Estação do Bonde de Belém é tapada com concreto

O casarão histórico onde fica o bonde de Belém, na avenida Portugal, teve as portas e janelas tapadas com concreto. O acesso à Estação Gumercindo Rodriguez, um museu dedicado a esse modelo clássico de transporte da capital já estava com sinais evidentes de abandono. Agora está definitivamente inacessível. A medida, segundo a Prefeitura de Belém, era para conter o vandalismo que assolava o patrimônio histórico. Essa atitude vem sendo criticada nas redes sociais digitais.

"Toda a cidade está abandonada. O patrimônio é uma parte disso. Mas tapar um museu para conter o vandalismo é assumir que o local estava abandonado. Se estivesse vigiado, protegido e com uso, não estaria assim. Antes tinha uma pessoa que monitorava e recebia visitantes. Nem isso havia mais. A sensação é de tristeza mesmo", critica a pós-doutora em Geografia Maria Goretti da Costa Tavares, professora da Universidade Federal do Pará (UFPA).

LEIA MAIS

Conheça a história do bonde de Belém, agora escondido por concreto

Abandono do patrimônio histórico de Belém preocupa população e especialistas

Cidade Velha e esquecida

Dez patrimônios de Belém em risco

O fechamento do museu do bonde, para a professora, representa o grau de desprezo pelo patrimônio histórico de Belém. E se soma a outros casos que ela cita como exemplos de abandono: o furto de estátuas da praça que fica em frente ao Mercado de São Brás e da praça Dom Pedro II, que fica em frente à prefeitura.

Algumas pessoas levam as peças de bronze para transformar história e arte em alguns reais. Goretti afirma que se isso é uma prática conhecida e constante, a Guarda Municipal deveria se fazer presente dia e noite onde há peças valiosas e em metais nobres. Sem essa proteção, Belém e a população apenas perdem parte da história.

Goretti cita que a praça Batista Campos só tem esse zelo porque há uma parcela da sociedade que cobra, que se faz presente e usa o espaço. Tanto que existe uma associação de amigos da praça, levando a relação entre a praça, as pessoas e o poder público a outro nível. Com essa observação, cobra que a sociedade se faça ativa na preservação, uso e cobrança de proteção ao patrimônio. Do contrário, outros locais terão o mesmo fim que a Estação Gumercindo Rodriguez.

"Palacete Pinho, por exemplo. Seis anos de restauro e não deram uso. A UFPA pediu para realizar algumas atividades e a prefeitura não cedeu. Está abandonado e já com problemas de conservação. Não é diferente do museu do bonde, que era um local importante, de passagem de pessoas. E se a prefeitura ainda está pensando numa destinação adequada ao espaço, já anunciou a morte de um museu", lamentou a professora.

Em nota, a Prefeitura de Belém informa "...que fechou, temporariamente, o prédio que abriga o bondinho para evitar a ação de vandalismo no local que depredavam e furtavam peças estruturais. A Prefeitura ressalta que segue com rondas periódicas, feitas pela Guarda Municipal de Belém, em todo o perímetro. A Prefeitura ressalta, ainda, que trabalha no projeto de reforma e destinação do espaço".

Os jornalistas da Redação Integrada de O Liberal foram impedidos de acessar o interior do prédio, para registrar o que o havia sido vandalizado e depredado. Nem a prefeitura informou o tamanho do prejuízo e o que seria necessário investir para recuperar a estação. Muito menos quando esses trabalhos seriam feitos. Enquanto isso, outro símbolo histórico da capital, que fica em frente ao museu do bonde está destruído pelo vandalismo e ação do tempo: a placa em homenagem aos fundadores de Belém.