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Movimento da Cabanagem celebra 190 anos mantendo viva luta por direitos sociais

O historiador Michel Pinho, de Belém, relembra a importância do movimento popular para a história paraense

Gabriel Pires
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O movimento da Cabanagem - chamado também de Guerra dos Cabanos  - completa 190 anos nesta terça-feira (7) mantendo viva a luta por direitos. A revolta popular, que se deu na província do Grão-Pará, iniciou no dia 6 de janeiro de 1835, quando a sede do governo da época, localizada em Belém, foi tomada pela população. Foi então que grupos formados por ribeirinhos, quilombolas e moradores de cabanas manifestaram-se contra o governo provincial (hoje formado pelos estados do Pará, Amazonas, Amapá, Roraima e Rondônia) tomaram o poder.

O desejo da população marginalizada em lutar contra a exploração vivida na época foi o que deu início ao movimento popular pelos cabanos, como lembra o historiador Michel Pinho, de Belém. Os participantes da insurreição popular, considerada a maior do País, também lutavam contra desigualdades sociais e políticas impostas pelas elites locais e pelo governo imperial. Eles reivindicavam melhores condições de vida, igualdade social, maior participação política e autonomia em relação ao governo central.

 “A Cabanagem é um movimento que eclode em Belém em janeiro de 1835, mas a insatisfação em relação ao domínio da capital por pessoas ligadas ao Rio de Janeiro, ao interesse de grupos de escravizados em acabar com a escravização e o desejo dessa população pobre lutar contra a exploração que vivia, motivou os cabanos a se revoltarem e tomar Belém em 7 de janeiro de 1835”, relata.

As pautas e os ideais defendidos pelo movimento, de acordo com Pinho, ainda ecoam até hoje na sociedade. O legado deixado por essa luta social ainda se faz presente de forma marcante. Segundo o historiador, a Cabanagem, enquanto movimento político e social revolucionário, marcou profundamente, ao longo de mais de 200 anos, a luta pelos direitos. Foi um símbolo expressivo na defesa dos direitos civis, da igualdade, na oposição a governos absolutistas e na busca por uma sociedade mais justa.

Identidade

Atualmente, a região Norte ainda enfrenta exclusão política e social. E, por isso, segundo o historiador, o movimento pode ser visto como precursor de lutas modernas por inclusão e justiça. “A Cabanagem mostra um processo histórico do início do século XIX marcado pela crença local no sentido da elaboração de uma identidade. E local porque a Amazônia, como um todo, o Grão-Pará era muito vasto. Então, essa região distante do Rio de Janeiro, marcada pela exclusão social e pela pobreza, revoltou-se e encontrou esse modelo de desenvolvimento portado na região sudeste do Brasil”, pontua.

Em meio às manifestações e resistência local, Michel relembra uma das principais mudanças após a insurreição: “Uma mudança muito significativa que vai acontecer é a vinda de um homem chamado Soares de Andréia, que vem impor a ordem imperial, a partir de 1835. Na cidade de Belém, por exemplo, é formado o chamado Corpo de Trabalhadores, cujo objetivo é fazer com que esses homens e mulheres, em especial, passem a ser fiscalizados e explorados do ponto de vista da urbanização da cidade, fazendo aterramento de muitos lugares”.

Atualidade

“O imaginário da Cabanagem é normalmente recorrido a elementos políticos bastante recentes. Em 1985, foi construído o movimento da Cabanagem no Entroncamento por um governo marcado por ser contrário à ditadura militar e identificar a Cabanagem com um movimento de rebelião, de defesa dos interesses cabanos. Depois, temos uma prefeitura estabelecida como uma prefeitura cabana, onde o prefeito então vai se vestir, inclusive, com chapéu de palha, com o objetivo concreto de aliar o movimento cabano a essas camadas populares de Belém ali no final dos anos 90 para os inícios dos anos 2000”, relembra.

No ano em que Belém recebe a COP-30, relacionando passado e presente, a conferência evoca as aspirações e as demandas das manifestações populares - da mesma forma vista na Cabanagem. “A COP não é, necessariamente, um lugar de vozes da população. O evento é feito para que chefes de Estado discutam uma série de questões ligadas a processos de sustentabilidade. O que podemos perceber é que essas manifestações populares vão ecoar justamente pelos movimentos civis, que vão transformar essa pauta em Belém muito significativa”, considera Pinho.

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