Centro de reabilitação da Ufra, em Belém, já recebeu mais de 5 mil animais selvagens
Vítimas de maus-tratos, os animais são encaminhados por órgãos ambientais para o centro, que funciona há 13 anos

Em 13 anos de funcionamento, o Centro de Triagem e Reabilitação de Animais Selvagens (Cetras), mantido pela Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra) em Belém, já atendeu mais de cinco mil espécies. O primeiro nessa categoria no norte do país, o centro recebe uma média de 400 animais por ano. No momento, 42 deles estão sendo cuidados pela equipe de profissionais do Cetras. No Centro, são oferecidos atendimentos clínicos, cirurgias, exames laboratoriais e de imagem, além do internamento de animais selvagens doentes e vítimas de maus-tratos, encaminhados pelos órgãos ambientais.
Coordenadora do Cetras, a professora e médica veterinária Ana Silvia Sardinha Ribeiro disse que o centro atende principalmente os animais encaminhados pelos órgãos ambientais, tais como Ibama, secretarias de meio ambiente do Estado e do Município, Batalhão de Polícia Ambiental, além de animais encontrados no campus da Ufra, em Belém, e em outros campus da instituição. “A gente dá esse suporte no atendimento dessa fauna apreendida”, explicou. O Cetras está aliado ao programa de residência de medicina de animais selvagens da Universidade. “O nosso programa já tem 13 anos. A gente era um ambulatório e se transformou num centro de triagem e recebeu uma licença de operação pela Semas (Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade), em 2021, para se transformar num centro de triagem e reabilitação”, afirmou.
O centro atende mamíferos, aves e répteis - a maior parte são aves e com trauma. “Traumas de acidente em ambientes urbanos, como, por exemplo, encontro em vidros espelhados de prédios, acidente por caça", disse a professora. "Já recebemos animais com projétil, acidente de manejo ilegal, manejo inadequado em um ambiente de cativeiro, sob cuidados humanos. As pessoas cuidam do animal. E, quando dá problema, elas entregam para os órgãos ambientais ou abandonam. Parte dos animais ou é o órgão ambiental que faz apreensão ou é entrega voluntária aos órgãos ambientais, ou até a população que avisa que apareceu um animal em algum local. Aí, eles capturam e trazem uma parte para cá. A gente tenta apoiar esses órgãos nesse sentido", completou.
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Muitos animais são encontrados em áreas de queimada
A médica veterinária Ana Silvia Sardinha Ribeiro explicou que o Centro muito filhote de aves, filhote de gambazinho, "a mucura nossa". O procedimento adotado depende do estado de saúde de cada animal. "Depende do problema que ele apresenta. Dependendo do tempo de reabilitação, a gente consegue devolvê-los da natureza. Ou então, se a gente for um animal muito problemático, a gente precisa de muito contato humano, no manejo, na alimentação, no tratamento, às vezes eles ‘imprintam’: faz uma aproximação muito grande com o ser humano, uma dependência, e a gente não consegue reabilitar totalmente para voltar para a natureza. Nesse caso, ele vai encaminhado para algum cativeiro, algum zoológico, algum criador ou conservacionista. E aí, já são os órgãos ambientais que vão atrás desse destino, para resolver", afirmou.
A professora também comentou se, com o passar do tempo, tem mudado o perfil dos animais que chega ao Centro: “Olha, nos últimos dois anos e meio, três anos, a gente recebeu mais animais vindos de área de queimada. A gente recebeu, no ano passado, tamanduá, tatu, jabuti, vindos de área queimada. Então não é uma coincidência o que tem acontecido no Brasil com o aumento desse período seco. Alguns grupos se repetem sempre. Os psitacídeos, pois as pessoas gostam muito de criar papagaio, periquito. As preguiças que as pessoas encontram também. Alguns quati filhote, que o pessoal começa a criar e, quando cresce e dá problema, entrega. Então, alguns grupos se repetem. Mas a maior parte são rapinantes - aves de rapina, como os gaviões e corujas”.
Para as pessoas que pegam os animais e, depois, os abandonam, ela diz: "O ideal é que elas nem chegassem perto deles se não tivessem a licença. O Brasil tem uma legislação própria a respeito da manutenção de animais silvestres em cativeiro pela sociedade. Tem uma legislação que permite você obter algumas espécies vindas de criador comercial legalizado. E aí você começa a ter um animal com origem conhecida e vai procurar ter assistência veterinária, orientação técnica de biólogos para poder você manter corretamente", explicou.
Porém, acontece de o animal crescer e dar problemas, acrescentou: "Papagaio começa a vocalizar muito, o quati começa a ficar agressivo, o macaco também. E, aí, as pessoas entregam esse animal, se desfazem desse animal porque não se sentem mais confortáveis para mantê-los perto. E esses animais perderam a capacidade de retornar para a natureza. Então o que eu vou recomendar sempre é: se você não consegue ficar com esse animal, entregue-o ao órgão ambiental, não solte esse animal na natureza. Ele não tem mais condições de viver, porque ele não cresceu aprendendo como se caça, como se protege, como busca seu alimento. Então que a pessoa entregue para o órgão ambiental e não tire mais nenhum outro da natureza".
A população, porém, não pode ir direto no Cetras para fazer a doação desses animais. "Nnão somos uma instituição que recebe esse animal de pessoa física. A gente só recebe das instituições mesmo", disse a professora, que também falou sobre a equipe de profissionais que atuam no Centro. "Contando comigo, cinco veterinários. Quatro veterinários do Programa de Residência. Temos biólogos parceiros, colaboradores que ajudam aqui. Temos alunos de Zootecnia, Veterinária e Biologia. Nós temos tratador, além da parceria com o Laboratório de Genética da UFPA, parceria com Vet Lab Diagnósticos. Tem vários profissionais de vários setores e instituições que nos apoiam também", afirmou.
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