Ansiedade e estresse no período da pandemia causam queda de cabelo e afloram outras doenças
Pele - Sentimentos relacionados à preocupação também agravam doenças dermatológicas
Na pandemia da covid-19, ocasionada pelo novo coronavírus (Síndrome Respiratória Aguda Grave - Sars-Cov-2), algumas manifestações na pele surgiram com pacientes, como lesões de aspectos vascular. Porém, ainda na pandemia, especialistas observam que a maioria da população teve ou está tendo queda de cabelo. Eles verificam ainda que houve piora e surtos de doenças dermatológicas com pacientes que até já tinham os problemas.
Algumas delas são dermatite seborreica, acne, psoríase, rosácea, urticária, herpes simples, algum quadro de enfisema e herpes simples e outras. Os principais sentimentos que desencadeiam os problemas são a ansiedade e o estresse, uma vez que eles são grandes inimigos da saúde da pele e potencializados na pandemia da covid-19.
Graduada em Gestão de Recursos Humanos, Suelen Serrão, 33 anos, é nascida em São Sebastião da Boa Vista, na ilha do Marajó, no Pará, e mora em Belém. Ela conta que sempre teve queda de cabelo, mas de forma bem moderada e ocorria mais quando fazia algum procedimento químico. Porém, na pandemia acredita que a queda aumentou.
“Desde a pandemia, tive que passar mais tempo com os cabelos presos por conta do vírus. Aí comecei a perceber queda com mais intensidade e cheguei a me assustar. Ainda hoje, apesar dos cuidados, com vitaminas e óleos, meus cabelos e também unhas continuam fracos, caindo e quebrando com mais facilidade”, afirma Suelen, que teve covid-19 confirmada, em maio.
Para ela, os problemas devem estar também relacionados às questões emocionais, já que teve grande perda na família. “Além das minhas perdas pessoais, tive a pior perda da minha vida, que foi o meu pai. Essa doença veio intensificar tudo, mas não positivamente. Ela não traz apenas sequelas físicas, mas, também emocional, tão difícil quanto de ser tratada”, lamenta.
A jornalista Clara Costa, 64 anos, graduada em Direito e Letras, teve infecção pela covid-19 confirmada, e relata que nunca teve problema de pele. Porém, no quarto dia de covid-19, de moderada a grave, dormiu e acordou “parece um monstro, parecia sarampo”. No momento atual, ela tem queda de cabelo.
“O que me preocupa é a queda de cabelos. Acredito que ela pode estar relacionada ao emocional, pois tenho um familiar entubado pela covid-19 e ando muito preocupada. Quanto à pele o médico disse que foi um agravamento devido à covid-19. Fiz tratamento e melhorei. Mas, ainda hoje, se eu tomar banho com água quente, a pele volta a ficar irritada. Minha preocupação é se essa sequela será para sempre”, afirma Clara Costa.
Há oito meses, pinicadas fortes, coceiras intensas e em todas as partes do corpo são alguns tormentos que Heloá Canali, 34 anos, sente. “Eu já tinha alergia altíssima a níquel. No início de março, surgiram coceiras 'do nada'. A pele fica extremamente quente, vermelha e com marcas. É como se outra pessoa tivesse me arranhado. Ficam em alto relevo e só amenizam com uso de antialérgicos fortes, cremes hidratantes específicos e muita paciência”, reclama Canali, que é jornalista e pós-graduada em Comunicação e Marketing em Mídias Digitais.
Ela diz que foi ao alergista e dermatologista, fez vários exames (de contato e sangue), e constatou outras alergias, como a perfume, chocolate, tomate e clara de ovo. “Coisas que evito e, mesmo assim, a alergia na pele continua. Já percebi que quando me irrito ou fico muito ansiosa elas surgem. Mas ocorre também em momentos que estou tranquila e até mesmo em lazer”.
A alergista cogitou que Heloá, que fez exames para a covid-19 e não deram anticorpos, esteja com uma doença chamada "dermografismo", a qual não tem causa definida e pode aparecer e desaparecer a qualquer tempo da vida.
Estresse emocional desequilibra a pele e desencadeia doenças
A doutora Rossana Veiga, mestra em Dermatologia e professora da Universidade Federal do Pará (UFPA), explica que o ser humano tem o hormônio chamado cortisol, que é circulante no organismo, e quando a pessoa fica estressada (talvez pelo momento em que o Brasil, o Pará, Belém e o mundo vive por conta da pandemia) começa a aumentar o estresse. Isso vai facilitar a liberação de algumas substâncias, que vão aumentar os processos inflamatórios imunológicos de defesa da pele.
