Projeto em Marituba busca empoderar mulheres por meio do empreendedorismo 

Mais de setecentos atendimentos já foram realizados desde o início das ações que, hoje, contam com um espaço físico para realizar as atividades

Camila Azevedo
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O estado do Pará registrou 15 feminicídios entre janeiro e os primeiros dias de abril de 2023. O número já é 31,25% do total que a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Pará (Segup) contabilizou ao longo do ano de 2022. Essa realidade preocupante, em que muitas mulheres são forçadas a permanecer em situações de grave violência doméstica, vem de diversos fatores, entre eles, a falta de condições financeiras e psicológicas adequadas para se sustentarem sozinhas. E é por esse motivo que o Empodere-se, um projeto criado em Marituba, Região Metropolitana de Belém, busca desenvolver o empreendedorismo e promover a independência feminina.

A ideia surgiu a partir do entendimento desse cenário e da necessidade de ajudar outras mulheres. Consultoria empresarial, jurídica e psicológica são os serviços oferecidos para que elas tenham como alcançar os próprios meios de se destacar dentro do mercado. Além disso, o Empodere-se oferece capacitação com cursos, palestras e treinamentos voltados para as áreas de interesse de cada um das atendidas, tudo pensando no viés empreendedor e em como tornar essas pessoas as donas da própria história. Inicialmente, o projeto, que surgiu em 2019, era composto por cinco mulheres. Durante a pandemia da covid-19, porém, a iniciativa foi pausada no Pará e passou um ano no Piauí.

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É que a administradora e fundadora dele, Érika Fonseca, foi cuidar da família no estado. Ela conta que nem no período mais intenso da crise sanitária deixou de buscar ajudar as mulheres das comunidades em que visitava no nordeste. “Surgimos de uma grande vontade de ajudar mulheres no empreendedorismo. Depois de ler um livro muito interessante, despertou mais ainda esse interesse. Mas, com a covid-19, eu fui pro Piauí e lá mesmo pensei em começar a fazer algo para as mulheres. Muitas delas estavam fechando as portas e fazíamos encontros com 10 ou 15 delas, escutava as dificuldades e anseios e procurava soluções. Foram 55 mulheres impactadas por essa ação”, relembra.

Projeto Empodere-se em Marituba

Uma feira de eventos chegou a ser feita na época para que essas empreendedoras dessem passos longos mesmo com as restrições. Depois de um ano, Érika voltou para o Pará e, hoje, mais de setecentas já passaram pelas atividades do grupo no estado. “A gente retornou aqui com 10 mulheres que, de início, foram convidadas. Não é como hoje, que as pessoas que procuram a gente, já é pelo boca a boca. No começo, eu batia na porta e as chamava para acreditar nesse sonho. Somos, atualmente, uma rede fortalecida em Marituba e eu recebia ligações para levar o projeto para Benevides e Ananindeua, mas, nossos encontros são sempre pela parte da noite e isso dificultava a logística”.

Galeria do projeto é incentivo para mulheres

Com o sucesso que o Empodere-se alcançou, a necessidade de expandir o projeto foi além e hoje é vista em uma galeria. O local, em Marituba (em breve em Ananindeua e Benevides), é um espaço para que as mulheres possam começar a abrir o próprio negócio e sintam segurança no empreendimento. “A galeria é uma incubadora, onde vão nascer vários filhotes. São meninas que trabalhavam online e estão tendo a oportunidade de ter o físico. O ponto comercial foi dividido entre cinco mulheres, cada uma com seu segmento. Vou estar dando apoio, além do jurídico e psicológico e vamos acompanhar de perto a questão da precificação, do atendimento e da higiene”, detalha Éricka.

“Tem que ter força de vontade e essa incubadora vai servir para passar confiança. Elas têm no início, mas precisam trabalhar e aprender a gerenciar a questão do dinheiro, que hoje é o maior gargalo dentro do empreendimento. Quando elas aprendem isso, eu digo que está na hora de soltar, para ela ir para a própria loja e vem outras pessoas. Tem que ser um serviço rotativo. Não de início, mas, quando está pronta para ir sozinha - e quem escolhe é ela -, ela vai. Vamos ter cursos de confeitaria, panificação, marketing, cabeleireiros… Tudo está engatilhado para sair”, reforça.

Advogada reforça a importância do projeto para mulheres em vulnerabilidade

Boa parte das atendidas do projeto são mulheres que passaram (ou passam) por situação de violência doméstica. Para sair dessa realidade, o Empodere-se ajuda tanto com assistência jurídica, quanto psicológica e empresarial. Neila Costa, de 42 anos, é advogada e uma das voluntárias da iniciativa. De acordo com ela, quando as atendidas enxergam que existe uma vida em que ela é respeitada e protagonista dentro do próprio dia a dia, elas ganham coragem para enfrentar os desafios e são estimuladas a sempre irem em busca do novo que as descobertas oferecem.

“Quando elas veem que existe vida fora da violência e daquele âmbito, elas conseguem sair aos poucos, se encorajam. Então, essa é a importância do projeto: você estimular essas mulheres para que elas possam prover o próprio sustento, que elas podem buscar meios de se sustentar, de se custear e de sobreviver sem ter aquela dependência de ninguém e de nenhum programa social. A veia do empreendimento tem em cada um de nós e basta que ela seja estimulada na forma das habilidades pessoais de cada uma. O projeto dá certo justamente porque a propaganda é feita pelas mulheres que são atendidas. Não atendemos mais porque não temos condições e precisamos de parceria”, ressalta.

A ajuda de outras pessoas, como fornecedores, é fundamental para que o projeto consiga ter mais sucesso. Neila explica que conseguem doações de produtos para oferecer cursos, conseguem firmar parcerias com empresas para oferecer a capacitação e, assim, empoderar mais mulheres. “A intenção do projeto é fazer mais, mas, infelizmente, não temos condições. São duas pessoas ancorando com isso tudo. Temos empresas que nos ajudam, quando queremos fazer um curso de panificação, por exemplo, conseguimos o material doado. Muitas vezes, a pessoa que vem para o curso também doa. Isso é o que podemos fazer, porém, sempre encaminhamos essas mulheres para um curso de especialização”.

Sonho de empreendedora é crescer no mercado e ser feliz

Simone Ferreira, de 43 anos, é uma das empreendedoras que teve a vida transformada pelo Empodere-se. Ela conta que conheceu o grupo logo no início e foi sempre muito incentivada a ir atrás dos sonhos que mantinha guardado devido a realidade de violência em que estava. “Foi através do projeto que eu descobri que estava vivendo uma relação abusiva. Até então, eu não sabia que estava em uma prisão. Ele me proibia de ver meus amigos, de falar com meus parentes e, quando entrei aqui, ele dizia que não daria em nada, que só me incentivava a falar que ele era ruim. Mas, na realidade, eu estava vivendo uma violência psicológica, principalmente”, lamenta.

A situação piorou quando Simone recebeu o convite para ministrar curso de confeitaria a outras mulheres do projeto. Atualmente, além dessa ajuda, ela também tem uma confeitaria. “Ele não gostou e foi quando ele começou a me colocar lá para baixo. Depois disso, lembrei que eu sou empoderada, sou mulheres, eu posso e consigo. Quando ele fez isso comigo, eu disse que era o fim. Não aceitei mais isso e foi quando saí da relação, dei um basta. O Empodere-se me proporcionou liberdade. Hoje, sou livre dessa relação abusiva e muitas portas se abriram, muitas mesmo. Hoje, estou feliz. O projeto proporciona que muitas mulheres saiam do seu conforto, da comodidade para se empoderar”, completa.

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