Florada dos ipês: plantas colorem o dia a dia em Belém até setembro
Além de ornamentais, os ipês têm diversos usos, garante especialista
A partir do mês de julho, o colorido dos ipês começam a modificar a paisagem de Belém. Com variadas cores, as árvores de importante valor ornamental embelezam vários canteiros e praças espalhados pela cidade, como nos bairros da Cidade Velha, São Brás, Marco e Souza. Até o mês de setembro, é difícil transitar por Belém e não admirar a beleza das flores.
A estudante Sabrina Evangelista, de 28 anos, é moradora do bairro do Marco, e conta que sempre gostou dessa época do ano em que os ipês florescem, fato que está ligado à memória afetiva:
“A minha avó gosta muito de plantas. Sempre que ela via uma planta bonita, ela queria ter. Com os ipês não é diferente. Na nossa antiga casa, tinha um ipê pequeno, mas infelizmente ficou para trás quando eu tive que me mudar”, ela conta.
Na família de Sabrina, a admiração pela árvore também já atravessa gerações: ela diz que a filha, Sofia, de oito anos, também fica encantada com as flores que brotam nas árvores nessa época.
Para Sabrina, a presença de plantas como os ipês na cidade não é algo supérfluo, mas um importante cuidado paisagístico que deveria ser mais valorizado: “Deveria ter mais lugares em Belém com árvores como o ipê. Às vezes a gente vê tanto lixo espalhado pelas ruas… É um alívio olhar e ver algo belo. A gente precisa olhar para a nossa cidade e gostar do que está vendo”, afirma.
Ipês têm importância ambiental na cidade
O doutor em botânica, Felipe Fajardo, também coordenador da Pós-graduação em Ciências Biológicas da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra) e do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), explica que os ipês são, na verdade, uma grande variedade de espécies popularmente agrupadas sob o nome “ipê”, gênero que tem variedades espalhadas por todo o continente americano.
“No Brasil, os ipês ocorrem em todos os biomas, como o amazônico, o cerrado, mata atlântica, pampa… Porém eles preferem os climas mais quentes, por isso eles se dão bem na nossa região”, comenta o especialista.
Felipe conta que, da grande variedade de espécies de ipês que existem, cerca de 40 ocorrem no Brasil, sendo 15 exclusivas do país e 26 que ocorrem de forma natural no Pará. Na natureza, mas em especial no ambiente urbano, essa árvores acabam tendo uma função ambiental:
“Nessa época de florada, os ipês trazem também os visitantes florais, que são as abelhas e os beija-flores, por exemplo, atrás do néctar das flores. E, após a floração, o ipê frutifica. É um fruto bem característico, como uma espécie de vagem, que carrega sementes aladas. Elas se dispersam no vento - o que é algo extremamente positivo, porque facilita a propagação do ipê e a pessoa pode aproveitar essas sementes liberadas na cidade para produzir suas plantas”, informa.
Ipês podem ser cultivados em vasos e jardins
Felipe Fajardo diz que os ipês não são plantas exigentes, que demandam um cuidado muito específico para o cultivo. No entanto, é preciso que a pessoa tenha consciência sobre a espécie de ipê que pretende plantar e o espaço que tem disponível para o bom desenvolvimento da planta.
“O vaso, por exemplo, precisa ser condizente com o tipo de ipê que você compra, para que a planta não definhe ou deixe de atingir seu potencial. Mas em um terreno, a pessoa tende a conseguir mais sucesso no cultivo”, avalia o professor.
Felipe também diz que os ipês, em geral, tem um crescimento relativamente rápido, variando de acordo com alguns fatores, como o solo, o clima e a espécie. Mas, comumente, a planta chega a crescer três metros em dois anos.
“Com três metros já pode se aproximar da fiação elétrica e isso é ruim. Por isso é recomendado que os ipês sejam plantados em avenidas ou praças. O mesmo cuidado vale para a pessoa que planta dentro de casa. Além disso, outro fator que promove o sucesso ou insucesso do cultivo é a exposição ao sol: os ipês são heliófilas, amigos do sol, então se eles ficarem à sombra, podem não atingir a exuberância que a gente está acostumado a ver e gerar alguma frustração”, adverte.
Além da beleza, ipês têm diversos usos
Além do embelezamento, Felipe garante que os ipês têm várias outras utilidades, tanto alimentícias, quanto medicinais:
“Hoje em dia a gente tem uma literatura consolidada a respeito do uso comestível e medicinal do ipê. O uso comestível geralmente é da flor. Mas a gente não recomenda que a pessoa pegue qualquer parte da planta para tentar consumir, e que ela se informe sobre a forma correta do preparo, o que é muito importante”.
A madeira do ipê também é bastante valorizada para a construção de móveis. Segundo o especialista, ela possui características desejáveis como a grande durabilidade e a resistência à água. Além disso, são plantas de fácil manejo para o reflorestamento: “O ipê é como se fosse um pacote completo de coisas boas”, conclui o especialista.
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