“O estresse emocional desequilibra a pele e leva os pacientes a terem doenças que já teriam. E as doenças que têm características inflamatórias, imunológicas e até mesmo algumas infecciosas tendem a piorar com essa situação. É por isso que as doenças dermatológicas surgiram bastante e pioraram nesse momento da pandemia e se estendendo”, esclarece a dermatologista.
Consultórios
Ainda segundo ela, na pandemia algumas manifestações surgiram com alguns pacientes em estado grave da covid-19, como lesões de aspectos vascular, mas não os levou ao agravo da doença.
“Pela covid-19 foram observadas algumas manifestações dermatológicas, com extremidade, como vasculares, que ocorreram no pulmão e outros órgãos, e repercutiram na pele. No entanto, não trouxe o agravamento da doença. Algumas dessas manifestações de pele só vimos em alguns pacientes em estado grave da covid-19”.
Todavia, na pandemia, o que os dermatologistas, em geral, percebem nos consultórios é que houve piora e surtos de doenças dermatológicas em pacientes já até tinham.
“O percebemos é elas afloraram mais, ficaram mais evidentes. Observamos (dermatologistas) que essas doenças hoje, no Pará, pioraram muito mais pelo emocional e não pelo clima ou temperatura da região”, afirma a doutora Rossana Veiga, coordenadora do Serviço de Dermatologia da UFPA, no Hospital João de Barros Barreto, em Belém.
Além disso, a dermatologista destaca que a maioria da população teve ou está tendo queda de cabelo devido ao “eflúvio alogênico”.
“Isso significa dizer que é algo possível de ocorrer devido ao susto ou impacto psicológico que a pessoa sente com medo da morte, pela ansiedade, pela perda de familiar e outras situações. Assim, o nível de cortisol aumenta, libera substâncias, o cabelo para de crescer e alguns começam a cair. É a doença que nós, dermatologistas, estamos mais atendendo nos consultórios”, constata a doutora.
Compreender o vírus ajuda a manter o equilíbrio
A mestra em Dermatologia e professora da UFPA enfatiza que se a pessoa ficar muito mais estressada e ansiosa não vai adiantar tratar a covid-19. Nem obter melhoria em relação às doenças de pele afloradas na pandemia.
Uma das possibilidades que ajudam a diminuir esse problema e manter o equilíbrio emocional e, assim, ajudando a baixar o nível do cortisol no organismo é entender a pandemia.
“É necessário compreender a doença e o momento que estamos passando. E que não somos somente nós, mas o mundo inteiro. O ideal é procurar manter toda a profilaxia que toda a imprensa e saúde está falando de se manter protegido com a covid-19. E encarar a restrição e isolamento social que vivemos, e tentar manter isso com naturalidade, ao máximo, junto à família, para evitarmos adoecer de outras coisas. Essa é a visão mais calma que podemos dar às pessoas agora”, orienta a médica.
Caso a doença de pele aflore muito, é preciso procurar ajuda médica para tratar e controlar a doença. “Se tratar, é possível controlar e segurar as doenças que pioraram. Aquilo que não está conseguindo aguentar e que dê suporte ao emocional, a pessoa deve procurar ajuda junto aos profissionais de saúde”, afirma Veiga.
Serviços de Dermatologia pelo SUS
O Serviço de Dermatologia da Universidade Federal do Pará funciona no Hospital Universitário João de Barros Barreto (HUJBB), do Complexo Hospitalar da UFPA/Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh). Para ser atendido, o paciente precisa de encaminhamento da atenção básica para ser referenciado via Sistema Único de Saúde (SUS) para o ambulatório.
Outro atendimento gratuito à população pelo SUS é o Serviço de Dermatologia da Universidade do Estado do Pará (Uepa). O agendamento acontece de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h, por telefone. O atendimento geral ocorre de segunda a sexta-feira, das 7h às 15h. Já o agendamento especializado em psoríase é feito na quarta e sexta-feira das 13h às 14h, presencial. O atendimento especializado em psoríase acontece segunda e quinta, das 13h às 14h. Para atendimentos especializados em psoríase é necessário trazer o encaminhamento clínico do médico do SUS para efetuar o agendamento. Os serviços são realizados na Uepa, na travessa Perebebuí, 2623, no bairro do Marco, em Belém. Contato: 91 - 3131-1756/1760.
Em Belém, a Secretaria Municipal de Saúde (Sesma) também disponibiliza consulta com o dermatologista. Ela faz parte do atendimento especializado e, portanto, o usuário precisa ser encaminhado a partir de um atendimento em uma Unidade de Saúde. A Sesma possui dermatologista na rede credenciada e no Centro de Especialidades Médicas e Odontológicas.
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