Designer transforma caroços de açaí em joias de luxo
Artesãos trabalham com as sementes descartadas e transformam em peças de alto valor
Os caroços de açaí, em geral, podem ser consideradas lixo. Chegam a ser um problema de limpeza pública. Mas nas mãos da designer Rita Reis e dos artesãos que trabalham com ela, as sementes descartadas são transformadas em joias finas e de alto valor agregado. Rita é proprietária e líder da marca Amazônia Kãma — fundada em Castanhal, em 2008 —, reconhecida internacionalmente pela qualidade e originalidade das peças.
Além das sementes de açaí, assim como outros designers de biojoias, Rita utiliza materiais que podem ser encontrados como resíduos. Ou adquire produtos já trabalhados por artesãos e comunidades tradicionais. Mas ela tem um código de trabalho: as matérias-primas precisam ser abundantes e renováveis. Ou vindas do trabalho de comunidades que vivem em harmonia com a natureza, preservando a floresta em pé. Ela é cadastrada no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
Entre os fornecedores, há um artesão que faz peças diversas com chifre de búfalo, ossos bovinos e escamas de peixes. Há outra fonte, um especialista em marchetaria e que produz várias peças com madeiras não provenientes de cortes predatórios. E, também, a associação de artesãos do povo indígena Apurinã, da localidade de Boca do Acre, que produz várias pequenas e delicadas peças com tucumã, madeira e várias outras sementes. Diretamente, Rita gera oito empregos. Indiretamente, pelo menos 100 postos de trabalho.
Com os materiais naturais, a empresária e os artesãos misturam metais, pedras naturais, gemas e cristais. E assim surgem todas as peças que já passaram por exposições em Paris, já compuseram artigos da revista Vogue e rodam o Brasil em eventos e festivais de moda. E, claro, presença certa na Amazônia Fashion Week, evento de moda realizado em Belém. Entre os principais mercados consumidores das peças da designer estão França, Estados Unidos, Bélgica, Portugal e Itália.
Profissionalização
Por semana, Rita Reis trabalha com 50 milheiros de sementes de açaí. Ela encaminha a matéria-prima para a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), onde é submetida a um processo de beneficiamento. É onde os caroços são transformados em gemas naturais. Ganham brilho, resistência, cor e padronização de formato e tamanho.
Esse procedimento garante vida de mais de 11 anos a algumas peças já produzidas e a resistência continua sendo contabilizada. É um diferencial de várias outras biojoias que não costumam sobreviver à umidade e à ação de fungos. Daí, as sementes passam a compor as biojoias da Amazônia Kãma. Algumas das mais elaboradas demoram mais de 15 dias, como um pelerine de sementes e cristais, que é uma das peças de maior valor de todas as coleções já produzidas. Há outras que ganham até tratamento perfumado com o cheiro-do-pará.
No rol de matérias-primas, a empresária também trabalha com as sementes de jupati, patauí e jarina. Mas é difícil lidar com esses materiais pelo acesso difícil e porque as condições de colheita ainda não são muito amplas. Então, ela usa o mínimo possível. O suficiente para dar charme e valor às peças, mas não a ponto de se tornar algo que se aproveite desses insumos de forma abusiva e insustentável.
"Creio que a preocupação com o meio ambiente vai mudar, no futuro, todas as formas de consumo e produção de várias indústrias. Incluindo a das biojoias. O discurso da preservação da floresta viva e em pé, respeitando as comunidades tradicionais, os saberes antigos, precisa falar mais alto. Precisamos falar de responsabilidade. A Amazônia é um laboratório de ideias. Nada é tão singular em influência no planeta", comenta Rita.
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