Antes do amanhecer, baderneiros e jornaleiros levam o jornal O Liberal às ruas

São esses profissionais que, diariamente, acordam cedo para alimentar o compromisso com a informação e fortalecer os 78 anos do periódico

Gabriel Pires

Bem antes do sol raiar, profissionais já estão nas ruas para garantir que as notícias cheguem aos leitores de O Liberal. Entre esses colaboradores, os baderneiros, jornaleiros e entregadores desempenham um papel essencial na estrutura do jornal, atravessando madrugadas e enfrentando desafios para que cada edição chegue a mãos, portas e bancas. São eles que, diariamente, acordam cedo para alimentar o compromisso com a informação e fortalecer os 78 anos do periódico.

Para Kelen Silva, de 50 anos e com 30 de “baderna”, o dia começa às 5h, quando chega ao Mercado de São Brás e começa a distribuir a edição do dia em meio a uma pilha de jornais recém-impressos. Junto do marido, Mário Sérgio das Neves, que também é jornaleiro, Kelen organiza os maços de jornais que serão entregues nas primeiras horas da manhã. Ela considera que o trabalho é corrido e exige esforço para acordar cedo, mas destaca que aprecia essa rotina, que já se tornou parte de sua vida.

image Casal de baderneira e jornaleiro, Kelen e Mauro, relata que a venda de jornal é responsável pelo sustento do lar (Foto: Adriano Nascimento / Especial para O Liberal)

Kelen conta que, no Mercado de São Brás, distribui os exemplares aos jornaleiros, que os levam para diversos pontos de venda em Belém. No local, os clientes também se tornam amigos. “Todos os dias tem jornaleiros cedo prontos para receber o jornal. Sou baderneira há mais de 30 anos. Quando eu me juntei com o Mário, comecei a participar dessa dinâmica de vender jornal. Essa profissão representa nossa luta no dia a dia. Sempre estamos cedo aguardando o jornal chegar”, relata Kelen, ao frisar a importância de ser baderneira.

Atualmente, Kelen distribui as edições do jornal O Liberal para cerca de 30 jornaleiros durante a semana. Aos domingos, esse número aumenta para 40. Ao falar sobre como o trabalho é essencial em sua vida, ela o define como seu “ganha-pão”, de onde obtém o sustento de sua família. “Tudo que eu tenho hoje em dia, agradeço ao meu jornal, às vendas. Chego sempre cedo, porque tem freguês que quer ler o jornal logo cedo. E os jornaleiros têm o compromisso de levar. Mesmo com a internet, as pessoas querem o jornal impresso”, afirma.

Responsabilidade

Enquanto Kelen repassa os jornais, seu esposo, o jornaleiro Mário Sérgio, de 50 anos e com 40 dedicados à profissão, se prepara para ir aos locais de entrega e iniciar as vendas do dia. Ele herdou da mãe a missão de vender jornal e, desde então, expandiu o negócio para incluir a esposa. Acredita que esse trabalho é importante, pois as pessoas dependem dele para se informar. “Como eu adoeci há um tempo, pedi para a madame [esposa dele] me ajudar a distribuir. E ela ficou”, conta.

“Atendo leitores do Canudos, São Brás, Fátima, Nazaré e São Brás. A nossa clientela, em sua maioria, é de idosos, que esperam o jornal na porta. Eles ficam atualizados com o jornal que a gente leva. E eu criei os meus filhos com a venda do jornal. Só o caçula tem 26 anos. Criei nossos 4 filhos por meio dessa venda do jornal. Para mim, o jornal é de suma importância. É um privilégio dizer que faço parte dessa história. É gratificante saber que estou ajudando os outros a se informarem”, relata ele, sentindo-se parte dos 78 anos de O Liberal.

Baderneiros e jornaleiros

Legado

Os 78 anos de O Liberal também se entrelaçam com o trabalho de Patrícia Silva, 53, que há três anos trabalha como jornaleira em uma banca na avenida Pedro Miranda, no bairro da Pedreira, em Belém. A história com a venda de jornais começou com seu pai, que mantinha cinco pontos na capital e sustentava a família com essa profissão. Hoje, Patrícia assume a responsabilidade de levar informações diariamente aos fregueses, chegando ao ponto de venda por volta das 6h30 e permanecendo até a tarde. Ela reconhece a importância do trabalho como fonte de sustento e de conexão com os leitores.

O contato com os clientes é uma parte especial de seu trabalho, e Patrícia destaca a importância do jornal impresso, especialmente em tempos de desinformação. “Hoje, muita coisa na internet é fake news. Aqui, o assunto mesmo está no jornal”, afirma, valorizando o papel do impresso na transmissão de notícias confiáveis e bem apuradas. Ela explica que os leitores muitas vezes pedem ajuda para entender manchetes e se sente responsável em oferecer esse suporte: “Eu tento explicar, porque às vezes as pessoas só veem a manchete e não entendem o contexto.”

Importância

O trabalho dos baderneiros e jornaleiros é essencial para garantir que as notícias cheguem aos leitores, especialmente em tempos em que o jornal impresso enfrenta desafios frente às mídias digitais. Josias Campos, 50, supervisor de vendas externas com 24 anos no Grupo Liberal, reforça a importância desses profissionais, que são “verdadeiros guerreiros”. Ele lembra que muitas dessas pessoas sustentaram suas famílias e formaram filhos com a venda de jornais, e que alguns até passam a profissão de geração em geração. “Eles têm orgulho de trabalhar com o jornal e de dizer que criaram os filhos com essa profissão”.

Apesar dos desafios, Josias observa que o compromisso dos baderneiros e jornaleiros permanece forte, com uma dedicação incansável para que o jornal impresso continue presente nas ruas. Ele conta que, mesmo em épocas de grande demanda, como durante a cobertura eleitoral, os distribuidores esperam até tarde para garantir que as edições com pesquisas eleitorais cheguem aos leitores no dia seguinte. “Mesmo com as redes sociais diminuindo a quantidade de jornais na rua, esses distribuidores mantêm a chama do jornal impresso acesa”, afirma Josias.

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