Espécie de peixe pode dar choque quase 10 vezes mais forte que tomada
Especialistas apontam que as espécies são as mais perigosas do mundo. Paraense está entre os pesquisadores da descoberta
Pesquisadores de várias partes do mundo publicaram um artigo científico na revista Nature Communications afirmando que o poraquê tem três espécies, e não somente uma, como se pensava anteriormente. A pesquisa foi realizada em colaboração pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Smithsonian Institution e National Geographic Society.
Após dez anos de pesquisa, os especialistas apontam que as espécies são as mais perigosas do mundo. A descarga elétrica do peixe pode chegar a 900 volts de tensão.
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O animal vive em águas turvas e com fundos lodosos, medindo até 2,5 metros de comprimento e pesando 20 quilos. Eles são adaptados a água com baixa concentração de oxigênio, segundo o Ministério do Meio Ambiente. Além de utilizar a tensão para se proteger, o poraquê mapeia o ambiente emitindo os pulsos elétricos de baixa voltagem, porque enxergam muito mal.
Brasileiros descobrem nova espécie de poraquê
Três brasileiros fazem parte da equipe que desenvolveu o estudo sobre a nova espécie de poraquê. Entre eles, está o pesquisador paraense Luiz Antônio Wanderley Peixoto, que é pós-doutorando do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP), sob supervisão de Aléssio Datovo da Silva, pesquisador principal do eixo temático e professor na mesma instituição.
O paraense explica que existem mais de 250 tipos de peixes-elétricos no mundo. Porém, a maioria tem uma voltagem tão baixa, que nem causa efeito no ser humano.
"Nas espécies em que ocorrem, usam eletricidade que produzem para quatro funções: comunicação, percepção do ambiente, detecção de presas e encontro de parceiros potencialmente produtivo", conta o pós-doutor.
No caso do poraquê, ele é o único que tem a capacidade de causar um choque mais forte.
Quantas espécies de poraquê existem?
Até a publicação do artigo científico, acreditava-se que existia apenas uma espécie de poraquê (Electrophoros eletricus). Diante dos estudos, os pesquisadores encontraram outras duas espécies.
- Electrophorus varii: pode chegar a uma tensão de aproximadamente 600 volts;
- Electrophorus voltai: pode chegar até 900 volts.
O poraquê, que já era conhecido, vive na região conhecida como "escudo das guianas", que vai da Guiana até a Guiana Francesa, passando pelo Suriname e Brasil, especialmente a na região amazônica. Ele é menos forte, pois emite uma descarga de até 500 volts.
A espécie mais perigosa, o voltai, foi encontrada no "escudo brasileiro", na Amazônia, especificamente na margem direita do rio Amazonas.
O pesquisador Luiz Antônio Wanderley Peixoto explica:
"Essa voltagem é de aproximadamente sete vezes a potência que temos em uma tomada de casa. É uma capacidade de produção muito grande dessa espécie, sendo o organismo com maior produção e descarga elétrica do mundo".
Qual o significado do nome poraquê?
A origem do nome do peixe-elétrico mais perigoso do mundo vem do Tupi.
O seu nome quer dizer "aquele que adormece/atordoa".
Como o poraquê dá choque?
O paraense Luiz Antônio Wanderley Peixoto explica que, assim como o corpo humano, numa escala maior, os peixes também têm a capacidade de produzir eletricidade: "De maneira mais simples, basicamente, tudo é eletricidade, as nossas sinapses, por exemplo, ocorrem de duas maneiras: química ou eletricamente. O fato de conseguirmos mexer o músculo do braço ou o coração batendo ocorre por meio de sinapses elétricas, com a troca de informações neurológicas e os órgãos, que recebem a informação para se movimentarem ou não".
Além disso, o pesquisador apontou o motivo dos choques do poraquê serem mortais: "O que acontece é que, ao longo de milhares de anos no processo evolutivo, esses animais levaram essa capacidade ao extremo. Estes peixes, inclusive, desenvolveram órgãos específicos para a produção da eletricidade". "Os órgãos elétricos ou de descargas elétricas, na maioria dos peixes que emitem essas descargas e especificamente no poraquê, os músculos foram modificando ao longo da história evolutiva desses animais e se transformando em órgãos elétricos", completou.
Neste caso, o tamanho do órgão tem relação com a quantidade de energia produzida e a capacidade de dar choque. "No caso do poraquê, 80% do corpo é responsável pela produção de eletricidade, que é produzida pelos músculos do corpo, por isso a descarga é tão grande. Quanto maior o tamanho do bicho, maior a sua capacidade de emitir descarga elétrica. Enquanto há espécies marinha onde a produção é feito pelo músculo dos olhos, por isso a voltagem é baixa", afirmou o pesquisador.
Quais outras espécies dão choque?
Apesar de o poraquê ser o animal elétrico mais perigoso do mundo pelo fato de poder dar uma descarga de até 900 volts, ele não é o único que pode dar choque. O pesquisador Luiz Antônio Wanderley Peixoto comentou sobre quatro espécies:
- Malapterurus eletricus: é um bagre africano encontrado em algumas partes da Ásia. A sua descarga pode chegar até 400 volts.
- Torpedo marmorata: Arraia torpedo encontrada no oceano Atlântico e com registros no mar Mediterrâneo, além de algumas partes da região sul e sudeste do Brasil. A sua voltagem máxima é de até 220 volts, o equivalente ao choque da tomada elétrica
- mais forte de uma casa.
- Uranoscopus anoplos: o peixe percomorfo é a espécie que tem o choque mais fraco, que pode chegar a 50 volts. O animal vive em ambientes marinhos, comumente encontrado na costa dos oceanos Atlântico e Pacífico.
- Raja pulchra: estas arraias são encontradas nos oceanos Atlântico e Pacífico e possuem a capacidade de emitir choque de até 50 volts.
Como se defender de um poraquê?
O pesquisador Luiz Antônio Wanderley Peixoto conta que o poraquê utiliza o choque como uma forma de defesa. Por isso, é importante manter a distância, já que ele pode ser encontrado em rios e igarapés. "Eu, por exemplo, já nadei perto de um animal desses e não fui atacado", relevou o autor do estudo.
(Escrito por Rafael Lédo, estagiário de Jornalismo, sob supervisão de Vanessa Pinheiro, editora web de Oliberal.com)
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