Pets: mercado aquecido com novo integrante da família
O setor, um dos poucos que desconhecem a crise econômica no Brasil, está entre os maiores mercados do mundo... e a boa notícia é que ele não para de crescer
Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet) o Brasil é o segundo maior do mundo em população de aves canoras e ornamentais, além de cães e gatos, e é o terceiro maior do mundo em faturamento. Já o relatório da Euromonitor Internacional, empresa global de pesquisa e consultoria sobre o mercado de bens de consumo e serviços, mostra que só em 2018, o setor movimentou mais de R$ 20 bilhões, representando um aumento de quase 10%, em relação ao ano anterior.
E essa maré de bons negócios também foi sentida em Belém. Há 20 anos atuando e acompanhando de perto o mercado, o veterinário Márcio Henrique Carvalho aproveitou o aquecimento do setor para investir no próprio negócio. “Para ser empresário é necessário enfrentar muita burocracia e impostos. É preciso ter perseverança e resiliência. Agora, eu sei quanto custa cada agulha que eu uso, quanto custa um funcionário, o tempo de uma luz acesa”, diverte-se o proprietário de uma clínica veterinária em um movimentado endereço da capital paraense.
Ele trabalhou por vinte anos em uma clínica e conhece bem o comportamento do setor. “A procura tem sido grande. Antes, havia duas grandes opções em Belém, mas hoje o mercado pulverizou e com isso vários profissionais estão sobrevivendo com seus negócios em vários bairros da cidade”.
O veterinário comenta que o mercado atravessou a crise econômica do Brasil muito bem e isso tem dado novas oportunidades, como para ele, que está há quatro meses com a clínica. No entanto, para quem quer investir em um novo negócio, a recomendação é planejar e estudar. Antes de abrir a clínica, ele procurou cursos voltados para gestão de negócios e empreendedorismo, dentre outros. “Cada dia eu aprendo algo novo. A preparação é fundamental, não basta só ter ideia e dinheiro para investir. A informação é importante em qualquer negócio. Mas quem trabalha de forma correta e dedicação não fica sem trabalho, sempre haverá vaga para esse tipo de profissional”, analisa.
Expansão e diversificação para atender a demanda
Veterinário há oito anos, Vinicius do Carmo percebe bem a diferença no mercado. Há quatro anos que ele mantém uma clínica no bairro do Jurunas, mas relembra que começou com um consultório. No começo, só havia um funcionário, mas nos últimos anos foi necessário expandir e agora, a empresa conta com sete funcionários e 12 veterinários, prestadores de serviço. “O consumidor procura preço justo, qualidade no atendimento e na estrutura. Quando encontra isso tudo, sente confiança, volta e ainda recomenda”.
Devido ao aumento na procura, o empresário decidiu diversificar os negócios. Além de uma clínica, ele abriu uma boutique veterinária, onde os clientes encontram principalmente acessórios, rações e presentes para os pets.
Por outro lado, o veterinário Daniel Wanderley, apesar da curva ascendente, tem percebido uma estagnada. “Na verdade, há uns anos, apesar do aumento na demanda, nos momentos mais críticos, percebemos que as pessoas seguram um pouco o orçamento. Adequam para menos tosa e banho, por exemplo. Consomem menos, mais continuam consumindo”, afirma.
Formado há dez anos, Wanderley ressalta que os bons resultados no mercado de pets também podem ser resultado da mudança de comportamento dos donos. “As pessoas estão adotando mais e agora o animal não é mais visto apenas como mascote da família ou para a guarda. Ele passou a ser considerado como um membro da família, por isso procuram dar mais atenção, mais carinho. Buscam informação sobre alimentação de qualidade e mais brinquedos. Hoje, a preocupação é maior em prevenir do que em tratar doenças” exemplifica.
Além disso, ele destaca que a facilidade no acesso a informação, com a internet, também influenciou. “As pessoas encontram informação e serviço de qualidade mais rapidamente. Então, aumentou a preocupação com nutrição que é um dos pilares da saúde do animal. O dono pode encontrar alternativas, por exemplo, para uma alergia alimentar, pesquisar preços, etc. A tecnologia e ampliação de serviços proporcionou mais comodidade às famílias, com a disponibilidade de agendamento online, carros específicos para o transporte dos animais, uma variedade enorme de acessórios e produtos de boa qualidade e te todos os preços.
Para quem está no mercado ele indica que invista em comunicação e mais ainda em redes sociais, para que os trabalhos e serviços sejam divulgados. “Mas o principal ainda é ser competente e honesto com os clientes. Uma das obrigações do médico é ser claro com a família, para que entendam o tratamento, mas também que ela responsabilidade nos cuidados. Os criadores precisam entender a importância dos cuidados, como alimentação e vacinação em dia, para ter um bom resultado e manter a saúde do pet”, recomenda.
Rotina de cuidados para um amor incondicional
O Shih-Tzu Appa Sarutobi é desses clientes que aquece o mercado. Sua rotina de cuidados inclui shampoo, condicionador, óleo de coco para fazer hidratação, ligas para prender o pelo da cabeça e talco. “Em média, gasto por mês, uns 150 Reais com ração, tosas e banho, produtos higiênicos e Uber para levá-lo ao Pet Shop. Uma vez por ano, gasto 70 Reais com vacinas” comenta o estudante de jornalismo, Leandro Muller, que se considera pai do Appa. “Sem dúvida ele é um filho. Às vezes, deixo de comprar coisas para mim, para que nada falte a ele. O amor que sinto é algo que não consigo descrever, é verdadeiro! Em casa, ele é tratado com um bebê, minha mãe e meu padrasto tratam ele como um neto. Ele realmente é o bebê da casa”, afirma.
E cuidado paterno não falta mesmo, Leandro é do tipo que coloca o pet em primeiro lugar e não mede esforço para manter a saúde e bem-estar do caçula da família. “Ele veio de Santa Catarina, no período do verão e sofreu com o calor. Eu estava desempregado, apenas com dinheiro de poupança, que estava guardando para emergência e com a crise bem forte que ele teve, tivemos que tirar o dinheiro da poupança e parcelar o resto no cartão, com remédios, exames de sangue e consultas”, relembra.
Appa entrou na vida do universitário quando tinha 49 dias de vida, em junho de 2017, como presente do namorado. De lá para cá venceu até mesmo alguma resistência que tinha na família. “No começo, a minha mãe se preocupava com minha rotina corrida, de não poder dar atenção suficiente para ele, de não conseguir custear os gastos. Mas, hoje em dia, ela é bem mais tranquila referente a isso. Ela o trata como um neto e faz de tudo por ele”, comenta.
Leandro e Appa fazem parte de um grupo de criadores e de Shih-Tzu de Belém, que se encontra para festejar datas comemorativas, como Páscoa e Carnaval, além de arrecadar alimentos e outros produtos para doar para abrigos de animais carentes e abandonados. Ele também percebe que Belém está cada vez mais receptiva aos pets “A cidade oferece mais espaços e inclusão do que no Sul, de onde ele veio comigo. Os exemplos são as praças pets, em shopping Centers, onde podemos fazer encontros dos grupos e a festa de aniversário deles”, relata.
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