Dia do Professor: mais de 80 mil professores cumprem missão de ensinar e aprender no Pará

No mês dedicado aos docentes, profissionais reforçam compromisso com a formação de cidadãos

Eduardo Rocha

O que professores e estudantes têm em comum? A vontade de sempre aprender e compartilhar o conhecimento adquirido. Por isso, em outubro, quando transcorre o Dia Mundial do Professor (dia  5) e o Dia Nacional do Professor (neste sábado, dia 15), não custa nada assimilar um pouco mais da vida por intermédio desse personagem singular que dá vida às escolas e à formação de todos os profissionais no mundo.

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No Pará, atuam 60 mil docentes nas redes públicas municipais e estadual. São 22 mil docentes na rede privada, da educação infantil até as universidades. No âmbito federal público, a Universidade Federal do Pará (UFPA) reúne 2.906 professores; a Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), 525; a Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), 474;  a Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), 466, e o Instituto Federal do Pará (IFPA), 1.368 docentes.

Nesse universo de professores no Pará, está o professor, sociólogo e pedagogo Asarias Favacho de Freitas, 53 anos. Ele contabiliza 26 anos como professor e atua na Sala de Informática Educativa e na Educação de Jovens, Adultos e Idosos (EJAI) da Escola Municipal Alfredo Chaves, no bairro do Cruzeiro, no Distrito de Icoaraci. Para Asarias, ser professor é algo desafiador, porque “é saber compreender o outro, colocar-se no lugar do outro e, principalmente, preparar esse outro para uma sociedade justa, igualitária, prepará-lo para ele chegar no amanhã com um consciência  de cidadão que precisa transformar a sua vida e a vida dos demais”.

Empatia

Essa concepção de Asarias, como ele mesmo revela, fundamenta-se nos princípios do pedagogo Paulo Freire. “Freire considera a realidade dos nossos educandos, e nós que somos professores da rede municipal nós temos muitas escolas na periferia e nós precisamos entender esse outro. Paulo Freire se preocupava em como nós íamos desenvolver uma educação para contribuir com a formação desse estudante ou  desse educando. Mas, para a gente compreender isso,  a gente precisa conhecer um pouco da realidade do nosso aluno”, observa o docente. 

Como destaca Asarias, existem alunos que chegam com fome à escola, e se não se consegue compreender o contexto, por que o estudante está com essa necessidade, “dificilmente ele vai atingir uma educação mais profunda”. “Educação ultrapassa os muros da escola, ela vem desde a família, e aí se tem de trabalhar com os pais, os responsáveis", defende. 

Trabalhar com alunos de famílias de baixa renda é um desafio de todos os dias para esse professor. Ele lembra, inclusive, que durante a pandemia da covid-19, mesmo com todas as dificuldades, os educadores conseguiram utilizar a tecnologia para chegar a esses estudantes. Nem todos os alunos conseguiam acesso, mas Asarias considera que “os grandes guerreiros nesse momento foram os professores, que tiveram que fazer urgentemente cursos em tecnologia para poder lidar com essas ferramentas a fim de poder atingir os nossos alunos”. 

Assim, esses professores e outros no mundo nunca mais serão os mesmos, como pontua Asarias, porque, em escala mundial, não se sabia o que fazer com a educação,  e “os professores tiveram que se reinventar para poder ensinar nesse contexto todo”. Ele ressalta, porém, que a tecnologia não substitui  o professor em sala de aula. 

Asarias sente-se feliz em poder auxiliar a educação de cidadãos de baixa renda. Até porque ele foi feirante e conseguiu estudar. Ele lembra que a educação foi a saída para melhorar de vida.  Asarias ressalta que como resultado do curso de Informática Básica para alunos da EJAI, muitos deles relataram ter conseguido um emprego por conta de estar no meu currículo essa capacitação.

image Professor Asarias aposta no pode transformador da educação (Foto: Eduardo Rocha / O Liberal)

 

“Limãozinho”

Uma boa lembrança que Asarias tem é de quando um dos alunos dele disse que cursava Biologia e que nunca havia esquecido de que estava no 5º Ano e houve uma Feira de Ciências que esse professor tinha organizado na escola. O evento o conduziu a ser biólogo. “Contribuir para a formação de um aluno é o retorno que se tem com o investimento que nós fazemos na nossa profissão”, afirma.

 Aos sete anos de idade, o professor Asarias era o “Limãozinho”, apelidado assim pelo fato de ele vender limão e sacos na Feira do Ver-o-Peso, para ajudar na renda da família.  “Aos dez anos de idade, eu ia para a escola sempre cabisbaixo, porque ia da feira e as pessoas zoavam conosco e assim por diante – ele acordava às 4h, ia trabalhar, voltava para casa às 11h, em uma família de 11 irmãos, a mãe trabalhando em fábrica de castanha,  e à tarde ia para aula na Escola Emiliana Sarmento Ferreira

“Uma professora viu que as pessoas me zoavam, faziam bullying, porque eu era muito pobre, me chamavam de 'Limãozinho'. E eu ficava muito triste com isso, mas não me abateu, e essa professora cujo nome não me recordo, chegou e disse: ‘Olhe, um dia, eles vão parar de zoar com você, mas para isso parar de acontecer, estude um pouco mais’, e a partir daí eu nunca mais parei  de estudar”, relembrou o professor. 

