Estado tem primeiro detento a concluir graduação no Norte
Jacob Soriano, 35, que cumpre pena no PEM1, em Marituba, é o primeiro a concluir um curso superior. Na última sexta, ele defendeu seu TCC em Ciências Contábeis.
"Por intermédio da educação, as portas da minha mente foram se abrindo para dar liberdade para a bondade que existia no meu coração. Pela educação, a gente começa a se conhecer um pouco e conhecer o mundo de oportunidades que existem em nosso redor". A afirmação é de Jacob Soriano, de 35 anos. Na manhã de sexta-feira (14), ele defendeu, em Belém, o seu Trabalho de Conclusão de Curso em Ciências Contábeis. E foi aprovado. O TCC abordou as contribuições da microeconomia para o empreendedorismo. No TCC, ele destacou a importância dos estudos e pesquisas acerca do empreendedorismo no Brasil e a presença de jovens nesse meio. Segundo eles, índices mostram que esta realidade é muito presente no Brasil. "Esse alto número de empreendedores contrasta com o grande número de empresas que quebram em até dois anos. Isso ocorre porque, para empreender, não basta só o entusiasmo, mas também a capacitação e o estudo. De 2012 e 2014, 77% das empresas falindo com até dois anos de funcionamento. Meu trabalho traz soluções para os problemas nessa área", disse.
Detalhe: Jacob está preso há dez anos no regime fechado no Presídio Estadual Metropolitano I (PEM I), no Complexo Penitenciário de Marituba, na região metropolitana de Belém. Segundo a Superintendência do Sistema Penitenciário (Susipe), ele é o primeiro interno do regime fechado, na Região Norte, a concluir um curso superior, com a defesa do TCC. "Esse momento é como se fosse um divisor de águas. Uma nova etapa. A realização de um dos meus sonhos, que era ter a minha formação e servir de inspiração para outras pessoas também realizarem os seus sonhos. Eu alimentava o sonho de ser um inspirador para as pessoas mudarem de vida, e superarem as situações difícieis que enfrentam. Quando tive a oportunidade de cursar a faculdade, entendi que era esse o meio. A partir do momento em que tive contato com a educação, dentro da casa penal, começou a ser uma força para dar vazão às coisas boas que tinham dentro de mim", contou.
Jacob parou de estudar na 1ª série do ensino médio. No PEM I, ingressou nos projetos de reinserção social e remição de pena por meio do estudo. Ele se matriculou na modalidade de Ensino de Jovens e Adultos (EJA). Após concluir o ensino médio, em 2015, realizou o Exame Nacional do Ensino Médio (enem) e, assim, conquistou uma bolsa de estudos por meio do Programa Universidade para Todos (Prouni) em uma faculdade particular de Belém na modalidade Educação a Distância (EAD). Durante quatro anos, Jacob saia de 15 em 15 dias da unidade prisional, sob monitoramento eletrônico, para realizar as atividades do curso de Ciências Contábeis, do qual foi aprovado. Exceto nesses dois dias ao mês, o reeducando realizava todas as tarefas e estudos dentro do cárcere. Além de estudar, faz trabalhos religiosos dentro da casa penal.
Meta da Susipe é colocar 3 mil internos estudando
Jacob disse que a ideia do tema do TCC surgiu por ele lidar com pessoas que, ao sair da casa penal, vão encontrar dificuldades de lidar com o emprego formalizado. "O empreendedorismo é uma maneira autônoma em que a própria pessoa dar início ao seu negócio. O próximo passo é pesquisar uma área para fazer pós-graduação", contou. Ele afirmou que dois pilares o mantiveram de pé no cárcere: "O primeiro é a fé em Deus. E o segundo, a educação". Um dos momentos mais difícieis foi uma rebelião na casa penal, quando ele já estava no PEM 1, que ocorreu em 2015. "Apesar de nem todos os internos se envolverem, fica o clima tenso de rebelião. E, no final de tudo, existe uma disciplina", afirmou.
Para os que estão no cárcere, Jacob tem uma mensagem. "A priori, tudo é possível para Deus. A todas as pessoas que se encontram nesse momento difícil, de prisão... O próprio Deus fala que devemos clamar por ele na nossa angústia e ele vai nos responder. E que ela (a pessoa) venha se esforçar cada dia mais e galgar posições na educação dentro da casa penal , porque traz resultados", afirmou. Ao deixar o cárcere, o que ele acredita irá ocorrer dentro de 12 anos, pretende trabalhar de maneira autônoma no ramo da contabilidade. "E, ao mesmo tempo, ser um líder espiritual", afirmou.
Atualmente, 1.651 internos estudam no sistema penitenciário do Pará. "Esse número está na média. Mas o objetivo da reinserção social da Susipe tem como meta colocar 3.000 internos estudando", disse Patrícia Sales, coordenadora de educação prisional da Diretoria de Reinserção Social da Susipe. Os principais projetos de remissão de pena pela leitura são "Leitura que liberta, alfabetização/tempo de ler, Educação de Jovens e Adultos/EJA, educação superior no modo EAD, Arca da Leitura, cursos de formação inicial e continuada/profissionalizante", acrescentou. Segundo Patrícia, a educação no cárcere é aporta para reinserção da pessoa privada de liberdade. "Toda pessoa encarcerada que estuda dificilmente se envolve em motins e reincidência no crime, pois a educação lhes transforma em cidadão consciente do seu lugar na sociedade", afirmou.
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