Arte urbana é ampliada e transforma espaços públicos em Belém
Essa forma de arte de rua é democrática por ser de fácil acesso à população
A arte urbana tem ganhado destaque nas ruas de Belém. A arte de rua é formada por expressões artísticas desenvolvidas em espaços públicos. São pinturas, grafites, esculturas, estátuas vivas e outras apresentações que interagem diretamente com as pessoas que passam por esses locais. E esse processo deverá se intensificar por conta da COP 30, que será realizada na capital paraense em novembro de 2025.
Em Belém essas intervenções podem ser vistas, por exemplo, em três estações do BRT: São Brás, Tapanã e Maracacuera. E ainda no Museu de Arte Urbana de Belém (Maub), que será inaugurado neste domingo (10) no complexo Ver-o-Rio. O espaço artístico reúne obras em muros, fachadas e prédios, configurando-se no maior museu ao ar livre do Norte do país. Presidente da Fundação Cultural do Município de Belém (Fumbel), Inês Silveira ressalta que a capital paraense "pulsa arte": na música, no artesanato, na gastronomia, nas artes cênicas, nas cores, sons e manifestações diversas. “É a arte urbana refletindo as expressões dos artistas locais, exposta em espaços abertos para ser vista e apreciada por quem mora em Belém e também por quem visita a cidade”, destaca.
Inês cita o Ver-o-Rio, que no ano passado teve a intervenção do projeto expresso agora no Maub, cuja realização foi apoiada pela Prefeitura. “Este ano vem uma nova versão e o Ver-o-Rio se tornou não só uma janela para o rio, mas também um espaço aberto para os artistas expressarem a sua arte. Uma arte que traz na sua essência cenas do nosso cotidiano e da nossa ancestralidade.”
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Além do Ver-o-Rio, a Prefeitura de Belém também fez um aporte com o projeto Cores do Pará nas três estações do BRT: São Brás, Tapanã e Maracacuera. “E, nesse sentido, permite à população, ao transitar pelas estações para usar o transporte coletivo, se deparar com uma cena expressa pelos nossos artistas em cada uma dessas estações. Temos muita satisfação em dar essa oportunidade aos nossos artistas de eternizar suas expressões na paisagem urbana da cidade”, afirmou.
O artivista visual And Santtos diz que a arte tem um poder grandioso de transformar. “E a arte urbana nos fala sobre uma democratização, sobre uma questão muito mais liberta, muito mais sociável. A arte urbana está inserida em todos os locais da cidade, onde a gente pode falar sobre determinados assuntos”, disse. “Passar a nossa mensagem e, além isso, contribuir com o meio ambiente e com o bem-estar da sociedade é uma grande conquista. Essa arte embeleza o ambiente onde as pessoas passam”, afirmou.
“A COP é o nosso momento artístico”, diz And Santtos
And diz que, quando está nas ruas, pintando, fica vulnerável às intempéries. “E às reações mais diversas das pessoas também. Uns gostam, outros não. Na maioria das vezes eu recebo muito mais elogios do que críticas”, observa. Mas observa que a crítica é importante para que o artista possa melhorar cada vez mais o seu trabalho. "Enquanto artista dentro dessa arte urbana, eu me sinto muito satisfeito em contribuir para um determinado assunto, para que as pessoas possam realmente refletir, se conscientizar, melhorando também a autoestima das pessoas através das cores que utilizo por meio do meu ‘odivelismo’", declara, usando de uma expressão criada por ele, que é natural de São Caetano de Odivelas.
And Santtos diz que também tem suas expectativas para a COP 30: “A COP será o nosso momento artístico, de mostrar a voz da Amazônia, mostrar os nossos conceitos, nossos costumes, enfim, expor várias questões, entre as quais o meio ambiente”.
Gibson Massoud é idealizador do Museu de Arte Urbana de Belém (Maub). Ele diz que, do ponto de vista da democratização do acesso à arte, a arte urbana é, sem dúvida, a mais democrática por estar disponível para o público 24 horas e de maneira inteiramente gratuita para a população.
“Quando você tem espaços públicos ocupados com arte, as pessoas vêm visitar, fazendo com que esse espaço se valorize, movimentando o comércio e deixando aquele ambiente mais seguro”, afirmou. O Maub, segundo ele, é um bom exemplo disso. “Localizado no complexo Ver-o-Rio, o Museu conseguiu potencializar um ponto turístico que andava meio esquecido e, com isso, trouxe novas perspectivas para os comerciantes que ali trabalharam, bem como para as pessoas que residem às proximidades”, observou.
E, em relação à arte urbana, e sobre suas perspectivas para a COP 30, Gibson acredita que será uma oportunidade para que visitantes de fora do estado e também de outros países conheçam os artistas visuais da Amazônia. “E, também, temos uma chance de fortalecer o turismo nos espaços públicos ocupados com a arte urbana em Belém, como o Maub”, afirmou.
Arte é ferramenta de transformação do espaço público, diz artista Sintético Abstrato
O artista plástico Almir Trindade, que assina com o nome de “Sintético Abstrato”, participa das pinturas no Maub. “O meu trabalho envolve muitos traços geométricos e, principalmente, o estudo da arquitetura da Amazônia”, disse. “Esse é um momento super importante para os artistas plásticos, não só da cidade, mas em nível nacional, porque estamos construindo uma obra coletivamente. São mais de 6 mil metros quadrados de pintura. E acho que isso tem o poder de contribuir com a valorização do espaço público e a retomada desse espaço humano, valorizando o artista enquanto profissional”, disse.
De maneira geral, o que deve ser feito para valorizar mais ainda a arte urbana? Eu acho que os incentivos, não só privados, mas também o público, tem o poder de usar essa ferramenta dos artistas plásticos para contribuir com a cidade e valorizar os espaços urbanos. Questionado sobre a COP 30 e o que pode ser feito para que a arte urbana se torne ainda mais possível, ele declara: "Acho que a arte urbana inserida na pauta, também como ferramenta de transformação do espaço público, pode ser uma maneira muito prática e muito rápida de a gente conseguir respostas mais adequadas para uma cidade desenvolvida como Belém."
'Abridor de letras', artista ribeirinho participa de arte urbana
Natural de Igarapé-Miri, no Pará, Luis Júnior também participa das obras no Maub. É um ribeirinho integrado à arte urbana. “Eu sou abridor de letras (faz pintura em barcos). Foi o Rosi, que eu conheci no porto de Belém, que me ensinou o ofício das letras nos barcos. Comecei a trabalhar com ele desde os 14 anos. Vou fazer 31 anos e vivo do ofício até hoje”, contou. “Eu gosto de fazer, eu amo o que eu faço e é bonito”, disse. “É o segundo ano que eu tô participando. Eu fico muito feliz por valorizar a arte que é nossa, abrir dois letras. Então eu fico muito feliz de estar representando e estar fazendo o meu melhor sempre”, afirmou. “Pessoal de fora vem e já procura a gente aqui”, disse, lembrando Muitos desistiram dessa profissão.
De Brasília, a pintora Camila Soato falou sobre seu trabalho. “Essa é uma pintura que tem o título de ‘Se conhecem, se apoiem e se organizam’, que é entre o rural e o urbano. Eu trouxe um pouco da vivência... eu moro na zona rural em Brasília e falar um pouco sobre essa experiência do cultivo para a substância familiar e as mulheres que trabalham no campo e a força dessas mulheres”, disse. “Então o trabalho tem essa conexão. Tem várias imagens que são de mulheres que representam essa força misturado com a rua. Com imagens que estão conectadas com o cotidiano, com as nossas vivências”, afirmou.
Camila destacou que a arte urbana é democrática. “Esse é o meu primeiro trabalho na rua, em mural. Então eu trabalho muito com o ‘cubo branco’: museu, galerias, enfim. E são espaços ainda, infelizmente, muito voltados para uma elite. É restrito, não é convidativo e eu acho que a arte urbana traz a arte para a população que é quem, de fato, tem que estar acessando esses espaços. É democrática”, afirmou.
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