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Quanto mais likes e views, melhor!

Lorena Filgueiras

As motivações para criadores de conteúdo foram inúmeras durante pandemia: do desejo de produzir materiais que pudessem diminuir a solidão e angústia dos quarentenados à uma explosão de criatividade. O fato é que inúmeros perfis conquistaram milhares de novos fãs e multiplicaram – consideravelmente – os números de seguidores.

“Quando começou a pandemia, de início, eu fiquei muito assustado. Fiquei tão assustado, que não conseguia fazer áudio nenhum, nem os áudios cotidianos do Epaminondas. Aí, uma amiga minha, juíza do trabalho, com quem faço uma campanha de combate ao trabalho infantil, me pediu. ‘Claudinho, continua fazendo. Nesse momento de pandemia, as pessoas precisarão do teu humor limpo, leve’. Mas eu estava muito tenso – tinha perdido amigos muito próximos. Fiquei muito angustiado e achava que, como estava suspensa toda a minha agenda de shows, até do Epaminondas eu teria um isolamento”, revela o juiz Cláudio Rendeiro, que dá vida ao divertidíssimo Epaminondas Gustavo, quando perguntado sobre o que o motivou a seguir gravando o mais amado caboclo de São Caetano de Odivelas.

A amiga, pra nossa felicidade, insistiu, ao que Rendeiro tomou fôlego e começou a fazer os áudios, mudando e ajustando o conteúdo. “Lembrei dos amigos fictícios do Epaminondas, como compadre Bêna, Lodíca, as quadrigêmeas, a Soraia. Criei, dentro do instagram, o ‘Diário do Bêna’, em que todo dia acordo [o Epaminondas] contando uma história engraçada do compadre. Transformei alguns áudios famosos em vídeos e outros são histórias que aconteceram comigo e que soquei tudo no Bêna. Começaram a surgir feedbacks muito legais das pessoas no instagram”, conta. Mas a mãe do juiz se manifestou também – achava que o as pessoas poderiam se ofender com as piadas e risada horrorosa [como ela mesma sempre definiu] do querido personagem. “Minha mãe [Dalva Rendeiro] me mandou uma mensagem dizendo que eu não fizesse isso, porque, afinal, as pessoas estavam perdendo entes queridos. O temor dela era de que as pessoas achassem que eu estava debochando com a minha gargalhada. Tive que explicar pra ela que não era deboche, era humor. Mandei algumas coisas e ela entendeu. Enviei para ela também alguns depoimentos bonitos, comoventes, de filho que me dizia que os áudios do Epaminondas estavam ajudando a mãe, que tem depressão. Recebi também mensagens de pessoas que estavam fazendo tratamento contra o câncer e que atestavam o poder terapêutico da gargalhada horrorosa [do personagem]. Desde que o Epaminondas nasceu, como todos os conhecem, em 2013, nunca tinha tido retornos como esses. Foi desafiador, porque tive que criar outra forma de falar, mas a resposta foi muito positiva – ao passo de que em março, logo que a pandemia começou, eu tinha quase 20 mil seguidores e agora tenho 43 mil”, detalha todo feliz.

A visibilidade aumentou e, com ela, a responsabilidade, que já era grande, também. Cláudio Rendeiro passou a participar ao vivo de bate-papos na internet, as chamadas lives. “Montei um cenário do Epaminondas no banheiro do meu quarto e o transformei num quadro chamado “Epaminondas Gustavo na retréti” e agora criei o “Confrenti”. Inicialmente fazia lives três vezes por semana, todas com caráter solidário e, posteriormente, fui convidado pelo músico Allan Roffé para fazer outras, de modo a ajudar os artistas que cantam na noite ou que precisam estar em público para garantir seus sustentos e essas participações com o Allan, têm o objetivo de ajudar com um cachê solidário”.

Uma curiosidade: Cláudio Rendeiro me recebeu pessoalmente, mais uma vez, para um bate-papo. Desta feita, na aconchegante cozinha de seu apartamento. Entre “cores de Frida Kahlo” (como ele define) e muitos apetrechos, um se destaca: trata-se do tripé que fica estrategicamente montado o tempo todo e voltado para o fogão, onde Rendeiro... ou melhor, Epaminondas compartilha receitas, curiosidades. A ideia surgiu naturalmente porque o criador adora cozinhar, logo, a criatura assumiu o lugar e transformou em quadro fixo o momento gastronômico “Cozinhando com Epaminondas Gustavo”. Deu tão, tão certo, que chamou a atenção de marcas da indústria alimentícia – que doam cestas básicas a quem precisa, por solicitação do próprio Rendeiro.

