Centro de Belém tem domingo de ruas e praças vazias frente a risco da pandemia
Praça da República e Batista Campos ficam quase desertas por causa do novo coronavírus
As praças da República e da Batista Campos estão quase desertas ontem. As praças conhecidas pela grande movimentação de famílias, de pessoas fazendo exercícios, de turistas e de pessoas que vão simplesmente passear estavam sem público. A mudança foi motivada pelas ações e recomendações do poder público de evitar aglomerações para não haver transmissão do novo coronavírus.
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Na praça da República, conhecida pelos protestos de diferentes matizes políticas e classes sociais, um silêncio irreconhecível pairava no ar neste domingo, era possível ouvir o canto dos pássaros e o vento. Com a decisão do prefeito de Belém, Zenaldo Coutinho, de proibir a feirinha de artesanato e vendedores ambulantes a praça que era tomada por barradas nas calçadas da avenida Presidente Vargas estava vazia e limpa.
O vendedor de cocôs João Guilherme, de 51 anos, improvisou uma máscara com tecido para poder sair na rua e ver como estava o movimento da praça da República. “Não tenho ideia de como vai ser. Estão falando que vão dar um salário de R$ 200 para os autônomos, estamos esperando. Está precário e isso prejudica muito a gente. Eu não tenho dinheiro para comprar máscaras, então fiz uma para mim e outra para meu filho”, revela.
O vendedor de águas Nelson Trindade, 58 anos, conseguiu vender apenas três sacos de água e desistiu de trabalhar ontem. Como não conseguiu dinheiro iria voltar andando para a casa no bairro do Marco. “Para mim tem que se preocupar com o dólar a mais de cinco reais. Com a economia assim não dá”, afirmou. Ele revela que não tem álcool gel, em falta na cidade, e que se preocupa mais com a situação financeira. “Eu cheguei de manhã. Gastei R$ 3,60 da passagem, mas vou voltar andando para o Marco, porque não posso gastar dinheiro”.
Já na praça Batista Campos, as tradicionais barracas de venda de cocôs estavam todas fechadas. Não havia pula-pula, crianças correndo e brincando, palhaços, ou pipoca. O local que é um dos mais procurados pelas famílias tinha alguns poucos frequentadores que faziam exercícios físicos, já que academias foram fechadas. Os vendedores de côco foram informados pela prefeitura que não deveriam abrir a partir de hoje.
O vendedor de cocôs Rodrigues de Sena, de 61 anos, trabalha na praça desde da década de 90, e nunca tinha visto a movimentação desse jeito. "A prefeitura falou sobre o coronavírus. Falaram sobre isso, também sobre aglomeração do pessoal e mandaram a gente fechar as barracas desde hoje. Ontem, passou uma equipe da prefeitura com a ordem", informou. Rodrigues está preocupado com os 100 cocôs que podem estragar, o que pode acarretar em um prejuízo de R$400. De acordo com ele, os vendedores se reunirão com a prefeitura amanhã para discutir a situação da praça e dos trabalhadores.
A proprietária de uma banca de revista na praça Batista Campos Mariceli Silva mudou o formato de atender o público, formado principalmente por idosos. “Nós já vamos fechar, eu só vim fazer entrega da distribuidora. Eu tenho muitos clientes idosos, por isso estou entregando as revistas e os jornais para evitar contato”, conta. “Aos domingos a praça é sempre movimentada, tem eventos do Sesi, tem as missas. Neste até o frei suspendeu todas as missas. Nos dias de sábado e domingo é super movimentado, totalmente diferente de como está. Não se vê ninguém nas ruas dá até medo, nós estamos apavorados, e tem gente que não acredita. Olha a Itália está em uma situação decadente”, suplica.
Os vendedores ambulantes se indagam de qual será a ajuda do governo para a categoria que tirava o sustento e a comida da família do dia-a-dia nas praças. A vendedora ambulante Ironeida Santos, de 64 anos, é a responsável por sustentar a casa com menos de meio salário mínimo que ganha com a venda de estalinhos e brinquedos na praça. “Eu vim ontem e chovendo não estava assim. Agora vim trabalhar e fui informada pelo fiscal da prefeitura que não é para vender, que vão apreender nossa mercadoria. Quero saber como a gente vai sobreviver, quem vai dar um prato de comida? Não chego meio salário, tem final de semana que ganho cem reais”, enfatiza.
O advogado Rodrigo Lobato, de 28 anos, reparou na diferença no ambiente da praça. “Geralmente tem muita gente, muita criança, tem até cama elásticas às vezes. Porém, é uma situação de como as pessoas estão respeitando as recomendações públicas de se isolarem neste contexto”, declarou.
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