudou de ideia e agora vê da porta de casa a transformação da rua. Há pouco mais de um ano ele convive com o barulho das obras, mas se diz feliz porque o som do maquinário representa o início de uma nova jornada. “(O barulho) Incomoda um pouco, mas tá tudo muito bom, muito bom mesmo mesmo, graças a Deus. É um ouro aqui para nós tá tudo pronto”, conta Nunes, morador do bairro há mais de quatro décadas.
O novo canal foi entregue na semana do aniversário de Belém, um presente que a Mariana gostaria que todos cuidassem com carinho. “Enfim, a gente tem algo a comemorar em relação à cidade. Claro que isso não depende só da gestão Municipal ou Estadual, é preciso que a população se conscientize e pare de jogar lixo e entulhos nos canais, senão não adianta nada. Tem que ser uma cooperação, um trabalho coletivo”, enfatiza a servidora.
Cosanpa
Em nota enviada à reportagem, a Companhia de Saneamento do Pará (Cosanpa) informou que, em parceria com o governo do Pará e o governo federal, está construindo a Estação de Tratamento de Esgoto Sanitário do Una, a maior unidade do estado, interligada a uma série de investimentos em saneamento para Belém, como o primeiro sistema de coleta e tratamento de esgoto do Ver-o-Peso. A obra está 83% concluída e os investimentos são de aproximadamente R$ 100 milhões. Após a conclusão, a Estação beneficiará cerca de 90 mil habitantes em Belém.
Além disso, a Secretaria de Estado de Obras Públicas (SEOP) está implementando o total de 59,5 quilômetros de Rede de Esgotamento Sanitário e 10.483 unidades de ramais domiciliares nas obras dos 13 canais que compõem a Bacia do Tucunduba, Una e Tamandaré. Ao todo, os investimentos estaduais em coleta de esgoto e tratamento de água estão orçados em cerca de R$ 1 bilhão.
Palavras-chave
COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA