Ativistas esperam que leis de defesa dos cavalos sejam praticadas com novo espaço
Criação de santuário para equinos pode resolver antigo problema em Belém que é a destinação dos animais que sofreram violência
Um dos antigos problemas para assegurar o bem-estar de cavalos em Belém pode estar finalmente próximo de ser solucionado com a criação de um santuário pela Prefeitura Municipal de Belém para destinar os animais vítimas de violências. Apesar de possuir legislações avançadas vigentes na esfera estadual e municipal, órgãos públicos voltados para o tema e conhecimento científico para o tratamento dos equinos, a capital paraense não possui até hoje um local adequado para receber os animais.
O professor universitário Djacy Ribeiro é um defensor da causa animal, especialmente dos cavalos. Idealizador do Projeto Carroceiro, da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), que é referência no tratamento com os cavalos, participou ativamente da discussão de várias leis e organização do Estado para combater os maus-tratos aos cavalos de tração na capital e no Estado do Pará. Ele vê com esperança a possibilidade deste novo espaço.
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“É tudo de bom, sempre foi um sonho nosso. Estou desde 2001 trabalhando na assistência aos animais maltratados com o projeto Carroceiro, que funciona desde 2003 e é o único que atende os animais na Grande Belém e até os municípios vizinhos”, afirmou. “Sempre esbarramos no local de destino desses animais. Depois de resgatados, tratados e reabilitados, vão fazer o que com eles? Eles vão para onde? Agora não, a gente sempre lutou pelo santuário, essa execução do prefeito Igor não é uma proposta nova, mas, ele realmente teve coragem agora, foi promessa de campanha conosco, que atuamos na causa animal, e ele mostrou que vai executar”, declarou.
O poder público tem outros desafios pela frente. Um deles é a ausência de dados concretos sobre a quantidade de cavalos em Belém. Há 10 anos, o projeto Carroceiro estimava aproximadamente 3 mil animais na Região Metropolitana. Atualmente, esse número foi reduzido graças às denúncias da população e atuação dos órgãos de segurança. Muitos empreendimentos que utilizavam a tração animal substituíram os cavalos por tratores. Entretanto, ainda são estimados cerca de 300 animais somente na capital.
O projeto inédito do santuário visa criar um local para acolhimento de cavalos resgatados das ruas e em situação de tração animal. O santuário ocupará um espaço de 350 mil metros quadrados, em uma parceria entre Prefeitura Municipal de Belém (PMB), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra). Os trâmites para a concretização do projeto estão em andamento. A medida foi anunciada na última segunda-feira (10/02) pela gestão municipal.
Somente em janeiro deste ano, 101 casos de maus-tratos a animais foram registrados no Pará, segundo a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (Segup). No entanto, não há dados específicos sobre as violências contra cavalos. O número total aponta uma pequena redução no comparativo com o mesmo período de 2024, quando houve 107 ocorrências.
Com a experiência de mais de 20 anos no atendimento aos equinos em Belém, o professor Djacy assegura que quase todos os cavalos de Belém sofrem maus-tratos. “Tudo o que você pode pensar de maus-tratos esses animais que trafegam com carroça têm. 100% dos animais sofrem algum tipo de maus-tratos!”, destaca.
Além da violência física por uso do chicote e da exaustão devido ao trabalho de tração sob sol e chuva, Djacy lista uma série de problemas que os equinos sofrem em Belém. “A gente tem muitas doenças infectocontagiosas por conta da falta de vacina dos animais. Eles têm uma baixa condição corporal, porque o alimento não é balanceado, não é ração, é um alimento artesanal que é misturado com farelos. Os animais não recebem mineralização. Os animais que trafegam não têm casqueamento e ferrageamento adequados”, descreve. Alguns também sofrem com infestação de parasitas, como carrapatos, que transmitem a gravíssima doença babesiose e pode levar os animais à morte.
“A gente tem um problema social muito grande de que é o que vamos fazer com esses animais. Esse sempre foi o grande problema. A lei nós temos, os órgãos para execução dessa lei sempre tivemos, que é a Semob, o projeto Carroceiro, Polícia Militar, Centro de Controle de Zoonoses – CCZ. O grande problema é o que fazer com os animais que vão sair das ruas. Quando chegava nesse ponto os prefeitos normalmente não se mexiam porque não tinham interesse também”, fala.