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Produção x Riqueza: a conta que não fecha

Professor João Cláudio Arroyo faz análises econômicas relacionadas ao Pará e destaca dados importantes de diversos segmentos

Prof. João Claudio Tupinambá Arroyo
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A Amazônia não é rica, mas seu povo produz muito. Precisamos entender e aceitar esta ideia sob pena de nos manter na ilusão colonizadora. Temos muitos recursos, produzimos muito, mas riqueza é a efetiva qualidade de vida da grande maioria das pessoas em um território, isso é desenvolvimento. No mundo todo é compreendido assim. Vamos aos dados científicos?

Para nos aproximar da realidade, tomamos como referência o estado do Pará. Estado de maior PIB da Região Norte, exemplo histórico do desenvolvimento da região, que é muito próximo do que acontece com o Brasil como um todo. Vamos combinar dados obtidos da OCDE, IBGE, IPEA, BC e Fapespa...

O Pará é o 10º PIB entre os 27 estados, no ranking nacional, produzindo 3% do que o Brasil produz. Algo em torno de 263 bilhões de reais. Um PIB/capita, de 30 mil reais por pessoa por ano, o que daria 2.500 reais por mês. Nesta estatística estão as crianças, idosos deficientes etc, Na prática, esta renda se divide entre a PEA (População Economicamente Ativa) do Pará. 

Assim, teríamos por pessoa economicamente ativa, a remuneração/renda média mensal de 4.333,00. “Em 2023, o rendimento nominal mensal domiciliar per capita no Pará era de R$ 1.282”. Não achei o número de paraenses por faixa de renda, o que seria fundamental para avaliar a distribuição do fluxo do consumo – que é o que mais se aproxima do conceito de riqueza.

Sim, PIB, como o nome diz, Produto Interno Bruto, mede produto, produção, a capacidade de trabalho de uma população de um dado território. Riqueza é o que esta população internaliza, da renda gerada, em sua qualidade de vida, que passa pelo consumo, combinando quantidade e qualidade deste consumo.

Nosso IDH (0,69), Índice de Desenvolvimento Humano, que se aproxima um pouco mais de “qualidade de vida”, coloca o Pará na 23ª posição no ranking nacional entre os 27 estados da federação. Mais de 2 milhões de famílias paraenses estão no CadÚnico, porque têm renda familiar inferior a R$ 706,00. 

No ranking nacional de competitividade estamos em 21º, no de Sustentabilidade Social estamos em 24º, no de Infraestrutura somos os últimos, 27º. Mas, no de Potencial Mercadológico estamos no 9º lugar. Mas não se alegre, empreendedor local, quem organiza este ranking não vive aqui. E, aí aparece uma ponta do rabo do bicho feio que aqui separa Produção de Riqueza e desenvolvimento.

Do PIB do Pará, cerca de 7% apenas vem da Agropecuária, 25,5% vem da Indústria, majoritariamente extrativa, de baixo valor agregado. E mais de 67% vem de Serviços (Bancos, Comércio, Transporte, Comunicação, Saúde, Educação etc) mas muito pouco se debate sobre este setor que não detém nenhum poder sobre a agenda política local. Exatamente o que sustenta a economia interna e que poderia internalizar os recursos que passam pelo estado do Pará.

Chegam com a COP e suas soluções. Vivemos isso mesmo depois da Rio 92, Conferência da ONU sobre desenvolvimento. Quanto mais soluções trouxeram, mais problemas tivemos. Agora é a vez da bioeconomia, economia verde, crédito do carbono, etc. O glorioso Açaí, já movimenta 6 bi por ano, destes, quase nada fica com o peconheiro e suas comunidades. Não há solução de fora se não for requalificada a partir de nossas realidades e seus sujeitos locais.

A solução estrangeira das comodities tem sido um desastre. Produzimos Ferro e importamos Aço, exportamos valor. Trabalhamos muito, produzimos muito, mas não internalizamos riqueza. Precisamos romper com inteligência e identidade amazônida esta sequela do período colonial e passar à produção de alto valor agregado, do que já temos de recursos e saberes. Está em nossas mãos...estará em nossas cabeças?

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