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Sorrisos esquecidos: o desafio do acesso a cuidados dentários nas comunidades ribeirinhas de Belém

Sem atendimento regular, moradores das ilhas dependem da solidariedade para cuidar da saúde bucal

Gabi Gutierrez
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Maria Júlia, de 63 anos, passou anos convivendo com a dor. Moradora da Ilha do Combu, na região insular de Belém, ela sofria com problemas dentários graves, que exigiam extrações urgentes. O procedimento, comum para muitos, era um obstáculo quase intransponível para ela. O acesso ao atendimento odontológico é limitado nessas comunidades, onde a distância e a falta de estrutura pública tornam a saúde bucal um privilégio inalcançável.

Falta de dentistas compromete a saúde bucal nas ilhas

Essa realidade se repete em diversas comunidades ribeirinhas que circundam a capital paraense. Mesmo próximas da área metropolitana, essas populações vivem à margem dos serviços essenciais.

“É muito complicado receber atendimento na unidade aqui do Combu. A demanda é muito grande para apenas uma dentista. Acabo nem indo lá”, relata Maria Júlia. Para conseguir tratamento, ela precisa se deslocar até um posto de saúde no bairro do Jurunas, no centro de Belém.

Em resposta ao Grupo Liberal, a Prefeitura de Belém, por meio da Secretaria Municipal de Saúde (Sesma), informou que o atendimento odontológico ribeirinho é prestado pela Unidade de Saúde Fluvial Camillo Vianna. Essa embarcação cobre aproximadamente seis ilhas no entorno da capital, mas a Ilha do Combu não está incluída na lista.

A UBS Fluvial atende as comunidades das ilhas Grande, Nova (Comunidade Menino Deus), Urubuoca (São Raimundo Nonato), Jutuba (Jutuba I e II) e Paquetá, além das localidades de Igarapé Jamaci, Feituria e Cacau. A unidade conta com oito profissionais fixos, incluindo um dentista, e uma equipe itinerante com especialistas em psicologia, nutrição e terapia ocupacional.

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No entanto, o atendimento ainda é insuficiente.

"Às vezes, eles nem nos aceitam nos postos de saúde da cidade. Dizem que devemos procurar a UBS da ilha, mas aqui não tem estrutura suficiente", lamenta Maria Júlia.

Solidariedade que transforma vidas

Enquanto o atendimento público não chega a todos, a solidariedade preenche essa lacuna. Projetos voluntários, como o ‘Sorrisos dos Rios’, levam atendimento odontológico a comunidades ribeirinhas, promovendo reabilitação oral e prevenção.

saúde bucal nas comunidades ribeirinhas

“A gente vem à ilha uma vez por mês para atender os pacientes e fazer o acompanhamento”, explica a dentista Klaudia Monteiro, uma das idealizadoras do projeto. Segundo ela, a perda dentária compromete a alimentação, a autoestima e o convívio social. “Nossa meta é garantir que esses pacientes tenham acesso a um tratamento completo”, pontua.

Maria Júlia é uma das beneficiadas. Em meio a um processo de reabilitação total, ela agora sorri novamente. “Ela é nossa segunda paciente nesse tipo de tratamento. Queremos ampliar esse atendimento e ajudar mais pessoas”, afirma Klaudia.

image Dona Maria Júlia sorri após receber atendimento odontológico em casa (Tarso Sarraf/O Liberal)

A dentista Roberta Ruffeil, que também atua no projeto há quase 10 anos, ressalta que a demanda é muito maior do que os voluntários conseguem suprir.

“Vemos muitos casos de perdas dentárias severas e infecções que poderiam ter sido evitadas. Quando conseguimos encaminhar um paciente para um consultório parceiro, é quase um milagre, pois os recursos são escassos”, alerta.

Desinformação: um obstáculo silencioso

Além da falta de infraestrutura, a desinformação também é um desafio. “Muitos não sabem quantas vezes escovar os dentes por dia, a importância do uso do flúor ou até mesmo a quantidade correta de pasta de dente”, explica Klaudia.

Por isso, o projeto ‘Sorrisos dos Rios’ vai além do tratamento emergencial. “Nosso objetivo é educar para que a comunidade possa prevenir problemas e manter o tratamento que realizamos”, complementa Roberta.

Apesar dos desafios, o trabalho voluntário transforma vidas.

“Sou muito grata por poder usar minha profissão para ajudar”, diz Roberta. A gratidão também vem dos pacientes. “Nem todos se dispõem a fazer esse trabalho. Sou muito grata por elas terem vindo. Não fui só eu que fui beneficiada, sei que muitas pessoas também foram”, emociona-se Maria Júlia.

image Dona Maria Júlia (centro), ao lado das dentistas Roberta Ruffeil (à direita) e Klaudia Monteiro (à esquerda)  (Tarso Sarraf/O Liberal)

O desafio do acesso ao atendimento odontológico para comunidades ribeirinhas de Belém persiste, mas iniciativas como essa provam que, com solidariedade, é possível devolver sorrisos e transformar realidades.

Edição de texto: Heloá Canali/Oliberal.com
Fotografia: Tarso Sarraf/Oliberal.com

Chefe de reportagem: Camila Moreira
Diretor de conteúdo (interino): Lázaro Magalhães

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