Como setor paraense recebeu a fala de Lula sobre criar pacote de turismo para Amazônia

Para um proprietário de uma pousada em Cotijuba, é preciso mais ação: "o discurso é antigo, precisamos fazer chegar o estímulo".

Igor Wilson
fonte

Da tranquila ilha de Cotijuba, Cícero Demarchi viu, no celular, a notícia de que Lula quer criar um pacote de turismo para fazer “essa meninada do centro-sul do país” conhecer reservas indígenas, quilombolas e outras riquezas do bioma amazônico.

O presidente brasileiro deu a declaração ontem, durante entrevista para rádios do canal do governo federal. Para Lula, é preciso fazer com que os brasileiros que passam voando diariamente por cima da Amazônia para ir até Miami tenham vontade de conhecer a região brasileira e despertar assim um potencial turístico imensurável.

Cícero, catarinense que morou em diversos locais do Pará desde a década de 1960 e que hoje possui uma pousada chamada ‘A Casa da Ilha’, espera que dessa vez os incentivos cheguem às pessoas que pretendem empreender de forma harmônica com a natureza, pois o discurso é antigo.

“Eu vim pra cá pelo antigo Projeto Rondon. Naquela época já se falava muito em fomentar o turismo, mas pouca ação. Espero que dessa vez seja mais intenso o trabalho para isso. Que chegue até os nativos, a quem carrega a sabedoria daqui, eles são os únicos que podem mostrar as belezas com todo primor e fazer o setor ganhar o espaço que merece, pois nos últimos anos o incentivo foi só pra agronegócio”, diz Demarchi.

‘Na Raça’: A Realidade

image Bangalô construído por Cícero contou com ajuda de amigos e hoje hospeda turistas semanalmente. (Instagram A Casa da Ilha Cotijuba)

Por décadas, Cícero tem testemunhado as potencialidades turísticas da Amazônia serem subaproveitadas, enquanto ele, por conta própria, transformou um pedaço de terra na região conhecida como Pedra Branca, na ilha de Cotijuba, em um refúgio sustentável para os amantes da natureza que o procuram com frequência através das redes sociais. Sem incentivos governamentais, ele vendeu bens pessoais para financiar seu sonho de construir um espaço para hospedagem e terapias holísticas, com bangalôs onde é possível uma contemplação única da alvorada, do pôr do sol e do céu estrelado a poucos quilômetros da urbanidade da capital paraense.

“Eu conheci a ilha e logo tive o sonho de abrir algo aqui para receber as pessoas, movimentar a região. Na época não consegui financiamento, o banco considerava arriscado abrir uma pousada aqui, não me concedeu, tentei em mais de um. Então vendi uma casa e meu único carro para conseguir, fomos construindo aos poucos e hoje está dando certo”, conta.

Feirão Nacional do Turismo

image Ministro paraense fala sobre proximidade de lançamento de Feirão do Turismo, sem data para ser lançado. (ROBERTO CASTRO/MTUR)

A fala do presidente Lula foi recebida com entusiasmo pelo ministro do Turismo, Celso Sabino, que inclusive foi citado durante a entrevista, quando Lula disse que vai conversar com o ministro sobre a criação do citado pacote.

Ainda sem saber de detalhes sobre o pacote citado pelo presidente, Sabino afirmou que a fala de Lula vai ao encontro da estratégia do Ministério do Turismo de incentivar e garantir que mais brasileiros conheçam a Amazônia. Para Sabino, a realidade mais palpável para dar um primeiro passo neste plano é o Feirão Nacional de Turismo, iniciativa que faz parte de uma campanha nacional para movimentar a economia em todo o país e apoiar atrativos turísticos e empresários de todos os ramos durante as épocas de menor movimentos também, ainda sem data para ser lançado.

“Vamos realizar em breve o Feirão Nacional do Turismo, que vai contar com milhares de destinos brasileiros com preços promocionais, incluindo descontos em passagens, hospedagens e passeios turísticos”, disse o ministro.

Enquanto isso, dados sobre o turismo na Amazônia revelam crescimento, mas um potencial ainda subexplorado. Apesar de ser a maior reserva de biodiversidade do planeta, a Amazônia recebe apenas uma fração dos turistas que visitam o Brasil. Em 2023, o Pará foi visitado por 990 mil pessoas e fechou o ano com um incremento de R$ 750 milhões em receita vindas do turismo. O número representa uma alta de 13%, na comparação com 2022, no entanto, é unânime entre os especialistas que pode ser bem maior.

Entre as cidades mais visitadas está a capital Belém; Soure e Salvaterra, na Ilha do Marajó; Salinópolis, Santarém e Alter do Chão, que atraem pelas belas praias de água doce. Além de movimentar a economia, o crescimento do turismo na região também impactou o mercado de trabalho. De acordo com o Governo do Estado, em 2023, o setor turístico foi responsável pela criação de cerca de 60 mil novos empregos.

Enquanto a COP 30 se aproxima, trazendo os olhares do mundo para a urgência de proteger a Amazônia e combater as mudanças climáticas, empresários como Cícero veem nesse momento uma chance de transformar os discursos em ações tangíveis. Para eles, o futuro do turismo na Amazônia depende não apenas de promessas políticas, mas de medidas concretas que promovam o acesso, a preservação e o desenvolvimento sustentável dessa riqueza natural incomparável.

Entre no nosso grupo de notícias no WhatsApp e Telegram 📱
Economia
.
Ícone cancelar

Desculpe pela interrupção. Detectamos que você possui um bloqueador de anúncios ativo!

Oferecemos notícia e informação de graça, mas produzir conteúdo de qualidade não é.

Os anúncios são uma forma de garantir a receita do portal e o pagamento dos profissionais envolvidos.

Por favor, desative ou remova o bloqueador de anúncios do seu navegador para continuar sua navegação sem interrupções. Obrigado!

ÚLTIMAS EM ECONOMIA

MAIS LIDAS EM ECONOMIA