Morre em Belém, aos 86 anos, o jornalista Raymundo Mário Sobral
Ele estava internado em um hospital de Belém há quase um mês
Morreu na noite desta quarta-feira (12), aos 86 anos, o jornalista, cronista e colunista Raymundo Mário Sobral. Ele estava internado em um hospital de Belém há quase um mês e faleceu em decorrência de uma pneumonia.
Conhecido por seu humor irreverente e profundo conhecimento da cultura paraense, Sobral dedicou sua carreira à divulgação e preservação das tradições paraenses. Ele atuava como colunista do jornal Diário do Pará, onde conquistava os leitores com sua escrita afiada e sarcástica.
Autor de 13 livros, entre eles o Dicionário Papa Chibé, Sobral foi um dos principais difusores do vernáculo paraense, reunindo gírias e expressões típicas do estado em uma obra de referência. Sua contribuição para o jornalismo também incluiu a fundação, em 1979, do tablóide PQP – Um Jornal pra Quem Pode, que se destacou pela irreverência e crítica social.
Sobral também teve passagem pelo jornal Amazônia, do Grupo Liberal, onde assinava a coluna “Jornaleco”.
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O cartunista J. Bosco, do Grupo Liberal, era amigo de Sobral e lamentou sua morte. Ele relembrou a trajetória do jornalista e destacou sua influência no jornalismo paraense, principalmente no que se refere ao humor e à crítica social. Bosco ressaltou como Sobral abriu portas para novos talentos, especialmente cartunistas, e como seu trabalho era marcado pela ousadia e criatividade. Segundo ele, Sobral tinha uma abordagem única, que equilibrava sátira e informação, tornando suas colunas memoráveis e impactantes.
“Eu cheguei na Marajoara em 1980, levei meus desenhos para ele e comecei a colaborar com o Jornaleco, que era da Província do Pará. Era o maior sucesso. Era um órgão anárquico construtivo. Esse era o slogan da página. E lá tinha trabalho ilustrado, fotonovela, fotomulher, como sai no [jornal] Amazônia e críticas sobre a cidade, mas era bem-humorado. Eu ilustrava essa página. Ele me lançou nessa página”, relembrou o cartunista.
“A partir daí, fui criando uma amizade, até eu entrar na Província e trabalhar diretamente com ele. Ele que me levou. Entrei em 1983. Depois, ele criou o PQP, que era um tabloide. Foi um grande sucesso e durou 30 anos. Eu ilustrava também o jornal. O PQP era uma espécie de ‘boom’ dos nanicos, como o Pasquim. Grandes jornalistas escreviam nele. O Ziraldo mandava desenhos para o PQP, que se tornou uma grande vitrine para jornalistas”, acrescentou.
“Em 1988, vim para O Liberal, mas continuei trabalhando com ele. Ilustrei vários livros dele. Um deles eu fiz a capa: Minha Vida nem Freud Explica, impresso na Imprensa Oficial. Sobral era um símbolo do jornalismo anárquico no Pará”, disse J. Bosco.
“Sobral ajudou muitos cartunistas a se projetarem, e eu fui um deles. Ele sempre trabalhou com humor e crítica. Nunca brigou com políticos, era impressionante sua convivência com todos”, disse. “Ele trabalhou por uns cinco anos no [jornal] Amazônia, nos anos 2000. Sua coluna foi um sucesso. Quando o jornal mudou para o formato berliner, ele continuou. Não aceitou a redução do espaço e foi contratado pelo Diário do Pará, onde sua coluna voltou ao tamanho original”, relembrou J. Bosco.
Sobral também criou a revista Chá de Cadeira, distribuída em consultórios médicos, e assinava a coluna Repórter 69, uma referência à coluna Repórter 70, do jornal O Liberal. “Tudo isso era reflexo da relação de amizade que ele tinha com o seu Romulo Maiorana”, contou.
J. Bosco destacou a relação de amizade com Sobral. “Depois que ele saiu do Amazônia, passei a frequentar sua casa. Nosso contato era mais familiar do que profissional. Não era apenas trabalho, mas também conhecer sua história de vida, sua coragem e empreendedorismo”, concluiu.