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Voadeiras elétricas abrem caminho para o transporte fluvial sustentável na Amazônia

Falta de fornecedores nacionais de componentes elétricos e de estrutura para carregamento são, no entanto, alguns entraves para viabilidade

Gabriel da Mota

A Amazônia, com sua vasta rede de rios e comunidades ribeirinhas e papel regulador no clima do planeta, possui grande potencial para eletrificação da malha hidroviária que a compõe. Em resposta a essa realidade, as primeiras voadeiras elétricas da região começaram a ser projetadas em 2022 e a viagem inaugural foi realizada em maio deste ano nas águas do rio Xingu, em Altamira, na região sudoeste paraense. Financiados pela Norte Energia e executados por pesquisadores da Faculdade de Engenharia Naval da Universidade Federal do Pará (UFPA), os protótipos Poraquê I e II visam substituir combustíveis fósseis por energia limpa, reduzindo a emissão de gases de efeito estufa e promovendo um transporte mais sustentável.

 

O professor Emannuel Loureiro, coordenador do projeto, destaca que a construção das voadeiras elétricas enfrentou desafios técnicos significativos, desde a inovação do projeto até a necessidade de atender às peculiaridades da região amazônica. “Foram quase dois anos de pesquisa e avanços até chegarmos ao estágio atual dos protótipos. Enfrentamos dificuldades, como a falta de fornecedores nacionais de equipamentos elétricos para embarcações e a necessidade de adaptar o projeto às grandes distâncias e correntezas dos rios amazônicos”, explica. 

image O coordenador do projeto que desenvolveu os protótipos de voadeiras elétricas, Emannuel Loureiro, na orla do Campus Belém da UFPA (Foto: Igor Mota | O Liberal)

A viagem inaugural das voadeiras elétricas no Rio Xingu foi um marco importante para o projeto. “Os testes foram satisfatórios, comprovando os parâmetros iniciais de autonomia, alcance e velocidade das embarcações”, destaca Loureiro. Os sistemas elétricos demonstraram confiabilidade e eficiência, proporcionando uma experiência de transporte fluvial mais sustentável e confortável para os usuários.

Desafios para implementação

Os próximos passos para a implementação dessa tecnologia em larga escala incluem testes com baterias de fornecedores nacionais em uma voadeira maior, de 10 metros, e o desenvolvimento de motores elétricos nacionais. O professor da UFPA vislumbra um futuro promissor, com a criação de um mercado de montadoras de equipamentos para propulsão elétrica na região. “Isso abriria caminho para um cenário tecnológico avançado e sustentável na Amazônia”, afirma.

Além dos benefícios ambientais, como a ausência de emissão de CO2 e a possibilidade de recarga com fontes fotovoltaicas, as voadeiras elétricas oferecem vantagens operacionais e econômicas. “As embarcações elétricas são mais baratas de operar e manter, além de proporcionarem uma experiência de transporte mais silenciosa e confortável”, ressalta Loureiro. Em regiões distantes, a recarga com paineis solares garante acesso ao transporte de forma mais barata e sustentável para a população carente.

image Poraquê I, um dos protótipos de voadeira elétrica navegando no rio Xingu, em Altamira (Foto: Helder Lana | Norte Energia)

No entanto, a implementação em larga escala dessa tecnologia ainda enfrenta obstáculos. A falta de fornecedores nacionais de componentes elétricos para embarcações e a necessidade de investimentos em pesquisa e tecnologia são barreiras que precisam ser superadas. “Também é crucial desenvolver uma infraestrutura de carregamento adequada e quebrar paradigmas relacionados à mobilidade elétrica na região”, apontou Loureiro.

Zbigniew Kozak, CEO de uma empresa privada que atua na fabricação de barcos elétricos em Manaus (AM), corrobora o que é dito pelo professor da UFPA.

“Estamos criando esse mercado, porque ele não existe. O retorno sobre o investimento ocorre em dois a três anos, após o qual os custos operacionais são significativamente menores. Estamos trabalhando em modelos de financiamento para tornar essa tecnologia mais acessível aos ribeirinhos”, explica. 

Uso de energia solar

Kozak destaca que a utilização de energia renovável pode reduzir os custos operacionais em até 90% em comparação com combustíveis fósseis. “Hoje em dia, o ribeirinho gasta metade da renda com combustível. A energia solar, além de ser limpa, diminui a poluição do ar e os problemas de saúde associados à emissão de gases e ruídos dos motores tradicionais”, afirma.

Além disso, a empresa está trabalhando no desenvolvimento de uma rabeta elétrica, e pretende expandir seus serviços até a capital paraense. “Estamos lançando um barco solar para transporte de passageiros em Manaus, e a expectativa é que possamos levar essa inovação para Belém em breve, contribuindo para o ecossistema de startups e negócios sustentáveis”, finaliza.

 

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