Naufrágio na Ilha de Cotijuba: ato na praça da República marca 2 anos da tragédia

Familiares das vítimas e sobreviventes do acidente cobram celeridade no processo de responsabilização dos acusados

Camila Azevedo
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Os dois anos de dor pelas perdas causadas no naufrágio da lancha “Dona Lourdes II” foram lembrados em ato na manhã deste domingo (08), em Belém. Familiares de vítimas e sobreviventes da tragédia estiveram reunidos na praça da República para cobrar justiça pelo acidente e fazer com que a memória daqueles que se foram esteja sempre presente. Ao todo, 24 pessoas morreram e o caso aguarda o andamento do processo judicial para responsabilização dos acusados.

A lancha naufragou nas proximidades da ilha de Cotijuba. Ela saiu do Marajó, de um porto clandestino localizado na comunidade de Camarazinho, em Cachoeira do Arari, e tinha como destino final a capital paraense. Ao todo, 87 pessoas estavam a bordo. Conforme apontaram as investigações da época, o comandante da embarcação driblava as fiscalizações realizadas pela Marinha - de acordo com o Tribunal de Justiça do Pará (TJPA), ele responde por homicídio e tentativa de homicídio, estando, atualmente, cumprindo medidas cautelares.

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Segundo os familiares das vítimas e os sobreviventes da tragédia, nenhum apoio foi dado ao longo desse tempo de espera, seja pelo lado da justiça, seja pela empresa responsável pela lancha. José Siqueira, gestor empresarial, perdeu a irmã, Ana Lídia da Serra, que tinha 35 anos, durante o acidente - ela foi, junto com o filho de 2 anos, até Cachoeira do Arari buscar a mãe para realizar uma consulta médica em Belém. Hoje, ele faz parte do movimento que pede celeridade no processo e busca a resolução do caso. 

“Hoje está completando dois anos dessa trágica fatalidade que aconteceu e ainda não foi feito nada, ninguém veio a julgamento, ainda não teve sequer uma audiência, as autoridades, não fizeram nada, largaram os familiares, não deram apoio nenhum. A gente está lutando por justiça, tudo o que a gente quer é justiça”, lamenta José. Ano passado, uma audiência foi marcada, mas, segundo o familiar, o comandante estava respondendo apenas pela morte de 7 pessoas. “E foram 24 mortes. O promotor pediu o cancelamento da sessão”.

A família é natural do Marajó e mora em Belém. Agora, eles aguardam até o dia 1º de outubro, data marcada para uma oitiva que deverá começar a encaminhar o processo. “A minha irmã estava vindo com a minha mãe de Cachoeira do Arari. Minha mãe é idosa, tinha 77 anos na época. O filhinho de lá [irmã] estava no barco também. Eles sobreviveram. Ela, infelizmente, partiu. A gente perdeu uma parte que é sentida até hoje, com certeza. Só quem viveu essa dor, sabe como ela é”, completou José. 

Trauma é sentido dois anos depois de naufrágio

Para Márcia Ribeiro, doméstica de 41 anos, ainda é difícil a rotina depois do acidente. Sem apoio psicológico, ela precisou buscar por conta própria as melhores formas de continuar vivendo depois de sobreviver ao naufrágio. “Até hoje eu tomo remédio para me dormir. Eu choro. Não consigo mais atravessar a Bahia. Quem me conhece sabe, eu não consigo, passo mal. Eu lembro de tudo. De todas as pessoas gritando que não queriam morrer, que queriam viver. Muito triste”, conta.

Márcia estava voltando para Belém depois de passear pelo Marajó quando a lancha naufragou. “A gente quer justiça. A gente quer que ele [comandante] pague pelo que ele fez, porque não foi acidente da natureza, foi um acidente que ele planejou, porque todo momento ele falava para a gente ficar sentado, ficar todo mundo calmo, que não ia acontecer nada. Tu imagina a gente no meio desse mar imenso, não ter um lugar para se segurar. Só mesmo Deus, né?”, diz.

“Quando eu puxei o colete, ele estava se esfarelando na minha mão. Eu não consegui colocar o colete em mim. Eu atraquei na minha cintura. Mas eu vi muita gente morrendo perto de mim. As crianças. Eu lembro das senhoras morrendo perto de mim. Muita criança mesmo”, conclui Márcia.

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