Amor por Belém

O historiador Michel Pinho, 45, mantém perfis atuantes em quatro redes sociais diferentes: Twitter, Instagram, Facebook e YouTube. Diferentes também são os conteúdos em cada uma delas, conforme ele explica. “No Twitter, é o dia a dia, o assunto do momento, as questões são mais políticas e que envolvem a comunidade. No Instagram, a relação é mais estética, em relação à família e Belém. O Facebook tem um caráter mais nostálgico – é onde eu encontro minha família, minha mãe, amigos e ex-alunos e o YouTube é uma relação que voltei a conquistar, porque tenho o canal desde 2006 e estou retomando”. Embora tenham perfis diferentes, Michel explica que aborda apenas um assunto, que é a relação da história de Belém ou da Amazônia com a construção do patrimônio material edificado na cidade e na região – tratando-se, sobretudo, de uma extensão da pesquisa pessoal do historiador.

A produção de conteúdo foi intensificada um pouquinho antes de a pandemia chegar por aqui, em função da maior cheia [decorrente do inverno amazônico e chuvas intensas] sofrida por Belém. “Realizei uma live com um amigo, que é urbanista, sobre a cidade e as águas e a live deu mais de 5 mil pessoas”, conta. “Fiquei muito impressionado com isso. Logo depois do decreto da pandemia, produzi um conteúdo de podcast com o professor [e também historiador] Aldrin Figueiredo e houve uma quantidade enorme de gente debatendo. Em pouco mais de 20 dias, só no instagram, ganhei mais de 3 mil seguidores”. As motivações que motivam Michel Pinho a produzir partem de anseios pessoais, em relação à memória, história e patrimônio da cidade. “São minhas inquietações e imagino que possam inspirar outras pessoas, que não encontram conteúdo tão específico sobre a cidade de Belém, sua cultura e memória, a utilizar e trilhar um outro caminho acadêmico”, diz.

Se o que motiva muitos criadores de conteúdo a perseguir números expressivos é a possibilidade de firmar parcerias e comercializar espaços, isso definitivamente não seduz nosso entrevistado. “Já recebi propostas de perfume, cervejaria, roupas. Sempre neguei porque acredito que meu caráter, em relação à produção, seja público e gratuito. É minha contribuição para o desenvolvimento de uma sociedade democrática e que entenda sua origem e história. Sempre neguei a monetização em qualquer tipo de conteúdo que produzo, mas ganho outras parcerias, como o Senado. Já tive conteúdo exibido no Senado Federal, Ministério Público Federal, Igrejas, Terreiros de Candomblé... Isso dá uma inserção absolutamente fantástica e acho que esse resultado é o que mais me seduz, do ponto de vista da criação: a possibilidade de que o meio virtual possa se desdobrar para uma aliança real e concreta que impactará a vida de mais pessoas”, finaliza.

Michel continua isolado, na companhia da esposa e da filha. “Só saímos se for algo absolutamente necessário”. Uma dor no peito o assustou, ao ponto de realizar inúmeros exames, mas tudo sob controle e o risco cardíaco foi eliminado: foi um episódio de ansiedade. “A primeira coisa que espero fazer, assim que sair da pandemia, é encontrar meus amigos – pessoas que tiveram um papel virtual muito importante, mas que nada substitui o contato humano”.

Muitos vídeos e viralização em massa

O jornalista e deepfaker Bruno Sartori, 31, também observou um crescimento expressivo de seguidores em suas redes sociais, justificado por ele pelo aumento de produção conteúdo. Trabalhando há, aproximadamente, 16 anos com edição de vídeo (sendo dois deles dedicados ao deepfaker), Sartori percebeu que seu conteúdo começou a viralizar de 2019 para cá. “Na quarentena, fiquei em casa e produzi muito mais. Cheguei a ganhar 100 mil seguidores no instagram, que é uma rede que reúno 430 mil pessoas. Cem mil vieram na Pandemia”, detalha. O número surpreendeu e deixou Sartori muito feliz, “sinal de que o reconhecimento chega dessa forma”.

Viralizando no país inteiro com uma técnica, por assim dizer, chamada de deepfaker, Bruno é um crítico atento das ações e atitudes presidenciais e conta que sente, sim, as diferenças entre o público seguidor, dependendo da rede social.  “O [público do] Facebook é mais conservador. Já do instagram, são pessoas mais jovens. No Twitter, são pessoas de perfil mais profissional e jovens”.

Para dar voz e vida aos vídeos que, de tão perfeitos, chegam a parecer reais, Bruno roteiriza e conta com uma equipe de dubladores. “Do resto, faço tudo sozinho. Não existe um cronograma de postagem, nem elaboração de conteúdo: conforme vão surgindo as ideias, elas são realizadas e postadas”.

Quando perguntado se ele recebe muitas críticas, Sartori responde tranquilamente que recebe muitos ataques inbox. “Crítica é avaliação do seu trabalho, né? As pessoas costumam atacar com ofensas e ataques pessoais. Lido com isso da maneira que se deve lidar: com a Justiça. As pessoas são identificadas e devidamente processadas”. 

Para conhecer mais:

@epaminondasgustavo

@michelpinho

@brunnosattori

Troppo