O “Limãozinho” formou-se em Ciências Sociais (Sociologia), é mestre em Ciência da Educação (Universidade de Évora) e graduado em Pedagogia. Ou seja, não deixa de aprender como professor e aluno simultaneamente. “O professor é um eterno aprendente”, completa Asarias.

image Professora Ediana: amor para que alunos sempre queiram aprender (Foto: Thiago Gomes / O Liberal)

Amorosidade

Ediana Barbosa, 49 anos, com 29 anos de profissão, tornou-se professora ao entender que, por a mãe não ter tido acesso à educação formal, ela assumiu a missão de ensinar os irmãos. “E daí foi surgindo a vontade de ser professora, e esse sonho seguiu comigo até eu conseguir me formar, mesmo sendo de uma família de classe baixa, sem condições financeiras”, destaca. Ediana atua como professora  da Secretaria de Estado de Educação (Seduc), no programa Classe Hospitalar, atendendo pessoas sequeladas da hanseníase no Abrigo João Paulo II, em Marituba. 

Ser professora é uma missão muito gratificante e desafiadora, na avaliação de Ediana. “Quando a gente vê um aluno sendo a base de tudo em que a gente tem que estar ali, em prol da realização dele, trabalhar em favor dele é uma coisa extraordinária, faz a gente se apaixonar”, pontua.  

Uma situação marcante para essa docente se deu quando ela ministrou uma aula extra no Espaço São José Liberto com os estudantes cadeirantes, superando obstáculos com apoio do Abrigo. “E quando chegou lá, a gente viu a emoção desses alunos. Uns chegaram até a chorar naquele momento ali que para eles era extraordinário. Acho que jamais passou pela cabeça deles que poderiam viver aquele momento”, ressalta Ediana. 

Para ela, a maior satisfação como professora é “saber a importância que o professor tem na vida dos alunos”. Ela verifica essa contribuição dos docentes para pessoas em qualquer idade, porque, como frisa, a educação transforma sempre a vida delas. Ela conta que todos os dias a equipe que atua com os pacientes com hanseníase no abrigo em Marituba levam incentivo a essas pessoas que já sofreram com o preconceito da sociedade e apresentam sequelas, inclusive, emocionais. “É desafiador todo dia a gente estar incentivando essas pessoas  a participar das atividades, trazer algo novo para eles sentirem o desejo de permanecer em sala, para a educação continuar acontecendo”, completa.

image Reitor Emmanuel Tourinho lembra das lições aprendidas com os professores (Foto: Márcio Nagano / O Liberal)

Gostar de aprender

O professor Emmanuel Tourinho é vinculado ao Núcleo de Teoria e Pesquisa do Comportamento da Universidade Federal do Pará (UFPA) e atualmente exerce a função de reitor dessa instituição. Ele ingressou como docente em 1985, atuando no curso de graduação em Psicologia e no Programa de Pós-Graduação em Teoria e Pesquisa do Comportamento. Fez a graduação em Psicologia na UFPA, mestrado em Psicologia Social na PUC/SP e doutorado em Psicologia Experimental na Universidade de São Paulo. Ele ressalta que ao longo da sua formação encontrou professores que foram decisivos para a carreira, “sejam pelo que me ensinaram sejam porque abriram muitas portas para o meu trabalho”.

“São pessoas que permanecem muito valiosas na minha vida pessoal e profissional. Penso que o fundamental na docência é gostar muito de aprender, querer sempre saber mais do que a humanidade já produziu intelectualmente e ter interesse real em que os alunos se apropriem do conhecimento disponível e sejam capazes de transformá-lo. Quem não é curioso sobre o mundo, quem não gosta de aprender a todo momento dificilmente será um bom professor, dificilmente será capaz de entusiasmar os alunos para que eles também busquem sempre conhecer mais”, afirma o reitor Emmanuel Tourinho.

Ele ressalta desejar que “o Brasil passe a valorizar a educação, as educadoras, os educadores na medida em que merecem. Às professoras e aos professores o meu respeito, minha admiração e a minha convicção de que fazem o que há de mais importante para transformar para melhor a vida das pessoas e a sociedade”, acrescenta.

image Programa O Liberal na Escola contribui com professores e estudantes nas escolas, como destaca Alan Siqueira (Foto: Ivan Duarte / O Liberal)

Com o professor

Desde 1995, ou seja, há 27 anos, o Programa O Liberal na Escola contribui com o trabalho de professores em escolas para a formação de estudantes mediante o aproveitamento jornal impresso como ferramenta pedagógica. Também são utilizados recursos tecnológicos no processo educacional. O programa é uma ação de Responsabilidade Social do Grupo Liberal, com apoio do Instituto Criança Vida e patrocínio da Vale.  

Como ferramenta rica em possibilidades e pedagogicamente transversal, o jornal é trabalhado em diversos componentes curriculares, como as linguagens utilizadas no contexto em que o aluno está inserido; tipologias textuais; matérias e cadernos do jornal; interpretação textual; leitura e escrita; conhecimentos lógicos e matemáticos; ações geográficas e históricas e atividades lúdicas dentro e fora de sala de aula; atividades individuais e em grupo. Uma das atrações aos estudantes de escolas públicas e privadas no programa são os passeios pedagógicos, que incluem os veículos de comunicação do Grupo Liberal, além de palestras.

Entre 1995 e 2020, foram atendidas em O Liberal na Escola 4 mil estabelecimentos de ensino; 557 mil alunos; 21,5 mil professores e 3,4 milhões de jornais foram distribuídos. Para o pedagogo Alan Siqueira, coordenador do programa, “o Dia do Professor é uma data muito importante para O Liberal na Escola, para a sociedade, porque é o momento em que a gente celebra essa profissão tão brilhante, e, nós, do programa, nos orgulhamos em dizer que há 27 anos a gente contribui com a educação do nosso Estado, e o professor é fio condutor dessas ações pedagógicas. Ele é quem faz acontecer o programa nas escolas. Então, toda a nossa gratidão a esses profissionais”, enfatiza Alan.

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Belém
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