Novas ferramentas transformam a rotina de arquitetos e designers no Pará; veja quais
Profissionais destacam impacto das tecnologias na otimização de projetos, eficiência energética e experiência dos clientes.

O uso de softwares de modelagem, inteligência artificial e ferramentas de realidade aumentada tem transformado a forma como arquitetos e designers projetam e executam obras no Pará. A digitalização trouxe mais precisão, eficiência e novas possibilidades para os profissionais, que passaram a incorporar essas tecnologias na rotina dos escritórios.
Além da modernização das ferramentas, o setor também sente os impactos de outras mudanças estruturais, como a relação entre mercado financeiro e mercado imobiliário, que aumentou o ritmo de crescimento urbano e influenciou a dinâmica dos projetos. No entanto, a incorporação das novas tecnologias ainda acontece de maneira desigual.
“Embora nossos canteiros de obra ainda resistam a mudar tão rápido quanto o avanço da tecnologia, os escritórios de projeto a assimilam com mais rapidez, contribuindo para uma atuação mais eficiente, rápida e conectada à realidade do local projetado”, avalia Jayana Mota, mestre em arquitetura e urbanismo pela UFPA e conselheira do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Pará (CAU-PA).
Digitalização e softwares mudam a forma de projetar
Nos escritórios, a transição da prancheta para as telas trouxe não apenas mais precisão aos projetos, mas também novos desafios. A necessidade de adaptação a diferentes ferramentas digitais se tornou parte do trabalho dos arquitetos, que agora lidam com um volume maior de dados e novas possibilidades de visualização dos espaços.
“Desde o levantamento do local até a entrega do projeto, diversas ferramentas auxiliam no processo. Drones ajudam na captura de imagens, aplicativos facilitam levantamentos físicos e organização de acervos fotográficos, e softwares aceleram a produção técnica, a geração de imagens e até a elaboração de planilhas orçamentárias detalhadas”, explica Jayana.
Entre as inovações que mais impactaram o setor está o BIM (Building Information Modeling), ferramenta que permite criar modelos digitais detalhados das construções e prever problemas antes da execução da obra. “O BIM possibilita a gestão eficiente do projeto, desde o planejamento até a execução. A capacidade de criar modelos digitais em 3D, simulando toda a construção, ajuda a prever problemas, otimizar recursos e reduzir custos”, afirma Eduardo Borges, designer de interiores e sócio de um escritório de arquitetura e design em Belém.
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Além de otimizar a execução das obras, a ferramenta permite integrar diferentes áreas envolvidas no projeto. “O BIM facilita a colaboração entre arquitetos, engenheiros e designers. Em um projeto recente, usamos essa tecnologia para garantir uma boa ventilação natural, reduzindo a necessidade de climatização artificial. Isso só foi possível porque conseguimos testar soluções antes da execução”, explica Borges.
Sustentabilidade impulsiona novas tecnologias
A eficiência energética também se tornou um fator essencial nos projetos, especialmente em cidades como Belém, onde o clima quente e úmido influencia diretamente as escolhas arquitetônicas. Segundo Borges, as simulações energéticas passaram a ser parte fundamental do planejamento.
“A análise do desempenho térmico dos edifícios, por meio de softwares específicos, permite criar projetos mais sustentáveis e adaptados ao clima local. Em Belém, esse tipo de estudo é crucial para otimizar o uso de recursos naturais, como ventilação cruzada e iluminação natural, reduzindo a necessidade de sistemas de climatização artificial”, afirma.
As simulações permitem testar soluções antes da construção, garantindo que o projeto seja eficiente sem depender exclusivamente de equipamentos elétricos para climatização. “A tendência é que cada vez mais as edificações sejam pensadas para reduzir o consumo de energia. O que antes era um diferencial, agora está se tornando uma exigência do mercado”, observa Borges.
IA entra no setor, mas uso ainda é limitado
A inteligência artificial começou a ser incorporada ao setor, mas ainda de forma controlada. Em vez de substituir o trabalho criativo, as ferramentas são aplicadas para otimizar tarefas específicas, como a criação de imagens conceituais e a automação de ajustes visuais.
“Optamos por utilizar ferramentas de IA que nos auxiliam a gerar imagens de ‘mood boards’ ou ‘conceitual boards’ e aprimorar croquis manuais. Isso torna a expressão visual de uma ideia mais rápida, mas não substitui o processo criativo. Cada comando exige conhecimento da ferramenta para que o resultado seja útil”, explica Jayana.
A arquiteta também destaca que o uso da IA ainda gera debates sobre direitos autorais e ética na arquitetura. “É necessário conhecer bem essas tecnologias para evitar problemas relacionados a plágio e uso de banco de dados sem autorização. Por isso, nossa abordagem é cautelosa”, acrescenta.
Realidade virtual melhora experiência do cliente
A possibilidade de visualizar um projeto antes da construção tem levado escritórios a investirem em realidade virtual e realidade aumentada. Com essas tecnologias, os clientes podem “entrar” nos ambientes e fazer ajustes antes mesmo da obra começar.
“A realidade virtual permite que os clientes visualizem o espaço planejado com mais clareza. Isso facilita a comunicação e evita alterações de última hora, que poderiam gerar custos extras”, explica Borges.
O uso dessas ferramentas também melhora a experiência do cliente, tornando o processo mais interativo. “As decisões são tomadas com mais segurança, porque o cliente consegue visualizar diferentes opções antes da execução. Isso traz mais confiança para quem está investindo em um projeto arquitetônico”, observa.
Organização digital se torna diferencial competitivo
Além das inovações tecnológicas voltadas para a criação dos projetos, a digitalização também impactou a gestão dos escritórios de arquitetura. Segundo Jayana, um dos maiores desafios do setor ainda é a organização interna e o controle das informações.
“Não adianta dominar todos os softwares técnicos se a empresa não tiver um padrão de produção. Para que o escritório funcione de maneira eficiente e rentável, é essencial investir em organização”, afirma.
A arquiteta defende o uso de softwares de ERP (Enterprise Resource Planning), que centralizam a gestão dos projetos e agilizam o fluxo de trabalho. “Depois que adotamos um ERP, conseguimos organizar melhor as atividades, e a produção técnica passou a ser mais eficiente e saudável para a equipe”, destaca.
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