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Setores apostam na rastreabilidade para aumentar competitividade e reduzir impacto ambiental

Tecnologia garante produtos com qualidade e produção sustentável. A rastreabilidade permite que os compradores saibam de onde vem a matéria-prima.

Elisa Vaz

Identificar o histórico de um produto desde sua origem até chegar às mãos dos consumidores é fundamental para garantir a transparência e a sustentabilidade na cadeia produtiva. A rastreabilidade, uma tecnologia amplamente adotada pela indústria, permite não apenas rastrear a jornada da matéria-prima, mas também otimizar a produção em diversos setores, como carne bovina, madeira e grãos, aumentando a confiança dos consumidores e contribuindo para a redução de atividades como o desmatamento ilegal.

Trata-se de um mecanismo para identificar o caminho percorrido por cada produto desde sua extração, passando pelo processamento e beneficiamento até o destino final, que pode ser o mercado doméstico ou a exportação. No caso do setor madeireiro, as etapas são várias. O presidente da Associação das Indústrias Exportadoras de Madeira do Estado do Pará (Aimex), Deryck Martins, explica que a produção começa nas áreas de florestas nativas tropicais, públicas ou privadas, em projetos de manejo florestal sustentável regularizados e licenciados por órgãos competentes.

“Quando é feito um projeto de manejo florestal, ele é realizado por meio de atividades pré-exploratórias, exploratórias e pós-exploratórias. Nas atividades pré-exploratórias existe algo que é fundamental para esse rastreio, que se chama inventário florestal - a quantificação e qualificação de todas aquelas árvores que estarão no projeto de manejo. Dentro dessa área é feito um inventário de 100%, mas é selecionado para corte cerca de cinco a sete árvores apenas por hectare, são árvores maduras que serão retiradas daquela floresta. E cada árvore dessa recebe uma plaquinha que tem um código de rastreio”, explica ele, que é também presidente do Conselho de Meio Ambiente da Federação das Indústrias do Pará (Fiepa).

Procedência

Esse código de rastreio contém informações da localização dessas árvores, assim como da espécie que está sendo inventariada, portanto, nesse processo, é definido o diâmetro, a altura e a espécie, para garantir que aquilo que está saindo também está permanecendo na floresta. “Esse número de rastreio vai seguir a árvore, que já não é mais uma árvore, são toras de madeira, durante todo o percurso. Você, a qualquer momento, pode identificar o número dela e saber se ela pertence a um projeto de manejo florestal, sua localidade, qual era a espécie e todas as etapas”, declara.

Após o processamento, que transforma as toras em blocos quadrados de madeira, há o beneficiamento, que transforma a madeira em piso, móveis ou portas, por exemplo. O número de rastreio permanece linkado a esses produtos. O consumidor final pode, inclusive, ter acesso a esse código, disponibilizado, geralmente, por meio de QR Code, seja em mesas, bancos ou outros itens que têm madeira em sua composição. De acordo com Deryck, essa rastreabilidade é fundamental para garantir que aquela madeira veio de uma área regularizada e não, por exemplo, de um local que sofreu desmatamento. “A tecnologia vai te dar um conjunto de informações para garantir que, realmente, aquela madeira tem origem sustentável”, afirma.

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O maior desafio do setor, para o presidente da Aimex, é combater a desinformação. Ele diz que grande parte da sociedade prioriza preço e qualidade em um produto, à frente da origem, sendo que a maior preocupação deveria ser em relação à regularidade daquela atividade. Ao comprar uma madeira sem procedência adequada, o consumidor opta pelo “barato que sai caro”, diz. “Muitas vezes essa madeira não teve um tratamento adequado, não foi feita uma secagem em estufa. Com o tempo, você percebe que é uma porta, por exemplo, que vai empenar”.

E para o setor, economicamente falando, a rastreabilidade aumenta a competitividade de forma a impulsionar o negócio. A Aimex oferece a todos os seus associados uma tecnologia chamada Verificação da Transparência de Origem (VTO), que verifica toda a documentação apresentada e utiliza imagens de satélite de alta resolução para identificar se, no momento da exploração e na execução do manejo florestal, realmente foram respeitados os prazos, se houve desmatamento no entorno da área, se o caminho que ela deveria ter perseguido realmente foi cumprido”, pontua. Isso, segundo Deryck, aumenta a segurança do consumidor e de quem está comprando a madeira no mercado externo.

Pecuária

No setor da pecuária, o Pará também está alinhado às políticas nacionais de defesa e de inspeção agropecuárias que visam à saúde dos animais e das pessoas pela garantia da integridade dos produtos, promoção da segurança alimentar, proteção do consumidor e acesso aos mercados. É o que diz o presidente da União Nacional da Indústria e Empresas da Carne (Uniec), Francisco Victer.

Até então, de acordo com ele, o processo de rastreabilidade bovídea no Pará é baseado na emissão da Guia de Trânsito Animal (GTA). Ou seja, toda e qualquer movimentação do gado somente pode ocorrer acompanhada dessa guia, que é um documento federal e traz as informações sobre o produtor, propriedade, localização, quantidade e faixa etária dos animais, possíveis vacinações, dentre outras.

“Apesar de ser declaratória, as GTAs precisam ser validadas pela autoridade sanitária estadual, no nosso caso a Agência Estadual de Defesa Agropecuária (Adepará). Ela tem o registro de todo o deslocamento do gado, seja para engorda, abate, quarentena e outras finalidades, permitindo rastrear a origem e o destino, em caso da ocorrência de um evento sanitário. Além de tudo isso, no final do ano passado, o Pará assumiu o compromisso de ampliar essa rastreabilidade também no plano socioambiental. Neste momento um Conselho Gestor está discutindo o melhor formato desta tecnologia ser ampliada”, adianta.

Benefícios

O principal benefício da rastreabilidade no segmento, segundo o representante, é os consumidores saberem toda a trajetória do produto que compram e consomem, que ele considera um direito. Dessa forma, a tecnologia proporciona informações que atestem a qualidade e integridade dos produtos, necessárias à tomada de decisão do consumidor. “Ao mesmo tempo, constitui-se em um diferencial importante para a manutenção dos atuais mercados e conquista de novos, com uma maior valorização dos produtos, refletindo em lucratividade para toda a cadeia produtiva e para a sociedade em geral”, destaca Victer.

Há ainda os benefícios voltados à sustentabilidade da produção de carne no Estado, além de haver uma separação entre o “joio e o trigo”. Os produtores regulares terão acesso aos melhores canais de comercialização e opções de melhores preços. Já aos produtores irregulares sobrará o mercado marginal clandestino com aviltamento dos preços.

“Essa é uma das maiores preocupações de todos nós: como o processo não ser excludente e incentivar a informalidade. Sobre isso, o governo assumiu que vai oportunizar a regularização fundiária e ambiental, sobretudo das pequenas propriedades, e fomentar a rastreabilidade, subsidiando com a doação de brincos de identificação dos animais. Assim, será possível garantir a boa procedência da matéria-prima e o cumprimento das normas ambientais, tornando a produção de carne no Estado muito mais sustentável”, garante.

A logística do Estado é um dos maiores desafios atuais, mas o mais perceptível, para Francisco, é a desigualdade socioeconômica e tecnológica entre os produtores. Embora a rastreabilidade seja uma ferramenta de gestão do negócio, muitas regiões e propriedades com pecuária ainda não contam com pessoal capacitado e outros recursos necessários para este processo.A rastreabilidade, no entanto, é apenas uma ferramenta de gestão. Se bem utilizada, diz o especialista, vai induzir à qualificação da produção de carne no Pará.

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