Belenense ou belemense? Polêmica é antiga e persiste até hoje, afirma linguista

O importante é a maneira como as pessoas se relacionam com a cidade, destaca professor

Dilson Pimentel
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Quando as pessoas se referem a quem é natural de Belém, sempre há a dúvida: belenense ou belemense? Para o linguista Jorge Domingues Lopes não se trata de uma questão de escolha. “Se você estiver pensando no uso formal, normativo, do gentílico, só há uma forma: belenense. A outra forma pode ter sido consagrada pelo uso, a partir do emprego generalizado da inserção do sufixo -ense à palavra Belém, sem considerar as particularidades da norma ortográfica”, disse.

A ortografia do português do Brasil é regida pelo Decreto n.º 6583, de 29 de setembro de 2008, e esta última versão da lei foi aceita por vários países de língua portuguesa. Nesse caso, de acordo com a orientação da ortografia oficial atual do português do Brasil, a forma a ser considerada, inclusive ensinada nas escolas, deveria ser sempre belenense.

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“A palavra Belém, na escrita, termina com uma consoante chamada de oclusiva bilabial nasal. Nesse caso, o M. Na fala, esse M não existe. O que existe é um som que chamamos de aproximante palatal, muito semelhante a um i. Partindo da escrita, poderíamos pensar que a forma belemense poderia se justificar, já que, na escrita, existe um M”, disse.

O linguista acrescentou: “Se fôssemos partir do critério da escrita, muitas pessoas vão acreditar que a forma seria pegar a palavra Belém e acrescentar o sufixo de origem - nesse caso, o “ense”. E aí você teria a forma belemense. Mas isso é uma interpretação de pessoas que provavelmente estudaram, tiveram acesso à forma escrita da palavra e fizeram uma interpretação de uma regra mais ou menos geral”. O mesmo, por exemplo, não ocorre com Santarém, observa o linguista.

No entanto, ele afirma haver um equívoco: as únicas palavras que vão aceitar a construção “mense” são aquelas que terminam, por exemplo, com uma sílaba “-ma”. Exemplo: Capanema, topônimo que tem como gentílico capanemense. Pegue-se a palavra Capanema. Quando se coloca o sufixo “ense”, faz-se a junção do “a” final com o “e” inicial de “ense”. Com essa junção, há a perda da primeira vogal e fica somente a vogal do sufixo, preservando a consoante bilabial nasal- nesse caso, o ‘m’. Nesse caso, para ser belemense, a cidade deveria se chamar "Belema"

"Como termina em M e não tem nenhuma vogal depois para sustentar a permanência do M, ela vai constituir sílaba e mudar a sua natureza. Deixa de ser bilabial para ser dental-alveolar nasal. E deixa de ser M para se tornar E. E a forma recomendada é belenense. Tanto que, no Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, a única forma registrada do gentílico é belenense, que é relativo a Belém do Pará ou o que é seu natural ou habitante, disse o linguista.

Importante é a maneira como as pessoas se relacionam com a cidade

Professor e pesquisador da Universidade da Amazônia (Unama), Paulo Nunes disse que o importante não é a simples troca de uma letra, mas a maneira como as pessoas se relacionam com a cidade. Como sujeito nascido e criado na cidade de Belém, como ele mesmo diz, o professor lembrou o que ensinava sua mestre no antigo Centro de Letras da UFPA (Universidade Federal do Pará), Albeniza de Carvalho e Chaves: "Na dúvida, nós, da literatura, devemos optar pelo estético pela beleza".

image Belém, Cidade Morena (Fernando Oliveira / Arquivo O Liberal)

Por isso, o pesquisador diz preferir belenense, embora alguns dicionários apontem que "belenense é o que nasceu em Belém da Judéia".  A literatura, no entanto, tem mostrado que, do século 19 para cá, as duas formas são usadas. “O mais importante não é a simples troca de um N por um M, mas o modo como nos relacionamos com a cidade”, afirmou.

O povo é que faz a sua língua, diz presidente da Academia Paraense de Letras

Presidente da Academia Paraense de Letras, Ivanildo Ferreira Alves, disse que a forma tradicional do topônimo Belém mais o sufixo ense é belenense. “É uma palavra formada por derivação sufixal. Um adjetivo de dois gêneros. Pode ser utilizado tanto no masculino quanto no feminino. Tanto para o homem que nasceu em Belém como para a mulher que nasceu em Belém. Belém da Palestina ou Belém do Pará, tanto faz”, afirmou.

Também advogado criminalista, professor, palestrante e escritor, ele acrescentou que há mais de 30 anos ouve a palavra belemense, com M. “E o povo é que faz a sua língua. Então, me parece que pelo uso generalizado do termo belemense admite-se as duas formas vernaculares”, disse. Ivanildo lembrou que havia, inclusive, um vereador chamado Agostinho Linhares, que, nas saudações políticas, nos discursos políticos, se referia à pessoa nascida em Belém por belemense. “Como, na época, ainda não era uma forma generalizada do emprego da palavra, colocaram como uma espécie de apelido nele e ele (que já é falecido) era conhecido: belemense. Agostinho Linhares, o belemense, porque usava a forma do adjetivo com M e não com N”, disse.

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