De libaneses a barbadianos, imigrantes enriquecem história de Belém

Famílias preservam história e diversidade da imigração no Estado do Pará

Sérgio Chêne
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Nos 406 anos de história, a cidade de Belém do Pará reúne outras histórias, dentre elas de variados processos de imigração como de portugueses, japoneses, libaneses e barbadianos.

Os originários do País caribenho, que em novembro de 2021 deixou a condição de colônia britânica e passou à República, mantêm laços com a capital por conta do trabalho missionário de ingleses e norte-americanos que promoveram a religião anglicana na Região Amazônica.

As irmãs Gladys, 72, e Martha Skeete, 66, integram uma das famílias descendente da ilha de Barbados, que possui cerca de 300 mil habitantes. Gladys é aposentada da justiça do Trabalho e residente no centro de Belém, e Martha, que é médica, e mora há 43 anos no Rio de Janeiro, mas vem com frequência na cidade para estar ao lado dos irmãos Gladys, James e Evelina. Os três outros irmãos Arthur, Ione e Dorotéia já faleceram. Na capital, a comunidade descendente de Barbados é composta aproximadamente por 40 famílias.

Hoje, as irmãs Skeete relembram com detalhes o desenvolvimento da família na capital paraense. E, sob um aspecto histórico, Gladys recorda o início da jornada barbadiana em nossa cidade.

O avô materno dela, James Burnett foi o protagonista. A convite do governo britânico, o barbadiano chegou por aqui a convite de um amigo, e atuou na companhia inglesa Pará Electric Railways and Lighting Company, responsável pela administração dos bondes elétricos que circulavam em Belém no início do século XX, ainda sob a atmosfera do boom gumífero ou da Belle Époque.

“Ele tinha uns 30 anos, chegou aqui solteiro, mas estava noivo. A noiva, Carlota, era de Trinidad e Tobago, mas ficou no País, pois os pais não a autorizaram vir com ele, só depois de casada”, relata Gladys. Finalmente casaram e tiveram sete filhos, um deles foi Alberta Beatrice, que se casou com Robert Skeete, pais de Gladys, determinando assim uma das referências da segunda geração barbadiana na capital paraense.

Para quem pouco sabe, a igreja anglicana localizada na avenida Serzedelo Corrêa, em Batista Campos, é o local onde a espiritualidade é exercida por descendentes e ascendentes da ilha caribenha, mas também um ponto de encontro de eventos culturais.

Um deles ocorreu em 2019, ocasião em que foi promovido um jantar mesclado com as iguarias paraense e barbadenses. O evento contou com a presença da embaixadora Tonika Thompson. Martha e Gladys lembram ainda que na escola Jonh F Kennedy, a irmã Evelina lecionou e ensinou a língua inglesa e entre os alunos estavam integrantes da família Maiorana.

Língua e ilustres

Na capital, em 1932, aos 23 anos, Mr. Clyde como ficou conhecido Robert Skeete, foi responsável pelo ensino da língua inglesa de figuras públicas e da alta sociedade, ao mesmo tempo em que lecionava em colégios como O Paes de Carvalho e colégio Moderno. Jarbas Passarinho, Edgar Proença, Aurélio do Carmo, João Maranhão e Francisco Carraptoso.

Harry Potter e Belém

‘Histórias, Narrativas e Memórias: a trajetória social de uma família barbadiana na Amazônia’ é o título provisório do livro que o historiador Marcos Paulo Evaristo, 34, está produzindo. Ele descende de imigrantes da ilha caribenha de Santa Lúcia. Aqui, os ascendentes do também blogueiro, foram identificados também como barbadianos.

Em sua pesquisa, Marcos Paulo revela o simbolismo de Barbados na área das artes e da cultura. Dentre os representantes está a atriz paraense Clea Simões, falecida em 2006, mas também megastar e hollywoodianos como a cantora e atriz Rihana e Alfred Lewis Enoch, ator anglo-brasileiro, conhecido pela interpretação do bruxo Dino Thomas nos filmes da saga Harry Potter e o estudante de direito Wes Gibbins, na série de televisão da ABC How to Get Away with Murder.

Alfred é filho da médica Etheline Margareth Lewis Enoch com o ator William Russell Enoch. Os avós do ator se conheceram em Belém e seguiram para o Rio de Janeiro, na década de 1940, e lá tiveram filhos, entre eles a mãe de Alfred.

White, Leon, Burnett, James, Cyrus, Lewis, Scantlebury, Skeete, Whorton, Alexander, Darcheville, Marshall, Robinson são algumas das famílias provenientes de Barbados e que cruzaram mares e oceano para chegar em Belém. Alguns estudos apontam mais de 200 nomes de famílias paraenses com origem barbadiana.

“Belém foi a porta de entrada para nossa história, história de nossos antepassados, e devemos muito a cidade que acolheu nossas bisavós, avós e que ajudou na nossa educação e formação. Muito obrigado, Belém e parabéns”, disse a médica Martha.

Um novo horizonte

Segundo o Itamaraty, no Pará existe atualmente 400 mil cidadãos descendentes de libaneses, sendo que 38 mil registrados no Consulado, na capital. A informação é do cônsul honorário do Líbano Makram Douraid Said, 51.

Sobre a origem da imigração libanesa em terras paraenses, Makram data o ano de 1829, como o início do processo migratório no Estado. “O povo libanês é meio cigano, e a vinda para Belém, envolve a necessidade de ter ido em busca de novos horizontes, e o Norte do Brasil representou isso quando as famílias começaram a chegar aqui”, relata o cônsul. Ele lembra da importância da imigração para os empreendimentos na Região, que inaugurou a primeira fábrica de pneus, justamente na capital.

“Nossa comunidade é muito atuante seja na política, na gestão pública e no empreendedorismo, tivemos o primeiro prefeito, o Sahid Xerfan, libanês da história da cidade”, disse. Makran conta que o imperador Dom Pedro I estimulou a vinda de libaneses para o Brasil. Segundo ele, os primeiros libaneses teriam chegado por Marabá, mas se fixaram em cidades como Capanema, Bragança, Castanhal e Santarém.

“Logo no início, tivemos a dificuldade da língua, mas depois foi mais fácil a adaptação, pois o povo paraense é semelhante ao libanês, é prestativo e acolhedor, nessa questão não tivemos barreiras e nossos hábitos e culinária ajudaram nesse processo”, afirma.

“Só temos que retribuir Belém por ter acolhido nossos pais e avós, queremos e procuramos sempre retribuir a cidade pelo que ela fez e faz para o nosso povo, por conta disso procuramos desenvolver projetos sociais em nosso clube, o Monte Líbano. Mas Belém é isso, é lembrança da infância na Cidade Velha, na escola Salesiano do Carmo, no jogo de bola na rua, o banho de chuva e os grandes amigos”, finalizou.

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