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Imigração japonesa: comunidade nipo de Belém comemora 115 anos de história com o Brasil

A data, que foi instituída por meio da Lei nº 11.142, de 25 de julho de 2005, celebra a chegada da primeira leva de imigrantes japoneses no porto de Santos, em São Paulo, no ano de 1908

Gabriel Pires

O Dia Nacional da Imigração Japonesa, neste domingo (18), é marcado pelos 115 anos de vinda da comunidade nipônica para o Brasil. A data, que foi instituída por meio da Lei nº 11.142, de 25 de julho de 2005, celebra a chegada da primeira leva de imigrantes japoneses no porto de Santos, em São Paulo, no ano de 1908. A imigração — que foi um acordo entre os governos japonês e brasileiro — se deu devido a uma grave crise econômica enfrentada pelo Japão no início do século XX. Ao mesmo tempo, o Brasil estava enfrentando uma demanda por mão de obra na indústria cafeeira.

Com mais de 700 imigrantes, os primeiros japoneses chegaram ao País na embarcação Kasato Maru. Esse fato deu início à formação sociocultural e da população brasileira, promovendo a miscigenação observada hoje. A troca cultural, como explica o Cônsul principal do Japão em Belém, Satoshi Morita, é de grande importância para a identidade nacional. Atualmente, estima-se que vivem, aproximadamente, 2 milhões de japoneses e descendentes no Brasil.

“A imigração japonesa trouxe na sua bagagem a cultura e o cotidiano de suas regiões de origem, principalmente os hábitos alimentares, o que acarretou o cultivo e introdução de variedades de hortaliças, de legumes e frutíferas antes desconhecidas na mesa do brasileiro. Hoje, verificamos o consumo de produtos como caqui, maçã, pera, acelga, brotos de feijão, broto de bambu, entre outros. Também os pratos japoneses como sushi e sashimi, tempura, lámen e outros, além da degustação do chá, estão tão enraizados no dia a dia e no dicionário brasileiro, de modo que todos conhecem”, explicou Morita.

image Em celebração à data, o Cônsul principal do Japão em Belém, Satoshi Morita, comenta sobre as influências da comunidade japonesa para o Brasil e ao intercâmbio cultural entre os dois países (Carmem Helena / O Liberal)

Os costumes nipônicos também são observados nas mais diversas gerações e nos variados espaços, de acordo com o Morita. “Não podemos esquecer da cultura do anime e do mangá, que são os desenhos animados e os gibis japoneses, muito difundidos principalmente entre a geração jovem desde a década de 70, quando começaram a ser exibidos em televisão e mais tarde se tornou um boom na década de 90 e que continua até os dias de hoje. No esporte, vemos a introdução das artes marciais e suas representações no judô, karatê, kendô e beisebol, por exemplo”, afirmou.

No Pará, o estimado é de cerca de 40 mil japoneses e descendentes nipo-brasileiros. E as trocas culturais são amplamente presentes na região. “Há um tempo atrás, nos eventos culturais japoneses verificamos apenas as danças e artes japonesas. Mas atualmente, vemos a mistura das culturas local e nipônica, como a dança japonesa bon-odori e o carimbó em um mesmo evento”, comentou o Cônsul.

Raízes

Aos 7 anos de idade, o médico Yuji Ikuta, também presidente de honra da Associação Pan-Amazônia Nipo-Brasileira, hoje com 76 anos, chegou junto dos pais e dos irmãos ao Pará, em 1955. Hoje, com 76 anos, Ikuta celebra a união da cultura nipo-brasileira e comenta a trajetória trilhada no país. Já no Estado, Yuji e a família se estabeleceram em Belterra, na região do Baixo Amazonas. Mas foi em Santarém que Yuji passou a infância. Durante esse processo, o médico lembra que um dos desafios foi se adaptar a uma nova língua, além das diferenças de hábitos. Entretanto, anos mais tarde Ikuta se tornaria médico, após realizar diversas certificações no Brasil e no Japão.

image O médico Yuji Ikuta, 76, chegou ao Brasil, mais precisamente em Belterra, no Pará, em 1955, com 7 anos de idade, junto dos pais e dos irmãos (Ivan Duarte / O Liberal)

“É uma história que marca toda a saga dos japoneses que vieram para o Brasil. Não só em 1908. Tudo isso foi graças aos pioneiros que contribuíram para o desenvolvimento do Brasil. E, hoje, nós estamos totalmente integrados aos brasileiros, nos costumes, hábitos e culinária. O Brasil foi enriquecido pelos imigrantes. A receptividade do povo brasileiro em relação a outros povos é de extrema importância. Minha formação e cultura é toda de brasileiros. Minha infância, meus amigos, meu colégio”, destacou Yuji.

No Pará, Yuji contribuiu para a medicina na região, atuando em Tomé-Açu e em Belém. E, até hoje, continua atuando na Beneficência Nipo-Brasileira da Amazônia. Mas a história de Ikuta vai além. Ele casou-se em 1975 com uma paraense e teve um filho, que levou o mesmo nome do pai e, também, herdou a mesma profissão. Ao longo de mais de todos esses anos, Yuji guarda boas memórias de tudo que viveu no Estado até aqui e considera que povo paraense é “acolhedor”.

Ikuta reforça, ainda, a influência japonesa no cotidiano brasileiro, sobretudo dos paraenses. “O nosso povo paraense já é consumidor de kimonos, sandálias japonesas, além de outros costumes e hábitos ”, declarou. “Em contrapartida, o povo japonês está integrado à cultura paraense. Gosto da música paraense, da culinária, do pato no tucupi e da maniçoba. Isso graças à receptividade do povo paraense. Eu me sinto como paraense. São 60 anos da minha vida aqui. Meu filho nasceu aqui. E tenho um neto, ele dança carimbó”, afirmou Yuji.

A nova geração também mantém viva as tradições culturais japonesas, como é o caso de Kezia Yamaki, 32 anos, empreendedora do ramo de culinária japonesa. “Nasci no Brasil e nunca conheci o Japão, meu pai nasceu em Tomé-Açu, ele é da primeira geração nascida no Brasil na nossa família. A cultura japonesa se faz presente no tirar os sapatos ao entrar em casa, no meu pai fazendo contas no ábaco, nos álbuns de família e vinis de Karaokê. Está presente desde que nasci e me traz conforto, sem anular a cultura paraense que existe em mim”, disse Kezia.

“Existem muitos projetos nas redes que têm provocado na nova geração o desejo de entender nossas origens: podcasts, canais como o Gohango que ensina preparos de pratos asiáticos, trends sobre cultura mista no tik tok, entre tantos outros. Buscamos muitas vezes referências ancestrais para nos expressar. Na internet, ouço de outros nipo-brasileiros da minha geração as mesmas vivências. Não me sinto sozinha. Nossa interação nos fortalece como comunidade virtual também”, comentou.

(Gabriel Pires, estagiário, sob a supervisão de João Thiago Dias, coordenador do Núcleo de Atualidades)

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