Mulheres do Aurá ganham independência financeira a partir de cursos gratuitos

A entidade Pará Solidário faz parceria com profissionais da área de confeitaria, ovos de Páscoa, brechós e mídias sociais

Elisa Vaz
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Mulheres que fazem parte de uma comunidade no Aurá, em Ananindeua, veem suas vidas transformadas a partir da capacitação, ganhando novas opções de renda e independência financeira. O projeto social Pará Solidário, que atua na Região Metropolitana de Belém, promove uma série de oficinas e cursos de profissionalização para estimular o empreendedorismo feminino na região, especialmente para as mulheres que atuam como catadoras de lixo.

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Representante da comunidade e membro da equipe de organização e distribuição de alimentos do Pará Solidário, Alda Gomes, de 42 anos, também coordena as turmas de mulheres. “A gente começou a parceria com o Pará Solidário e ele veio para ficar. Nosso projeto era de sopa e a gente não tinha recursos para fazer nada, só dava sopa mesmo. Depois a entidade entrou, ofereceu o trabalho, ofereceu projetos, aqui a gente tem aula particular, recebe pessoas que vêm dar curso para a gente. Já teve de ovos de Páscoa, panificação, comida, tudo aqui já tivemos, é uma oportunidade muito boa”, comenta.

image Alda Gomes, que coordena os cursos junto à comunidade do Aurá, conta que as aulas são "uma oportunidade muito boa” para as mulheres (Thiago Gomes / O Liberal)

Capacitação

Até o momento, Alda acha que o curso que mais deu certo foi o de brechó. Uma das alunas, inclusive, já está montando sua própria empresa e sonha em conseguir sustentar sua mãe, que já é idosa e trabalha como catadora de lixo no Aurá. Lídia Santiago, de 30 anos, fez vários cursos, como o de panificação e o de ovos de Páscoa, mas foi na área de brechó que realmente se encontrou. Moradora da comunidade há 24 anos, ela agora está empenhada em inaugurar sua própria loja de roupas.

“Eu me interessei por todos os cursos. O de panificação eu nunca tinha visto como fazer um pão, parece muito difícil, mas na prática é tão fácil! O de ovos de Páscoa também gostei, porque não temos condições de comprar um bonito para os nossos filhos e aprendemos a fazer. Mas eu quis aprender os dois para fazer em casa, não para empreender, porque foi no curso de brechó que me encontrei”, lembra a aluna.

image Aos 30 anos, Lídia Santiago descobriu a vocação com os brechós e monta o próprio empreendimento para ajudar a família (Thiago Gomes / O Liberal)

Lídia saiu do curso com um norte, mas sem nada concreto. Hoje já tem um espaço físico, comprou manequins, recebeu doações de roupas e também participou das aulas de mídias sociais, para aprender a vender e fazer publicações no Instagram. “Está faltando só a fiação elétrica e um ferro no provador para funcionar o meu brechó. Já tenho o espaço físico, a coisa mais fofa do mundo, e manequins também - um adulto, dois infantis e dois bustos. Quando começar, quero fazer o Instagram, mas já tenho um grupo no WhatsApp. O nome é ‘Brechó Girassol’”.

Transformação

Desde que começou a empreender, Lídia sonha em melhorar a situação de sua família. O objetivo dela é conseguir sustentar a mãe, para que ela saia do lixão do Aurá e descanse. “Ela ainda trabalha lá, mas eu quero terminar de montar meu brechó e não quero mais que ela trabalhe lá, já está idosa e é muito perigoso”.

Com três filhos, de dois, cinco e dez anos de idade, a empreendedora também busca um futuro melhor para os pequenos. A filha mais velha aprendeu a ler em aulas do Pará Solidário, aos oito anos, e hoje ajuda Lídia a trocar mensagens com clientes. A criança conseguiu, por meio do projeto, uma bolsa de estudos em uma escola particular.

Outra mudança na vida da empreendedora foi a conquista da casa própria: Lídia foi contemplada em um braço do Pará Solidário que ajuda a construir moradias de alvenaria para comunidades. “Minha casa era de tábuas, na época que eu trabalhava como catadora pegava as tábuas e fiz minha casa, mas estava muito precária, molhava tudo, enchia, e hoje mudou toda a minha vida. Construí no fundo do quintal da minha mãe. Não é uma mudança só para mim, é para toda a família”, celebra.

Confeitaria

A cake designer - ou designer de bolos - Gianna Serrão já é parceira do grupo há vários anos. Inicialmente, foi convidada pela coordenadora do Pará Solidário, Sofia Paz, para dar algumas aulas na comunidade, mas a prática se tornou frequente e a empreendedora chegou a ensinar as mulheres a fazer bolos, tortas e até ovos de Páscoa, como forma de garantir uma renda extra às alunas.

No começo, Gianna conta que não havia muita estrutura, e boa parte dos equipamentos foi conseguida por meio de doações. Até hoje, quando são realizados os cursos e oficinas, o próprio projeto compra os insumos, e a designer leva sua batedeira para o local, no Aurá.

image Professora das mulheres no Aurá, a cake designer Gianna Serrão tem parceria com o projeto há vários anos (Thiago Gomes / O Liberal)

“Nós estipulamos uma quantidade de alunas, ela me informa se a turma foi fechada e eu venho. Já pergunto o que está faltando e trago, e o projeto compra algumas coisas também. Tem curso de um dia inteiro, de metade do dia, depende do horário das meninas. As crianças também são muito interessadas e participam com as mães”, relata a professora.

Para Gianna, esses cursos transformam vidas. O maior benefício é a garantia da independência financeira, segundo ela. “Não depender de ninguém é fabuloso. E coisas como comprar um fogão, que muita gente não dá valor, para elas é maravilhoso. A gente vê a alegria nos olhos delas quando compram um fogão ou uma geladeira. E poder comprar roupa, ajudar os filhos, isso faz uma diferença total na vida delas”. A organizadora Alda Gomes comemora que o grupo está “encaminhado” e algumas pessoas até conseguiram emprego depois das aulas.

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