Corte orçamentário deve impactar os atendimentos de saúde à população em 2023
A temática é uma das pautas do 57º Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, em Belém
Ações especificas de covid-19, compra de vacinas e mais investimentos em saúde são alguns dos aspectos que preocupam profissionais, pesquisadores e estudantes da área de saúde, com relação ao atendimento à população neste período "pós-pandêmico", principalmente com o corte orçamentário previsto para 2023. Com um quadro de demandas reprimidas e doenças negligenciadas, Júlio Croda, presidente Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT), avalia o cenário atual no Brasil e no Pará. A temática faz parte da programação do 57º Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (Medtrop), que acontece no Hangar Convenções e Feiras da Amazônia, em Belém.
De acordo com Croda, 2023 será um ano bastante difícil devido um corte orçamentário de 30%, específico da saúde, pela Lei Orçamentaria Anual (Loa), causando preocupação aos profissionais de saúde.
"A gente precisa entender como vai ser essa negociação com o Congresso, se esse orçamento da saúde vai ser recuperado a partir do orçamento geral da união. Então, existe uma preocupação muito grande, a gente entende que precisa de ações especificas de covid-19, compra de vacinas e isso a gente não viu uma discussão muito clara, a gente tem agora um período que inicia a transmissão das arboviroses, tivemos o impacto da covid-19 em outras doenças, não só doenças infecciosas tropicais, mas doenças crônicas, pessoas que não foram atendidas, cirurgias que não foram realizadas, justamente nesse momento que a gente precisaria de um investimento maior para recuperar esse tempo perdido devido à pandemia", pontua.
Segundo Croda, a população será impactada em atendimentos que não foram realizados durante o período mais critico da pandemia. "A gente acredita, sim, que a população em 2023 vai sofrer um impacto maior, não especificamente relacionado a covid-19, mas relacionado as outras doenças por falta de um recurso financeiro adequado no seu orçamento, mas também por conta do passivo de cirurgias que foram desmarcadas, de diagnósticos que não foram feitos durante a pandemia, isso vai impactar a saúde geral da população."
O mesmo acontecerá nos estados, de acordo com o presidente da SBMT. "No Pará não é diferente, a gente acredita que isso pode impactar aqui e é importante o estado fazer um planejamento adequado para correr atrás desse tempo perdido, principalmente relacionado as outras doenças, porque o foco foi para pandemia, mas agora a gente tem uma série de doenças negligenciadas nesse período que a gente precisa reorganizar o sistema para atender essa demanda que é elevada nesse momento", avalia Croda.
Nova variante
A nova variante pode gerar uma nova onda de casos de covid-19. Contudo, é fundamental que a cobertura vacinal seja reforçada para adultos e crianças. De acordo com Júlio Croda, nos últimos seis meses a população parou de procurar os postos de saúde, o que leva a uma cobertura inadequada de segunda dose de reforço em maiores de 40 anos e baixa cobertura de terceira dose dos menores de 40 anos.
"A gente não tem vacina disponível para crianças de seis meses até três anos, apesar de já estar sendo utilizada no mundo todo, aqui o Ministério da Saúde disponibilizou um quantitativo muito limitado que não vai dar pra imunizar quase nenhuma criança. Além disso, faltam antivirais, que já estão sendo usados no mundo todo, temos pessoas idosas e imunossuprimidas que poderiam ser beneficiadas, isso reduz o risco de hospitalização e óbitos. Por último, a gente tem novas vacinas, lógico que não é a primeira oportunidade, são as vacinas bivalente atualizada para variante Omicron que garante uma pouco mais de proteção para pacientes sintomáticos que também o governo não tem nenhum plano de aquisição e nem distribuição. Essas cinco prioridades é importante que o gestor entenda que a gente já vacinou muito bem, mas nos últimos seis meses nós não estamos vacinando muito bem e isso pode impactar seriamente o aumento do número de hospitalização", pontua.
Medicina Tropical
Esses e outros assuntos referentes a medicina tropical serão discutidos durante o 57º Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (Medtrop), com programação a partir deste domingo (13) até 16 de novembro, no Hangar Convenções e Feiras da Amazônia.
O encontro celebra os 60 anos da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT) e a volta dos eventos científicos presenciais depois de dois anos de congressos online, devido à pandemia de covid-19. A expectativa é que o Medtrop 2022 conte com a participação de três mil pessoas, entre profissionais, pesquisadores e estudantes da área de saúde.
Segundo o presidente da Comissão Científica do Medtrop, Pedro Vasconcelos, a programação foi elaborada com foco no desenvolvimento cientifico e inovador, trazendo o que há de mais moderno em termos de métodos diagnósticos e abordagens terapêuticas, bem como a clínica, a prevenção e controle de todos os agravos, inclusive com a visão e perspectiva one health.
Vasconcelos explica que o termo one health (saúde única) trata da integração entre a saúde humana, a saúde animal, o ambiente e a adoção de políticas públicas efetivas para prevenção e controle de doenças em nível local, regional, nacional e global.
“Isso é muito importante se considerarmos que a maioria das mais recentes grandes epidemias (dengue, chikungunya, zika, malária, monkeypox, ebola, etc.) e pandemias (covid-19 e Influenza), tiveram origem zoonótica, ou seja, foram provocadas por agentes virais, bacterianos e parasitários que têm origem animal e que conseguiram migrar para o ser humano causando todos os males associados”, ressaltou o especialista.
Programação
O Medtrop terá 12 cursos pré-congresso, 50 miniconferências, 72 mesas-redondas, 30 conferências e cinco reuniões satélites: Reunião Aplicada de Doenças de Chagas e Leishmaniose (ChagasLeish), o IX Workshop de Genética e Biologia Molecular de Insetos Vetores de Doenças Tropicais (Entomol9), o Fórum de Doenças Negligenciadas (Fórum DN), o Workshop Nacional da Rede Brasileira de Pesquisa em Tuberculose (Rede-TB) e o 2º Fórum Covid-19.
As inscrições podem ser feitas até esse domingo, pelo site medtrop2022.com.br.
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